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Evandro Leão: Abandono Paterno — Pensão na Alma
Foto: Divulgação

Eu era muito pequeno quando meu pai foi embora — tinha entre quatro e cinco anos. Nessa idade, ele era o meu super-herói. Não por ter poderes sobre-humanos, mas porque tinha a habilidade de me fazer sorrir, de me ensinar a pedalar mesmo quando o medo insistia em dizer que eu cairia, e de festejar comigo quando finalmente deixei as rodinhas extras e conquistei velocidade nas ruas. Eu não fazia ideia de que, um dia, aquele homem poderia se transformar, aos olhos da minha mãe, na versão de um vilão.

Depois que ele partiu, cresci ouvindo frases como: “Seu pai não presta”, “Seu pai não paga a pensão”, “Você tem até o jeito sonso de caminhar dele”. Na infância, eu não conhecia o termo alienação parental—a manipulação da imagem de um dos pais para que a criança tome partido em uma disputa. Mas os efeitos dessa influência senti ao longo da vida. As datas comemorativas eram as piores, principalmente o Dia dos Pais. Quando precisávamos fazer cartões na escola, eu não tinha para quem entregar. Na saída da sala de aula, jogava o meu no lixo e ia embora apenas com um vazio interior.

Houve momentos em que evitei até lembrar da existência dele, porque tanto ódio foi semeado em mim que minha mente fugia da imagem para não reconhecer o vínculo. No fim, o verdadeiro preço da pensão foi pago por mim.

As consequências da ausência do pai são devastadoras para a construção da identidade do adulto. Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, explica que a presença paterna traz direcionamento, movimento para o mundo e segurança—como o simples ato de ensinar a andar de bicicleta. Sem essa referência, a pessoa pode crescer com dificuldades para se afirmar, ser inconstante e ter medo de confiar no outro. No campo afetivo, pode desenvolver ciúmes excessivos ou carregar um medo persistente do abandono.

Eu me tornei o “bonzinho”. O aluno exemplar, o filho modelo. Mas dentro de mim havia uma enorme dificuldade em confrontar e impor limites quando necessário. Isso mudou quando, aos 30 anos, decidi buscar meu pai. Senti que precisava fechar essa lacuna.

Quando o encontrei, me deparei com uma família numerosa e uma vida de simplicidade absoluta. A conversa inicial foi difícil. Havia revolta dentro de mim. Mas, ao me colocar na posição de adulto, compreendi sua versão da história. Ele admitiu que a vergonha da sua condição financeira o impediu de se aproximar.

Decidi, então, abrir meu coração e permitir que ele voltasse para minha vida. Para minha surpresa, percebi que ele ainda sabia me fazer rir. Seu bom humor continuava ímpar. Ele havia se convertido à fé cristã e me disse que, por anos, pediu a Deus que o reaproximasse do filho.

Hoje, temos um relacionamento leve, de amizade. Quando preciso de um conselho, o busco. Não para confrontar minha mãe—eu a amo profundamente—, mas para abandonar uma guerra que nunca foi minha. Às vezes, ele me diz: “Filho, queria ter dinheiro para te ajudar”. E eu respondo: “Pai, a riqueza que recebo do senhor são nossas conversas e a oportunidade de dividir contigo esta vida”.

Nem sempre nossos pais nos dão aquilo que gostaríamos. Mas dentro deles também há crianças feridas. Em alguns casos, a reaproximação pode ser inviável ou até insalubre, especialmente quando há um histórico de violência. No entanto, se houver uma chance, meu convite é: abandone as guerras que não são suas. Recomece. A vida não se restringe ao que passou — ela nos convida a desenhar novas histórias.

Esse processo me tornou um homem mais forte, mais posicionado e, acima de tudo, orgulhoso dos meus pais. Honro os dois.

Desejo que você encontre suas curas familiares. Se precisar de ajuda para dar o primeiro passo, me chama pelo WhatsApp: (41) 99861-2815. E me siga no Instagram/TikTok @tarodafortuna.

Edição n.º 1451.

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