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Invasão em Igreja de Curitiba na visão de dois professores araucarienses

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Invasão em Igreja de Curitiba na visão de dois professores araucarienses
Foto: divulgação

A invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, em Curitiba, repercutiu em todos os segmentos da sociedade e causou grande polêmica no decorrer desta semana. O caso ocorreu no último sábado, 5 de fevereiro, quando o vereador Renato Freitas (PT), com um grupo de manifestantes, invadiu a Igreja, no centro histórico da capital, interrompendo uma celebração para um ato de manifesto que reivindicava a apuração da morte do congolês Moïse Kabahambe, que ocorreu no Rio de Janeiro (RJ).

O ato gerou em todo o país, uma onda de opiniões que divergem. A reportagem do Jornal O Popular conversou com os professores Rafael de Jesus de Andrade de Almeida e Jester Furtado, que também opinaram a respeito do ocorrido. “Ficou evidente para todos aqueles que realmente acreditam nos princípios democráticos, que se tratou de um ataque à liberdade religiosa, tanto dos devotos que estavam ali presentes, como dos demais devotos que não estavam na celebração naquele momento. Quando você agride um negro por ser negro, você agride a todos os negros. Quando você agride um cristão por ser cristão, você agride a todos os cristãos”, comparou.

O professor lembrou ainda que o vereador Renato Freitas tem um projeto claro de atingir o próprio partido, o PT, que caminha numa direção de maior diálogo com setores mais conservadores da sociedade, tanto é que, em nota, a Comissão Executiva Estadual do partido, afirmou não ter participado da organização do ato. “Faltou uma postura mais dura da Executiva Estadual e até mesmo Federal do PT em relação ao vereador Renato Freitas, que não acredita nos mesmos princípios defendidos pelo estatuto do partido. É caso de expulsão”, argumentou.

Rafael disse ainda que todos que assistiram a invasão puderam perceber a atitude conciliadora do sacerdote e demais colaboradores em total dissonância à atitude afrontosa daqueles que participavam do ato. “Se eu não sou muçulmano e resolvo fazer um protesto contra o Talibã, e para isso escolho invadir uma mesquita durante uma celebração, eu não estou protestando contra o Talibã, eu estou protestando contra o Islã, que não tem nada a ver com as coisas horríveis praticadas pelos talibãs”, comparou.

Já o professor Jester disse que para analisar o fato ocorrido na Igreja do Rosário dos Pretos, é importante lembrar de um certo galileu que não só gritou nas escadarias do templo, mas também bateu e expulsou os que estavam por lá. “Esse mesmo homem, tido como subversivo, foi condenado e espancado até a morte, tudo pelas mãos sujas do Estado e com o aval da massa hipócrita e influenciável. Só por isso surgiu a chamada Igreja de Cristo”, ilustrou.

Feito esse resgate, Jester destacou também que o Largo da Ordem, local onde aconteceu o ato que culminou com a ocupação, é um lugar que guarda a memória da presença negra em Curitiba, inclusive quando os negros eram proibidos de entrar nas igrejas da capital, mãos pretas construíram a Igreja dos Pretos para que esses fossem acolhidos. “Sobre o fato atual, se tratava de um ato realizado em protesto a morte de um jovem morto a pauladas, em protesto as diversas mortes de pessoas que, em tese, tinham a mesma cor de Cristo. Corpos fustigados, linchados, mortos na porta de casa. O padre errou! Viciado ao rito engessado não soube acolher aqueles que, a exemplo de Cristo, que não se calavam diante de injustiças, fizeram gritaria nas escadarias do templo. Houve exagero por parte dos manifestantes? Quem é tão insensível a ponto de reparar os exageros de quem chora e reclama pela morte de seus iguais? O que é o exagero diante de vidas ceifadas? Como dizia Chico Buarque ‘morreu na contramão atrapalhando o trafego’. Nos desculpem por morrer antes do amém! Mas não nos peçam para esperar a missa acabar. A bestialidade humana anda a soltas e há lideres despertando o pior de seus liderados na intenção de reavivar um ideário pautado no ódio e na intolerância. Esses não passarão! Concluo dizendo que um suposto vilipêndio ao templo de pedras jamais será mais grave que o vilipêndio ao templo humano”, lamentou o professor.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1298 – 10/02/2022