
Números recentes divulgados pela Secretaria de Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (Sesa) mostram que entre os anos de 2010 a 2016, os casos de HIV aumentaram 351%. Há seis anos, 672 pacientes foram diagnosticados com o vírus, e somente no último ano, foram 2.361. Em Araucária os números não são diferentes. Segundo o departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, somente no ano de 2016 foram registrados 49 novos casos de HIV, sendo 29 homens e 20 mulheres. Destes, 7 homens e 4 mulheres estão com a doença ativa. Em 2015 foram 68 novos casos, sendo 44 homens (9 com doença ativa) e 24 mulheres (12 com doença ativa).
Quanto aos óbitos registrados em 2016, os dados são ainda mais preocupantes, pois de acordo com a Vigilância Epidemiologia, do total de 711 mortes registradas no Município, 10 estavam relacionadas à HIV/AIDS. Conforme dados do SOA – Serviço de Orientação às DST/HIV/AIDS de Araucária, neste ano já foram registrados quatro óbitos de pacientes com AIDS, sendo dois com diagnóstico tardio. Os dados não são oficiais.
O serviço acompanha atualmente 346 pacientes oferecendo consulta médica, exames de controle da infecção e distribuição do antirretroviral. “A maior incidência de casos é entre pacientes do sexo masculino e a faixa etária mais atingida é entre 24 e 39 anos. Porém, já tivemos diagnóstico em um adolescente de 16 anos e idosos de 70 anos”, explica a enfermeira coordenadora do SOA, Cleonice Aparecida de Oliveira.
Segundo ela, o tratamento básico é a administração diária dos medicamentos antirretrovirais, por via oral, além do monitoramento com exames periódicos. “Os pacientes com boa adesão ao tratamento e exames que estejam estabilizados realizam carga viral a cada seis meses ou em menos tempo quando na falha de tratamento ou indicação clínica”, explica.
Diagnóstico tardio
Uma das principais causas que tem levado vários pacientes a óbito é o diagnóstico tardio, pois muitos estão chegando aos serviços já com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), não dando tempo para resposta terapêutica. “As PVHA (pessoas vivendo com HIV/Aids) são orientadas em todas as consultas, coletas e retirada do ARV (antirretroviral). O SOA também está com programação de retomar com o grupo de adesão em setembro deste ano. Os exames são gratuitos, sigilosos, não necessitam jejum ou encaminhamento médico. Necessário somente documento com foto para laudo. Quando do diagnóstico positivo, o serviço acolhe para tratamento/acolhimento, com apoio psicológico e ajuda para comunicação e testagem do(s) parceiro(s)”, esclarece Cleonice.
O SOA realiza ainda campanhas com testagem rápida e palestras em terminais rodoviários, eventos públicos e empresas. O teste rápido pode ser realizado nas unidades básicas de saúde e no próprio SOA, de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas. O serviço fica no Complexo do NIS III, na Rua Guilherme da Mota Correia, 55, Centro, fone 0800 643 4125.
Casos de HIV e AIDS de residentes em Araucária registrados entre os anos de 2013 e 2016

Soropositivos contam como é conviver com o HIV

Jean Patrick da Silva, 29 anos, tinha apenas 15 anos quando iniciou sua vida sexual, e não demorou muito para descobrir que era portador do vírus HIV. Desde então, sua rotina mudou, ele precisou diminuir as saídas para as baladas porque a medicação usada durante o tratamento provoca várias mudanças no organismo. “Os remédios causam depressão, mexem muito com nosso metabolismo. Não posso me expor muito ao frio e à chuva, porque se estiver com a imunidade baixa, posso pegar alguma doença oportunista”, relata o jovem, lembrando que foi justamente durante uma gripe com dores de garganta e no estômago que o médico sugeriu que fizesse o teste de HIV, e o resultado foi positivo.
“Levo uma vida normal, mas preciso seguir algumas restrições como me alimentar nas horas certas, comer muitas frutas e verduras, beber muita água, tudo para manter minha imunidade alta. Devo evitar gorduras, pois elas podem interferir no efeito do remédio no organismo”, conta.
