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Nossas heranças

Editorial: Transtornos passageiros, benefícios permanentes

Um dia perguntaram à famosa cientista social Margareth Mead o que os arqueólogos deveriam procurar que fosse evidência de que o homem tinha desenvolvido consciência e inteligência. Ela disse para procurar por um fêmur que houvesse sido quebrado e houvesse evidência de que o acidentado havia sobrevivido a ponto da fratura ter se solidificado. Pois bem, a cientista queria dizer que só podemos considerar uma sociedade realmente humana quando nos mostrarmos capazes de cuidar uns dos outros.
Apesar de haver evidências de que o homem começou a cuidar uns dos outros muito cedo, ainda hoje temos fartas evidências do contrário, ou seja, pessoas que são abandonadas à própria sorte. Essas pessoas são os deficientes, são as crianças e também os idosos. Mais preocupante é quando os que abandonam são os próprios familiares. Batalhamos aqui contra o abandono de animais. Quase toda semana sai alguma coisa relacionada a esse crime que vemos acontecer nas nossas ruas, às vezes acontecem coisas ainda mais graves, mas que não estão nas ruas à frente de nossos olhos, que é o abandono de idosos.
Hoje em dia há praticamente um vácuo na questão do cuidado de idosos. Porém, a cada dia aumenta a importância de se discutir o que pode ser feito e a quem cabe essas atribuições, pois a longevidade aumenta a cada ano, mas as condições de vida dos idosos continua a piorar.
Um dos lugares onde costuma-se abrigar idosos são os lares ou abrigos, eufemismos para asilo. Entende-se que são necessários, pois sempre haverá quem não tenha parentes com quem contar, mas nesses lares há muitos idosos que foram deixados lá porque sua condição e necessidades se tornaram um incômodo para os filhos. Se voltarmos ao passado veremos que os lares para idosos eram bem menos comuns, pois as famílias assumiam com muito mais empenho a responsabilidade familiar com o idoso. Era questão de amor filial, questão religiosa, questão de valorização do idoso, como referência de uma família.
Vivemos em tempos em que a juventude explode nas publicações. O que importa é ser bonito, forte, saudável e… jovem! Os que podem prolongam o máximo esse período maravilhoso da vida com cirurgias e cuidados com a saúde (o que não é errado), mas escondem o velho, como se esse fosse a dolorosa lembrança de que todos vamos envelhecer. Temos que nos orgulhar dos nossos velhinhos e velhinhas e mantê-los no convívio de nosso lar. Dar nos seus últimos momentos nosso agradecimento por tudo que fizeram e nos ensinaram, nosso carinho e reconhecimento.
Temos nas nossas páginas dessa edição a péssima notícia do fechamento de duas dessas instituições. É hora de repensar nosso tratamento ao idoso. Pense nisso e boa leitura.

Nossas heranças

Publicado na edição 1319 – 07/07/2022

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