Você é a favor ou não de o motoboy subir até o apartamento do cliente para entregar o pedido? Esta é uma discussão antiga que recentemente voltou à cena, após um influenciador ter publicado um print mostrando um atrito entre um motoboy do iFood e um cliente. Na conversa, um advogado afirmava que não podia descer até a portaria para buscar o pedido e falava que, se o prestador de serviço não pudesse subir, poderia cancelar o pedido. O entregador questionou se o autor do pedido era cadeirante, e ele respondeu: “Não, mas tô pagando pela entrega. Não quero descer mesmo”. O motoboy então diz que o cliente está pagando pela entrega e não por um “serviço de quarto”: “Não sou garçom!”. O advogado dizia ainda que se fosse para ele descer, iria pessoalmente ao estabelecimento e faria o pedido. O homem também ameaçou abrir uma reclamação no aplicativo e ofendeu o entregador: “Você é muito abusado”. “Eu pedi por gentileza. Se roubarem minha moto quem vai me dar outra?”, perguntou o motoboy.
Após relembrar esse caso polêmico, o Jornal O Popular trouxe a discussão para Araucária, onde existe um número considerável de condomínios horizontais, e ouviu alguns motoboys da cidade. Maurício Guercheski diz que o entregador não precisa ir ou subir até o apartamento do cliente. “Trabalhei como motoboy durante 22 anos, atualmente estou afastado me recuperando de um acidente. Já passei por situações como esta e acredito que tem muitos clientes ‘folgados’. A maioria nem sequer respeita a profissão do motoboy, acaba taxando todos de maus elementos e acabam nos desrespeitando”, lamenta.
Wladimir Palmieri, presidente fundador da ADMA – Associação dos Motoboys de Araucária, também prefere não ir até o apartamento do cliente, principalmente porque em algumas situações precisa deixar a moto na rua, com dinheiro das entregas. “O cliente que venha pegar na portaria e melhor ainda quando faz o pagamento via PIX, para que possamos deixar a encomenda na portaria do condomínio, com o porteiro. Isso otimiza nosso tempo e o prazo das demais entregas”, afirma.
Da mesma forma Emerson Pepi, motoboy há 19 anos, afirma que já enfrentou esse tipo de situação, principalmente com alguns clientes mal educados. “Na minha opinião o motoboy tem que levar o pedido até onde a sua moto vai. Se nem o carteiro entrega a correspondência na porta do apartamento, porque o motoboy teria que fazê-lo. A partir do momento que não entramos em condomínios, também evitamos vários problemas, por exemplo, nos acusarem que riscamos carros ou provocamos acidentes”, disparou.
Questão cultural
Por ser um tema muito polêmico, deve ser discutido de maneira clara e madura nas reuniões de condomínio. Em muitos deles não se permite que o entregador vá até o apartamento, mas em outros há certa benevolência. Bergson Neves, síndico do Spazio Campodoro, afirma que a maioria dos condomínios vêm adotando a prática da proibição por questões de segurança. “Isso deve estar previsto no regimento interno, caso não tenha, o síndico deve ter autonomia para tomar algumas decisões por medida de segurança dos moradores. Eu, enquanto síndico, mantenho a prática de evitar o acesso dos motoboys. O Campodoro é um condomínio muito grande e o entregador pode se perder aqui dentro para fazer a entrega e acabar infringindo alguma norma do condomínio, como o excesso de velocidade. As motos barulhentas também podem causar incômodo para algum morador. Para evitar tudo isso, é muito mais fácil o motoboy aguardar na portaria. Nós destinamos algumas vagas exclusivas de estacionamento onde o motoboy pode aguardar até que o cliente desça para pegar seu pedido. Inclusive o Campodoro foi pioneiro nisso, de destinar uma área só para os entregadores, porque antes eles paravam em qualquer lugar”, explicou.
O síndico ressaltou que há casos em que as exceções são necessárias. “Já aconteceu aqui no Campodoro de o morador estar com o pé machucado e não conseguir andar. Ele pediu um lanche, ligou na portaria explicando a situação, então nosso vigia acompanhou o motoboy até o apartamento do morador. Aqui não somos radicais, temos esse jogo de cintura, essa empatia com o próximo”, argumentou.