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Jovem denuncia ter sido vítima de racismo em comércio da cidade

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Uma jovem, de 19 anos, denunciou um comércio de Araucária por racismo. Ela afirma que estava realizando compras no estabelecimento, localizado no Centro, próximo ao terminal central de ônibus, na sexta-feira (15), quando passou a ser seguida e constrangida por uma funcionária. Mas isso não é tudo, a jovem disse que logo ao entrar na loja, foi convidada a deixar a mochila no guarda-volumes, sendo que outros clientes circulavam livremente pelo interior do estabelecimento, carregando bolsas e outros acessórios.

“Quando cheguei já fui abordada por um funcionário, pedindo para que eu colocasse minha mochila no guarda-volumes, até achei estranho porque nas últimas vezes que fui lá, não tinham me pedido isso. Entrando na loja, dei de cara com uma mulher branca carregando uma mochila e ela estava sendo atendida por um funcionário. Fiquei bastante incomodada, mas ignorei e continuei as compras. Uma funcionária não parava de me olhar, dava voltas e voltas pelo corredor em que eu estava, bem descaradamente, como se eu fosse roubar algo. Eu não sabia o que fazer, olhava para as outras pessoas da loja (brancas) e não tinha nenhum funcionário em cima delas, muitas entraram na loja com sacolas e bolsas. Fiquei em estado de choque, infelizmente não tive nenhuma reação, nunca tinha me ocorrido uma situação dessa”, relatou a moça.

Ela contou que ao chegar em casa, fez uma rápida pesquisa na internet e constatou que infelizmente não foi a única a sofrer discriminação e racismo no mesmo estabelecimento. “Compartilhei o ocorrido em meu Instagram e rapidamente recebi vários relatos de amigos e de outras pessoas que passaram pela mesma situação. Não poso me calar diante disso, com certeza irei formalizar uma denúncia contra a loja e avaliar outras medidas que possam ser tomadas. Porque pelo visto eu não fui a única e nem serei a última pessoa a ter sofrido preconceito. Se a loja quer tanta segurança, que invista em meios e pessoas capacitadas para isso, e que a regra (guardar mochilas) seja válida para todos. É ridículo que em pleno 2022 ainda tenhamos que passar por isso, eu realmente fiquei traumatizada e não quero que ninguém tenha que passar por uma situação dessa. Farei o que for preciso para que eles paguem de alguma forma pela discriminação que estão fazendo”, lamentou a jovem.

O Conselho Municipal de Igualdade Racial de Araucária – COMPIR, disse que orientou a família a registrar um boletim de ocorrência, que vai acompanhar o caso de perto e ajudar a jovem em tudo que for preciso. Ainda segundo o COMPIR, o caso já foi repassado à Comissão de Igualdade Racial da OAB Araucária, para os encaminhamentos necessários.
O Jornal O Popular também tentou contato com a loja onde o fato ocorreu, mas até o fechamento desta matéria, não teve nenhum retorno.

Revoltante

O professor e produtor cultural Jester Furtado, representante da comunidade negra em Araucária, lamentou que o racismo estrutural siga fazendo vítimas na cidade símbolo do Paraná. “Traços negróides seguem sendo sinônimo de alerta para forças de segurança, sejam essas forças oficiais ou semiprofissionais, tais como as que são frequentemente encontradas no comércio varejista. Em algumas dessas lojas o sistema de segurança é frequentemente substituído por um sistema racista, discriminatório e constrangedor, onde a presunção de inocência dos próprios clientes é violada a depender do tom da pele, da vestimenta ou dos traços de africanidade dessas pessoas. Vergonhoso para uma cidade que se diz antirracista, ser permissiva ou omissa diante de relatos de jovens que denunciam situações nítidas de discriminação racial. Tenho certeza que o Compir não se furtará em prestar solidariedade a esta jovem e demais vítimas exigindo, por meios legais, que a loja em questão, no mínimo, se retrate e apresente um plano de adequação ao seu sistema de segurança. Acredito, também, que nosso único vereador negro, o Aparecido, não permanecerá alheio as questões raciais e usará seu mandato em favor dos seus iguais, legislando em prol de uma Araucária justa e igualitária. Acredito ainda que a Comissão de Igualdade Racial da OAB também dará especial atenção ao caso”, opinou Jester.

Segundo ele, lutar contra um inimigo invisível como o racismo, é quase sempre uma luta inglória. “Espero ao menos que o Procon faça valer o Código de Defesa do Consumidor, defendendo a dignidade e os direitos dos consumidores, impedindo que araucarienses sejam constrangidos e moralmente agredidos no interior de lojas. Afinal, essa prática de reter a bolsa de consumidoras é desrespeitosa e viola os direitos preconizados pelo Código de Defesa do Consumidor. Por fim, parabéns aos jovens que não se curvam a naturalização do racismo e corajosamente se dispõem a denunciar esses crimes, mesmo que tenham sempre alguém para desencorajar e normalizar a situação. Racismo não é normal, é crime!”, sustentou o professor.

A presidente da ONG EVA, Adri Ribeiro, que também é uma representante da comunidade negra, também lamentou o que ocorreu com a jovem e disse que é inadmissível que em pleno século XXI, onde se fala tanto em informação e igualdade de direitos e de oportunidades, ainda aconteçam situações como esta. “Isso é revoltante e a Prefeitura de Araucária deve tomar uma postura a esse respeito, assim como a própria Associação Comercial deve se manifestar e fazer um trabalho voltado ao combate do racismo. Eu como mãe fico indignada porque meu filho já foi vítima de racismo. Muita coisa mudou com relação ao desenvolvimento da igualdade no nosso Município, mas ainda tem muito a ser mudado. O que aconteceu com essa jovem, uma menina inteligente, linda e trabalhadora, representante da comunidade negra, não pode ficar por isso mesmo, providências precisam se tomadas”, defendeu Adri.

Jovem denuncia ter sido vítima de racismo em comércio da cidade
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Texto: Maurenn Bernardo