Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19

Foto: Freepik
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A atuação do fisioterapeuta no combate a Covid-19 é tão relevante quanto a dos demais profissionais que estão na chamada linha de frente nessa pandemia da Covid 19. A primeira e mais importante função do fisioterapeuta é a prevenção. Como todo profissional de saúde, ele também orienta e treina a população quanto aos cuidados básicos de higiene e uso de EPIs, por exemplo. Cuidados que são levados à risca não apenas no Centro Especial de Combate ao Coronavírus – CECC Sandra Maria Aparecida Ribeiro, mas nos demais serviços de atendimento fisioterapêutico do município.

Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19
Doutor Julio Celestino Pedron Romani é o responsável técnico pelo serviço de fisioterapia do CECC

Segundo o doutor Julio Celestino Pedron Romani, 49 anos, responsável pelo planejamento e implementação do serviço de fisioterapia do CECC e atualmente responsável técnico do local, no caso específico de pacientes com Covid, inicialmente a atenção é para a triagem e avaliação do caso, para determinar o tipo da intervenção, conforme os sinais e sintomas apresentados. “Pessoas com quadros leves se beneficiam de orientações simples, como cuidados com as vias aéreas e exercícios respiratórios que podem ser realizados em seu domicílio. Já aquelas com quadros moderados e graves necessitam de uso de oxigênio, posições corporais terapêuticas (como deitar de barriga para baixo) e exercícios respiratórios com equipamentos ou não, mas com a assistência direta do fisioterapeuta, além da monitorização frequente. Em casos de maior gravidade, o fisioterapeuta é um dos profissionais que participa da intubação e gerenciamento da ventilação mecânica, além de continuar executando técnicas manuais, por exemplo, para a retirada de secreções pulmonares e para tentar manter ou preservar as funções ainda presentes do sistema respiratório”, explica o fisioterapeuta, que está na profissão há 27 anos, sendo 13 deles como servidor público do município de Araucária, e há um ano atuando no CECC.

Ele ressalta ainda que a atuação do profissional da fisioterapia está relacionada tanto à condição respiratória quanto motora do paciente. “O corpo humano tem os sistemas interdependentes. Muitas vezes o tratamento para os pulmões é andar, por exemplo. E os casos graves de Covid trazem perdas de força e massa muscular e, muitas vezes, sequelas neurológicas. Procuramos evitar encurtamentos musculares, feridas decorrentes de período prolongado no leito e perdas de movimento das articulações, além de todo o tratamento específico do sistema respiratório”, elucida.

Rotina puxada

O doutor Julio ressalta que os fisioterapeutas do CECC enfrentam uma rotina de trabalho bem puxada. “Eu atuo na área de gestão como responsável técnico e presto assistência quando necessário, dando suporte à equipe. Em momentos de intenso movimento, temos horário de entrada, mas não temos hora para sair. Muitas vezes damos suporte à equipe de madrugada. Já trabalhei muitas semanas sem folga e já chegamos a atender mais de 20 pacientes em um espaço de seis horas. Importante considerar que o paciente que permanece internado no CECC necessita de monitoramento constante e vários atendimentos/dia. É comum realizarmos 4, 6 e até dez intervenções/dia para cada paciente”, relata.

O setor de fisioterapia do CECC atende das 7 às 20 horas, mas nos próximos dias a equipe deverá receber o reforço de mais um profissional, que vai se juntar aos outros cinco integrantes, e o horário de atendimento será estendido até às 22 horas. “Trabalhamos de domingo a domingo, sem dia santo e nem feriado”, brinca o médico.

Cuidados redobrados

No atendimentos de pacientes com Covid, o cuidado com relação ao uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) é extremamente rigoroso. “Antes do coronavírus, outros tipos de pneumonia viral, bacteriana ou doenças respiratórias já eram frequentes nas UPAs e hospitais. O Covid tem forte taxa de contágio e evolução mais rápida e prolongada que as outras doenças, de um modo geral, e isso demanda um cuidado ainda mais intenso”, orienta.
Segundo ele, mesmo após a alta do paciente, os profissionais se preocupam com a reabilitação pós Covid. “Em nosso município, assistimos os pacientes na clínica de fisioterapia do CET (Centro de especialidades Terapêuticas), no CSMI (Centro de Saúde da Mulher e do Idoso) e nas UBS (Unidades Básicas de Saúde – as que tem fisioterapeutas na equipe). Contamos com a assistência de outros profissionais quando necessário, como de fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional, por exemplo. A maior parte dos casos moderados e graves necessitam de meses de acompanhamento”, relata.

