Lições que o câncer trouxe para a vida de duas araucarienses

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Na semana em que se comemora o Dia Mundial de Combate ao Câncer, 8 de abril, o Jornal O Popular conversou com duas pacientes oncológicas, que nos relataram importantes lições que a doença trouxe para suas vidas. Para elas, passar pelo câncer as levou a prestar mais atenção na vida, revendo seus valores, desejos e crenças. Uma delas é a moradora do Campina da Barra, Amanda Maria Ferreira, de apenas 23 anos, casada e mãe de dois filhos, o Bernardo e o Lorenzo. Ela descobriu um câncer no reto em junho de 2020, entrou em remissão em dezembro daquele ano e em agosto de 2021 o câncer voltou, com metástase na coluna. “Nunca cuidei muito da minha saúde. A gente sempre acha que está imune a doenças mais graves, mas quando você recebe o diagnóstico de câncer, é como se recebesse uma sentença de morte. Você pensa que vai morrer por ter câncer. O único conforto nessa hora é pensar que a medicina é muito evoluída e tem vários jeitos e métodos de você tratar e ter bons resultados. Hoje em dia creio muito na cura, tenho muita fé em Deus e acredito que tudo vai dar certo, pois é uma batalha que eu preciso lutar”, comenta Amanda.

Entre as muitas mudanças que precisou fazer na sua vida, a doença fez Amanda parar de trabalhar. Ela sente muitas dores, não consegue executar simples tarefas como limpar a casa ou lavar a louça. “Tenho um bebê de 2 anos e 5 meses e não consigo cuidar dele por conta da doença, e isso é o que mais me machuca. É uma luta diária e eu estava indo muito bem, até descobrir a doença pela segunda vez. Foi um dos momentos mais difíceis pra mim. Tive que abrir mão de muitas coisas. Por conta do câncer no reto, sou colostomizada e isso mexeu muito com meu psicológico, com minha autoestima”, lamenta.

Esperança

Amanda acredita que o modo de as pessoas encararem o câncer evoluiu bastante, porque antes todo mundo achava que iria morrer logo após o diagnóstico e hoje em dia os pacientes acreditam muito na medicina, nos vários recursos e métodos disponíveis para tratamentos. Infelizmente na parte da colostomia, poucas pessoas sabem o que é. Eu mesma, antes de usar a bolsa coletora, nem imaginava que existia isso. As pessoas tratam a colostomia como uma deficiência invisível aos olhos”, observa.

Amanda é guerreira e ainda encontra forças suficientes para encorajar outros pacientes. “Digo para quem tem câncer, que tudo isso é uma fase e vai passar. Tenho muitos momentos difíceis, tem horas que fico desanimada, mas logo depois tento colocar um sorriso no rosto e seguir vivendo. Sou uma pessoa muito extrovertida, então quero tentar levar isso com muita leveza. Deus é poderoso para fazer muitos milagres, então sempre creia na cura e acredite que tudo vai dar certo”, aconselha.

Incertezas

A administradora Luci Mara Modesti Montejane, 57 anos, moradora da área rural de Guajuvira, hoje vive uma fase mais tranquila, desde que descobriu um câncer de mama, em 2015. Mesmo sendo uma pessoa que sempre priorizou os cuidados com a saúde, sabendo que em qualquer doença esse tipo de prevenção é essencial, ela achava não ter perfil para desenvolver um câncer. “Sou vegetariana, nunca fumei e pratico atividades físicas. Então meu câncer é de origem genética, meu pai, minha mãe e meus irmãos tiveram”, explica.

Luci sempre se considerou uma mulher muito forte e determinada, mas conta que quando recebeu o diagnóstico, levou um grande susto. “O chão some e a incógnita da dimensão da gravidade é assustadora. Sabia tudo que teria que enfrentar. Replanejei minha vida em função do tratamento, um período longo e desgastante. No meu caso, fiz tratamento no Hospital Erasto Gaertner (que para mim foi uma benção), mas por ser longe de casa, minha vida virou de ponta cabeça. Conseguir completar todo o tratamento foi um desafio físico, emocional e financeiro. Somente com muito apoio por parte da minha companheira, familiares e amigos é que foi possível cumprir com a maratona de mais de ano de tratamento”, relembra.

A administradora disse não ser possível mencionar qual o pior momento que enfrentou, já que foram vários. “O pior pra mim é a incógnita, como disse antes, ela permanece na vida de quem já teve câncer. Mesmo com a cura, não há como saber se é para sempre”, comenta.

Tabu

Luci acredita que apesar de todos os avanços na área da medicina, o câncer ainda é um grande tabu. “No campo da medicina os tratamentos avançam na possibilidade de diagnósticos cada vez mais precoces, no entanto, para as pessoas, de um modo geral, falta conhecimento e informação, além da falta de agilidade do serviço público. É preciso maior disponibilidade de atendimento imediato para qualquer suspeita”, observa.   

Ela também defende a importância de datas como o Dia Mundial de Combate – 8 de abril, porque quanto mais se falar e propagar, maior será o incentivo para que as pessoas estejam atentas para a importância do diagnóstico precoce e entendem que existe vida após o câncer. “Ainda que permaneça o fantasma da doença, ainda que muitos venham a morrer, o câncer em si não é uma sentença de morte. É necessário fazermos tudo o que for possível para superarmos. E pra quem está passando por isso, saiba que você não é culpado por ter câncer, não se isole, busque ampliar sua rede de apoio: parentes, amigos, profissionais, religiosos, outras pessoas que estão ou estiveram em tratamento. Cerque-se de cuidados consigo mesma. Viva um dia de cada vez, com a espera de dias melhores. Quando estiver cansado(a), aprenda a descansar em vez de desistir. Saiba que existe quem se importa com você. Um exemplo disso é a ONG EVA, organização sem fins lucrativos que existe para ajudar o paciente com câncer a viver melhor por meio de projetos e ações de qualidade”. 

Texto: Maurenn Bernardo

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