Não é bom que o homem esteja só?

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No primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, encontramos uma passagem maravilhosa sobre a criação do mundo. Criou o homem, os animais, tudo o que se rasteja sobre a terra, o mar, a terra, o firmamento, mas viu que o homem ainda não estava plenamente feliz. Vivia só entre os animais, triste e incompleto. E Deus percebeu que não era bom o homem viver só, e por isso, lhe deu uma companheira. A criação foi concluída e Deus viu que tudo era muito bom. Tirou um pedaço da costela do homem, misturou com barro e criou a mulher. Muito simbólica esta passagem. Deus poderia ter tirado um pedaço do pé do homem e isto iria caracterizar a sua superioridade. Poderia ser da cabeça, e isso deixaria a mulher superior ao homem. Tirou da costela para mostrar a igualdade. Homem e mulher, juntos, a serviço da construção de um mundo à imagem e semelhança de Deus.

O que caracteriza uma vida a dois não é um simples estar juntos, corpo a corpo, mas a partilha, o diálogo, o encontro feito de ternura e de respeito. Quantas vezes o casal mora junto, mas cada um está só, porque não existe cumplicidade. Ter os mesmos sonhos, os mesmos anseios, os mesmos projetos, determina um casamento feliz. Saint Exupery, no seu maravilhoso livro ‘O Pequeno Príncipe’, assim define o amor no casamento: ‘amar é olhar na mesma direção’. Considero essa uma das colocações mais pertinentes sobre uma vida a dois. Ou então como diz o padre Zezinho: ‘Se foi o amor o que nos fez olhar na mesma direção. Se foi o amor o que nos fez tomar a mesma decisão. Se foi o amor, que fale o coração e nunca mais se canse de falar. Te amo e te amarei’.

Eis a palavra chave para vencer a solidão: o amor que faz olhar na mesma direção. O amor se renova todos os dias através de pequenos gestos, de pequenos detalhes, do interesse sincero e verdadeiro pelo bem um do outro. Esse amor não se cansa, muito pelo contrário, se renova a cada dia da vida. O desejo de estar junto, partilhar os mesmos sonhos, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, faz o casamento ser eterno neste mundo, até que a morte os separe. Quando perde este encanto, o casamento pode virar um tédio, uma dor e um grande sofrimento.

Deus criou o homem e a mulher para juntos serem construtores do seu reino, em igualdade de direitos e deveres. Infelizmente, ao longo da história, o machismo se fez muito presente em diversas sociedades. Já houve um grande avanço neste sentido, mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido. É triste saber que em certas culturas a mulher ainda é tratada como escrava, sem vez e sem voz. Ou então, de modo camuflado e escondido, é usada e tratada com violência. A mulher não é propriedade do homem, como se esse pudesse fazer o que quisesse dela, mas é sua companheira de jornada. A mulher caminha ao lado do homem, e não atrás dele, como se costuma dizer: ‘atrás de um grande homem tem uma grande mulher’. Essa é uma visão errônea, que coloca a mulher abaixo do homem.

O casamento se constrói no dia a dia, através de pequenos gestos, onde o respeito e a ternura, que caracterizam o verdadeiro amor, se fazem presentes. É preciso deixar o coração falar, e quando ele se manifesta, de dentro saem palavras de carinho, de incentivo e de valorização do outro. O verdadeiro amor faz com que as qualidades do outro sejam enaltecidas em primeiro lugar, e, de vez em quando, algumas críticas. A máxima de cinco por um, ou seja, para cinco elogios, uma crítica. Aí sim a solidão vai embora de vez e o amor se fortalece.

Publicado na edição 1133 – 04/10/18

Não é bom que o homem esteja só?

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