Pior e melhor momento

Todo profissional que está na linha de frente, sejam eles médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais integrantes das equipes, estão vivendo um momento inédito na saúde. São dias incansáveis, com momentos tristes, mas alegres também. “Os piores momentos são aqueles em que perdemos uma vida ou que não conseguimos evitar a intubação/respiração mecânica. Os melhores momentos são a alta de um paciente e a gratidão que eles expressam. Estamos todos cansados, mas continuamos firmes. O desgaste é físico e, principalmente, emocional. Eu moro em Curitiba e trabalho em Araucária. E é difícil também equilibrar trabalho e família. Muitas vezes nossos filhos não têm a presença do pai e mãe, que estão dedicados à assistência dos pacientes. Também foi e continua sendo um grande desafio o entendimento da doença Covid e seus enigmas clínicos, muitos ainda sem resposta.”, afirma.

A lição que o doutor tem aprendido nessa pandemia é a de que uma equipe de saúde coesa e dedicada é imprescindível para o enfrentamento de uma situação tão grave como esta. São profissionais de enfermagem, médicos, gestores, farmacêuticos, profissionais administrativos, técnicos em radiologia, profissionais de serviços de limpeza e conservação, enfim, uma grande engrenagem em que um depende do outro. O CECC se tornou um serviço modelo e de referência pelas pessoas que são seu alicerce. Outra lição, já conhecida mas reforçada, é o amor à vida e a valorização de prazeres simples, dois quais estamos afastados há um ano”.

Confira os relatos da equipe

Bruno dos Santos Silva, 28 anos

Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19

Morador da Fazenda Rio Grande, ele é fisioterapeuta há 7 anos e atua no CECC desde dezembro de 2020. Ele trabalha de segunda a sexta-feira, das 7 às 13h e em um único dia já chegou a atender 10 pacientes. “Atuamos desde o atendimento na enfermaria, com avaliação da mecânica respiratória, implementação de exercícios respiratórios, posicionamentos otimizados no leito, assim como mobilização precoce (quando é possível). Visando sempre a estabilização e/ou recuperação do paciente e prevenção da necessidade de métodos invasivos. Quando esses recursos se tornam insuficientes, atuamos na média complexidade (com oxigenioterapia e ventilação não invasiva) e na alta complexidade (quando há indicação de intubação) e na recuperação pós-Covid (reabilitação)”.

Bruno também vive altos e baixos nessa pandemia. “O pior momento está sendo nesse novo pico da doença, desde o final de fevereiro/início de março, com essa nova variante, onde os pacientes estão apresentando quadros mais graves. Mesmo com todos os recursos que oferecemos, até mesmo com suporte ventilatório não invasivo, eles estão tendo poucas respostas positivas. O momento positivo, que marcou, foi o êxito da equipe na extubação de uma paciente que apresentou uma melhora rápida do quadro. O papel da equipe de fisioterapia foi fundamental”.

Nesse atual momento da pandemia, ele diz que é essencial o profissional manter o equilíbrio psicológico frente à gravidade da situação. “Temos que ser fortes mediante as adversidades porque há muita gente dependendo da nossa atuação”.

Juliana Maria Karas, 34 anos

Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19

Juliana é a única araucariense da equipe do CECC. Moradora do bairro Estação, ela se formou em Fisioterapia há 12 anos, e atua no Centro Especializado desde que abriu. Ela relata que os dias de trabalho nunca são rotineiros. “Ultimamente a demanda tá muito alta, com aproximadamente 15 a 20 atendimentos, indo desde a emergência até as orientações para os pacientes realizarem os exercícios em casa. O fisioterapeuta exerce um trabalho bem complexo, iniciando nos primeiros cuidados com a administração de oxigênio, passa pela assistência em intervenções, envolvendo intubação, ventilação mecânica e mudança de decúbito, e inclui ainda procedimentos para remoção de secreção brônquica e melhora da função respiratória. Também atuamos na recuperação dos pacientes e a procura tem aumentado bastante. Indico e oriento exercícios e procedimentos terapêuticos para fortalecer a musculatura respiratória e periférica, tanto de quem acabou de sair da UTI quanto de quem está se recuperando em casa”, diz.

Nesse último um ano, diante uma pandemia mundial, Juliana tem tido momentos marcantes na sua profissão, nem todos bons. “Vivemos o pior momento quando o paciente evolui para óbito. A morte em si já tem um significado muito forte de tristeza, deixando apenas lembrança. A maior felicidade, porém, é ver um paciente indo de alta para casa, recuperado, acompanhado da família. Isso não tem preço. Por isso que trabalho com amor, amo o que faço e luto todos os dias para dar o meu melhor para que isso aconteça”.