Jean é filho de pais separados, mas apesar de a mãe ter relutado um pouco para aceitar a doença do filho, hoje é sua grande apoiadora. “Ela ainda não gosta de conversar muito sobre isso, mas é porque não quer me ver sofrer”, diz. “hoje Jean é um dos pacientes do SOA que estão com a doença estabilizada, isso porque leva o tratamento bastante a sério. “Há 14 anos tomo a mesma medicação, somente três remédios por dia, o vírus está encubado, mas isso porque me cuido bem. Hoje o meu conselho é que, ao descobrir a doença, a pessoa faça o tratamento sem interrupção, pois se desistir no meio do caminho, o vírus cria resistência e a medicação anterior não faz mais efeito”, aconselha.
Quanto ao preconceito, Jean, que é homossexual, já convive bem com isso. “È claro que já perdi alguns relacionamentos quando contei que era portador de HIV, mas sigo de cabeça erguida e espero encontrar um companheiro que me aceite do jeito que sou”, pontuou.
B., de apenas 16 anos, é o paciente mais jovem atendido pelo SOA. Ele descobriu a doença há cerca de seis meses, quando começou a sentir fortes dores com manchas e feridas pelo corpo. “Foi aí que um amigo me levou ao médico e este sugeriu o teste. Deu soropositivo. Comecei a ir ao médico sozinho, porque não queria falar com ninguém da minha família. Só conversava com meu amigo, mas logo precisei contar para os meus familiares e a primeira foi minha mãe. A Cleonice do SOA me ajudou muito. Fez uma cartinha pedindo para minha mãe comparecer no médico e chegando lá, ela pediu para minha mãe entrar sozinha na sala, dizendo que precisava conversar. Então contou tudo, até minha homossexualidade. Minha mãe foi bem tranquila e começou a correr atrás de tudo comigo, me apoiando bastante”, relatou o jovem.
Ele não sabe dizer com precisão quando contraiu o vírus, pois não costumava sair muito de casa e não fazia sexo sem camisinha. “O problema é quando descobri o vírus, já estava muito forte, espalhado, então devo ter pego isso quando tinha entre 12 e 15 anos. Pode ter sido de lixo ou algo infectado, pois quando eu era mais novo tomava muita injeção por causa das frequentes dores de garganta. Agora o vírus já está controlado, os remédios fizeram efeito e deu tudo certo”.
Após receber o diagnóstico, B. conta que precisou mudar algumas coisas na sua vida, pois agora sabe que tem que se cuidar bem mais, comendo mais frutas, verduras, evitando alguns excessos. “Só posso dizer a estas pessoas que acabaram de receber o diagnóstico que é possível levar uma vida normal, desde que siga corretamente o tratamento. É fundamental também, dividir o problema com a família. Hoje minha mãe, meu irmão e meu namorado estão do meu lado. Meu pai não me ajuda, ele não liga muito pra isso”.
A história do casal Wilson, 51 anos, e Raquel, 54, ambos portadores do vírus HIV, é bastante complicada. Os dois se conheceram durante uma reunião de pacientes com HIV, em Curitiba. Ele descobriu a doença há 30 anos e ela há 10 anos. Wilson, que diz ter sido um dos primeiros pacientes soropositivos de Araucária, conta que contraiu a doença quando morava na rua, em Itajaí, e cuidava de carros.
“Naquele tempo eu tinha muitas aventuras amorosas e foi justamente em uma delas que peguei a doença. Um dia fiquei muito doente e o médico sugeriu que eu fizesse o teste, me pediram pra retornar, provavelmente por ter dado positivo, e eu nunca mais apareci. Após cinco anos vim morar em Araucária e como não andava muito bem de saúde, decidi fazer o teste de novo. Foi então que recebi o resultado e comecei a me tratar em Curitiba, pois aqui não existia um departamento específico que cuidasse de pacientes soropositivos”, relembra.
Raquel também contraiu a doença em um relacionamento amoroso e sempre fez o tratamento em Araucária. Para ela foi mais difícil conviver com a doença, tanto que chegou a entrar em depressão. Hoje ela faz o tratamento correto e, assim como o marido, está com a carga viral estabilizada. “Ainda sofremos preconceito de algumas pessoas, mas hoje lidamos bem melhor com tudo isso. E é importante sempre dividir o problema com alguém, pois se ficarmos calados, sofreremos sozinhos e corremos um sério risco de entrar em depressão. A AIDS, se for bem controlada, não é um bicho de sete cabeças”, afirma.
Texto: Maurenn Bernardo / Foto: Marco Charneski e divulgação