Em 2016 Araucária registrou 10 óbitos por HIV

Fonte: SMSA/DVE/SINAN. *Notificação obrigatória a partir de Jun./14.
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Em 2016 Araucária registrou 10 óbitos por HIV
Wilson e Raquel se conheceram durante um encontro para pacientes com HIV

 

Números recentes divulgados pela Secretaria de Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (Sesa) mostram que entre os anos de 2010 a 2016, os casos de HIV aumentaram 351%. Há seis anos, 672 pacientes foram diagnosticados com o vírus, e somente no último ano, foram 2.361. Em Araucária os números não são diferentes. Segundo o departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, somente no ano de 2016 foram registrados 49 novos casos de HIV, sendo 29 homens e 20 mulheres. Destes, 7 homens e 4 mulheres estão com a doença ativa. Em 2015 foram 68 novos casos, sendo 44 homens (9 com doença ativa) e 24 mulheres (12 com doença ativa).

Quanto aos óbitos registrados em 2016, os dados são ainda mais preocupantes, pois de acordo com a Vigilância Epidemiologia, do total de 711 mortes registradas no Município, 10 estavam relacionadas à HIV/AIDS. Conforme dados do SOA – Serviço de Orientação às DST/HIV/AIDS de Araucária, neste ano já foram registrados quatro óbitos de pacientes com AIDS, sendo dois com diagnóstico tardio. Os dados não são oficiais.

O serviço acompanha atualmente 346 pacientes oferecendo consulta médica, exames de controle da infecção e distribuição do antirretroviral. “A maior incidência de casos é entre pacientes do sexo masculino e a faixa etária mais atingida é entre 24 e 39 anos. Porém, já tivemos diagnóstico em um adolescente de 16 anos e idosos de 70 anos”, explica a enfermeira coordenadora do SOA, Cleonice Aparecida de Oliveira.

Segundo ela, o tratamento básico é a administração diária dos medicamentos antirretrovirais, por via oral, além do monitoramento com exames periódicos. “Os pacientes com boa adesão ao tratamento e exames que estejam estabilizados realizam carga viral a cada seis meses ou em menos tempo quando na falha de tratamento ou indicação clínica”, explica.

Diagnóstico tardio

Uma das principais causas que tem levado vários pacientes a óbito é o diagnóstico tardio, pois muitos estão chegando aos serviços já com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), não dando tempo para resposta terapêutica. “As PVHA (pessoas vivendo com HIV/Aids) são orientadas em todas as consultas, coletas e retirada do ARV (antirretroviral). O SOA também está com programação de retomar com o grupo de adesão em setembro deste ano. Os exames são gratuitos, sigilosos, não necessitam jejum ou encaminhamento médico. Necessário somente documento com foto para laudo. Quando do diagnóstico positivo, o serviço acolhe para tratamento/acolhimento, com apoio psicológico e ajuda para comunicação e testagem do(s) parceiro(s)”, esclarece Cleonice.

O SOA realiza ainda campanhas com testagem rápida e palestras em terminais rodoviários, eventos públicos e empresas. O teste rápido pode ser realizado nas unidades básicas de saúde e no próprio SOA, de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas. O serviço fica no Complexo do NIS III, na Rua Guilherme da Mota Correia, 55, Centro, fone 0800 643 4125.

Casos de HIV e AIDS de residentes em Araucária registrados entre os anos de 2013 e 2016

Em 2016 Araucária registrou 10 óbitos por HIV
Fonte: SMSA/DVE/SINAN. *Notificação obrigatória a partir de Jun./14.

Soropositivos contam como é conviver com o HIV

Em 2016 Araucária registrou 10 óbitos por HIV
Jean aprendeu a conviver com as limitações impostas pela doença e segue à risca o tratamento

Jean Patrick da Silva, 29 anos, tinha apenas 15 anos quando iniciou sua vida sexual, e não demorou muito para descobrir que era portador do vírus HIV. Desde então, sua rotina mudou, ele precisou diminuir as saídas para as baladas porque a medicação usada durante o tratamento provoca várias mudanças no organismo. “Os remédios causam depressão, mexem muito com nosso metabolismo. Não posso me expor muito ao frio e à chuva, porque se estiver com a imunidade baixa, posso pegar alguma doença oportunista”, relata o jovem, lembrando que foi justamente durante uma gripe com dores de garganta e no estômago que o médico sugeriu que fizesse o teste de HIV, e o resultado foi positivo.

“Levo uma vida normal, mas preciso seguir algumas restrições como me alimentar nas horas certas, comer muitas frutas e verduras, beber muita água, tudo para manter minha imunidade alta. Devo evitar gorduras, pois elas podem interferir no efeito do remédio no organismo”, conta.