Pare ela, a dificuldade do fisioterapeuta está sendo o desgaste físico e emocional na rotina do dia a dia e se comove em dizer que todos os profissionais da saúde, estão trabalhando nos seus limites, mas não podem perder o foco. “Salvar a vida de um paciente é mais importante. Amor ao próximo e fé em Deus, que tudo isso irá passar, esperança de dias melhores virão”.

Jaqueline Santana Knapik, 34 anos

Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19

Jaqueline é mais uma curitibana da equipe de fisioterapia do CECC. Está na profissão há 11 anos, e atua em Araucária há três meses apenas. Sua escala de trabalho é 12/60, atendendo tanto a emergência quanto os pacientes que passam no consultório e necessitam de algum suporte ventilatório. Como os demais colegas, nesse momento da pandemia, ela se depara com a complexidade da doença, onde os pacientes possuem um tempo de internamento prolongado, necessitam de suporte ventilatório, mesmo nos casos leves da doença e levam um tempo maior para recuperação funcional e respiratória. “A maioria fica com a capacidade motora comprometida. Apresentam grandes dificuldades para realizar atividades simples da vida diária como pentear o cabelo, comer, andar. A intervenção da fisioterapia nestes pacientes é de grande importância, para devolver a ele uma qualidade de vida”.

No início de março Jaqueline viveu o que diz ter sido o pior momento da sua profissão. “Tivemos um aumento significativo nos casos, várias famílias foram internadas, tivemos casos em que a esposa internou de forma grave, e na mesma semana o esposo também, e ambos não tiveram uma boa evolução e acabaram indo a óbito. Casos envolvendo a mesma família têm se tornado cada vez mais comuns, a maioria acha que pequenas reuniões de família não ocasionam riscos, mas o que vemos na prática é o contrário. A prevenção e o isolamento social se fazem necessários, porque estamos vendo a tristeza e a forma que esta doença pode devastar famílias. Mesmo diante desse quadro, felizmente ainda temos o que comemorar. Quando mencionaram que iríamos receber a primeira dose de vacina, veio uma sensação de alívio e esperança para nós que trabalhamos na linha de frente e também para a população”.

Ela lembra que com a Covid 19 todos os profissionais tiveram que aprender a se preparar para mudanças, a enfrentar uma nova doença, que mudou completamente a rotina profissional, tanto na paramentação, tratamento e até mesmo o convívio em equipe. “De um momento para o outro, nos vimos encapuzados e mal nos reconhecemos com as máscaras, é uma triste realidade que ainda estamos nos adaptando”.

Michele Matias, 27 anos

Fisioterapeutas exercem papel fundamental no tratamento de pacientes com Covid 19

Michele é de Curitiba, se formou em Fisioterapia há três anos e chegou ao CECC há apenas três meses. Com tão pouco tempo de profissão, já encara uma rotina de trabalho pesada, atuando das 8 às 20h, em escala de 12/60, sendo 30 horas semanais. “Normalmente costumo atender mais de 10 pacientes por dia, dependendo da demanda. Aqui no CECC temos encarado todos os desafios que a profissão pode nos reservar, de uma só vez. Convivemos com a possibilidade de contágio, enfrentamos a necessidade de paramentação, ou seja, o uso de equipamentos de proteção individual, a atenção redobrada na higienização de mãos e de equipamentos, como também a complexidade e gravidade desses pacientes, levando a um stress físico e emocional maior”.

Nesse atual momento da pandemia, as principais dificuldades que ela enfrenta estão na alta demanda de trabalho nos períodos de pico, stress físico e emocional e sensação de impotência frente a gravidade e prognóstico dos pacientes.

Ela relata que o pior momento está sendo o atual cenário da pandemia, com a grande demanda de trabalho e pacientes mais graves precisando de atendimento. “Mas também tivemos bons momentos aqui no CECC e um deles foi quando realizamos o desmame da ventilação e a extubação da nossa primeira paciente. Foi um momento incrível: De toda experiência que tem vido, Michele lembra que estamos frente a um inimigo invisível e que muitas vezes nem toda estrutura e conhecimento é suficiente. “Todo dia é um novo desafio e aprendizado, assim consequentemente nos tornamos profissionais melhores a cada dia. Além disso, a pandemia está mostrando a real necessidade do profissional fisioterapeuta na área da saúde”.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1255 – 01/04/2021

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