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A história que Jesus nos conta de um certo proprietário que teve uma colheita além do esperado, nos faz refletir. Percebe-se claramente no relato do evangelho que ele trabalhou, se empenhou, não roubou de ninguém para conseguir uma colheita estupenda. O grande problema dele foi pensar somente em si mesmo, numa total indiferença a todos os demais sofredores. Sua atitude foi de um enorme egoísmo, repetindo diversas vezes a palavra ‘eu’, ‘meu’, ‘minha alma’, num fechamento em si mesmo. Ele, em nenhum momento pensou no outro, em partilhar, em ajudar os mais pobres e sofredores. Tudo girou em torno do seu conforto, daquilo que lhe satisfazia, nos prazeres que isso lhe causava. E Deus, então vai lhe admoestar, dizendo: ‘seu insensato, essa mesma noite eu vou te chamar, e, de que servirá tudo isso?’ Ou seja, acumular bens somente em vista do seu próprio prazer, satisfação, bem estar, vai radicalmente contra o projeto de Deus, que é vida digna para todos.
O papa Francisco, por diversas vezes, traz a tona o grave problema da indiferença com a dor e o sofrimento do próximo, que afeta a nossa sociedade moderna. Na lógica mundana, o importante é trabalhar, aumentar seu capital, acumular, em vista do seu próprio conforto, tendo bens suficientes para poder viajar, usufruir a vida e gozar da melhor maneira possível. Isso não quer dizer que o ser humano não deva lutar por uma vida mais digna e confortável. O grande risco está em pensar somente em si mesmo, esquecendo e ignorando a dor e o sofrimento do próximo. Esse é o grande pecado que assola a vida de muitas pessoas. É a velha lógica do capitalismo: ‘quem pode mais, chora menos’. E, com certeza, esse não é o projeto de Deus para com a humanidade. É, sim, o anseio humano, ganância humana, em ter, em valer por isso, em acumular, e se por isso, sentir-se superior ao outro.
Na escola de Jesus, sempre houve um lugar preferencial para os mais pobres, sofredores e excluídos. Nesta história por ele contada, aparece claramente a grande preocupação pelo bem estar de todos. Para Jesus, todos tem direito a uma vida digna, e, não somente alguns poucos. Jesus se preocupou com todos, sobretudo, os mais frágeis, e, vemos isso na multiplicação dos pães, que é a grande lição da partilha. Saber partilhar com o outro, é o grande gesto de amor de todo cristão. Quem pensa somente em si mesmo, naquilo que lhe satisfaz, mesmo que com o suor do seu rosto, de modo honesto e transparente, não entendeu a lógica do Reino de Deus. Na medida em que eu partilho, aprendo a grande lição da solidariedade, tão presente e tão decisiva na vida de Jesus. Não basta apenas rezar, elevar os braços ao alto, se essa oração não se transformar em atitudes de amor aos irmãos.
O contrário da indiferença é a compaixão, a misericórdia, o amor que se transforma em gestos concretos em prol do próximo. A maior exigência do cristianismo não é a oração diária, mas a caridade. Para São Paulo a caridade está a acima da fé e da esperança. A verdadeira oração sempre se reflete numa atitude de amor e doação, do contrário, esta oração não agrada a Deus. Num mundo tão envolvido pelo consumo, torna-se um grande desafio deixar de lado seus desejos por vezes desnecessários e, partilhar com quem precisa. Onde a moda dita os ditames da sociedade, e, o desejo desenfreado por uma aparência mascarada, escondendo a verdadeira identidade, é desafiador viver o evangelho do amor e da partilha.
Quando o ser humano reflete e não se deixa levar apenas pelos prazeres fugazes e imediatos, entende que tudo é passageiro, e, a única coisa que realmente conta, é a capacidade de se doar, de ajudar, de servir. A verdadeira felicidade não advém dos bens externos, dos ganhos acumulados, mas, do sair de si mesmo e ajudar a quem precisa. Do sentir a dor e sofrimento do outro, e, ser capaz de partilhar e ajudar quem mais precisa.

O pecado da indiferença

Publicado na edição 1322 – 28/07

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