Jean é filho de pais separados, mas apesar de a mãe ter relutado um pouco para aceitar a doença do filho, hoje é sua grande apoiadora. “Ela ainda não gosta de conversar muito sobre isso, mas é porque não quer me ver sofrer”, diz. “hoje Jean é um dos pacientes do SOA que estão com a doença estabilizada, isso porque leva o tratamento bastante a sério. “Há 14 anos tomo a mesma medicação, somente três remédios por dia, o vírus está encubado, mas isso porque me cuido bem. Hoje o meu conselho é que, ao descobrir a doença, a pessoa faça o tratamento sem interrupção, pois se desistir no meio do caminho, o vírus cria resistência e a medicação anterior não faz mais efeito”, aconselha.

Quanto ao preconceito, Jean, que é homossexual, já convive bem com isso. “È claro que já perdi alguns relacionamentos quando contei que era portador de HIV, mas sigo de cabeça erguida e espero encontrar um companheiro que me aceite do jeito que sou”, pontuou.

B., de apenas 16 anos, é o paciente mais jovem atendido pelo SOA. Ele descobriu a doença há cerca de seis meses, quando começou a sentir fortes dores com manchas e feridas pelo corpo. “Foi aí que um amigo me levou ao médico e este sugeriu o teste. Deu soropositivo. Comecei a ir ao médico sozinho, porque não queria falar com ninguém da minha família. Só conversava com meu amigo, mas logo precisei contar para os meus familiares e a primeira foi minha mãe. A Cleonice do SOA me ajudou muito. Fez uma cartinha pedindo para minha mãe comparecer no médico e chegando lá, ela pediu para minha mãe entrar sozinha na sala, dizendo que precisava conversar. Então contou tudo, até minha homossexualidade. Minha mãe foi bem tranquila e começou a correr atrás de tudo comigo, me apoiando bastante”, relatou o jovem.

Ele não sabe dizer com precisão quando contraiu o vírus, pois não costumava sair muito de casa e não fazia sexo sem camisinha. “O problema é quando descobri o vírus, já estava muito forte, espalhado, então devo ter pego isso quando tinha entre 12 e 15 anos. Pode ter sido de lixo ou algo infectado, pois quando eu era mais novo tomava muita injeção por causa das frequentes dores de garganta. Agora o vírus já está controlado, os remédios fizeram efeito e deu tudo certo”.

Após receber o diagnóstico, B. conta que precisou mudar algumas coisas na sua vida, pois agora sabe que tem que se cuidar bem mais, comendo mais frutas, verduras, evitando alguns excessos. “Só posso dizer a estas pessoas que acabaram de receber o diagnóstico que é possível levar uma vida normal, desde que siga corretamente o tratamento. É fundamental também, dividir o problema com a família. Hoje minha mãe, meu irmão e meu namorado estão do meu lado. Meu pai não me ajuda, ele não liga muito pra isso”.

A história do casal Wilson, 51 anos, e Raquel, 54, ambos portadores do vírus HIV, é bastante complicada. Os dois se conheceram durante uma reunião de pacientes com HIV, em Curitiba. Ele descobriu a doença há 30 anos e ela há 10 anos. Wilson, que diz ter sido um dos primeiros pacientes soropositivos de Araucária, conta que contraiu a doença quando morava na rua, em Itajaí, e cuidava de carros.

“Naquele tempo eu tinha muitas aventuras amorosas e foi justamente em uma delas que peguei a doença. Um dia fiquei muito doente e o médico sugeriu que eu fizesse o teste, me pediram pra retornar, provavelmente por ter dado positivo, e eu nunca mais apareci. Após cinco anos vim morar em Araucária e como não andava muito bem de saúde, decidi fazer o teste de novo. Foi então que recebi o resultado e comecei a me tratar em Curitiba, pois aqui não existia um departamento específico que cuidasse de pacientes soropositivos”, relembra.

Raquel também contraiu a doença em um relacionamento amoroso e sempre fez o tratamento em Araucária. Para ela foi mais difícil conviver com a doença, tanto que chegou a entrar em depressão. Hoje ela faz o tratamento correto e, assim como o marido, está com a carga viral estabilizada. “Ainda sofremos preconceito de algumas pessoas, mas hoje lidamos bem melhor com tudo isso. E é importante sempre dividir o problema com alguém, pois se ficarmos calados, sofreremos sozinhos e corremos um sério risco de entrar em depressão. A AIDS, se for bem controlada, não é um bicho de sete cabeças”, afirma.

 

Texto: Maurenn Bernardo / Foto: Marco Charneski e divulgação

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