O perdão sem limites

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email

Jesus veio ao mundo para revelar o verdadeiro rosto do Pai, através de suas palavras, gestos e ações. Tudo o que ele falou, tudo o que ele fez, foi revelando ao mundo quem é Deus, e, para saber quem Ele é, precisamos conhecer a Jesus, o enviado do Pai. E o que percebemos e identificamos no seu jeito de ser e viver? Com certeza, um amor pleno, total, sobretudo para com os mais sofredores, pobres e marginalizados. Um amor infinito, sem limites pelo ser humano. Sua vida é uma verdadeira escola de amor, que não faz acepção de pessoas, mas que acolhe a todos e que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Na escola de Jesus nós aprendemos as verdadeiras lições, que apontam o caminho a seguir, que nos orientam e que nos dão a direção, para a construção do Reino de Deus.

Jesus vai aos poucos apresentando a novidade do Reino, tão distante daquela defendida pelos rabinos, pelos fariseus e doutores da lei. Existe um verdadeiro contraste entre os ensinamentos do mestre e aqueles dos religiosos da época. O pano de fundo de toda a sua ação é um amor sem limites, sem fronteiras, ao infinito, até as últimas consequências. E, nesta direção, talvez uma das questões mais nevrálgicas e exigentes, é o perdão a quem te ofende, te destrói ou arruína a sua vida. Na concepção dos rabinos, a lógica da justiça é o ‘olho por olho, dente por dente’, ou seja, pagar na mesma proporção o bem com o bem, e o mal com o mal. Esta é a justiça humana, mas não o modo de agir de Jesus.

Diante da pergunta de Pedro, ‘quantas vezes devemos perdoar? Até sete vezes?’ Jesus responde dizendo: ‘não digo até sete vezes, mas setenta vezes sete’, ou seja, sempre. Para o mestre dos mestres, aquilo que realmente cura e liberta o ser humano de qualquer tipo de mágoa ou ressentimento, é o perdão sem limites. A falta de perdão destrói por dentro o ser humano que guarda desejos de ódio e de vingança. É isso que Jesus quer nos fazer entender, que o grande prejudicado é aquele que não é capaz de perdoar, mesmo que a justiça humana lhe dê todos os direitos de querer que o culpado seja julgado e condenado.

Perdoar é um gesto sublime e de uma grandiosidade enorme. Um gesto que nos aproxima do próprio Jesus, que na hora máxima da dor, quando pregado na cruz, movido por um amor imenso, foi capaz de dizer: ‘Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem’. Perdoar não quer dizer esquecer, porque, assim como uma ferida curada, permanecerá sempre a marca. Então o que significa perdoar? É não dar poder aos pensamentos e aos sentimentos do outro a meu respeito. É não ficar alimentando desejos de ódio, de vingança, de desforra. Dizia um grande escritor no século XIX, Henri Lacordaire: ‘Queres ser feliz um momento? Vinga-te. Queres ser feliz sempre? Perdoa’.

O perdão cura e liberta o ofendido, o injustiçado e não permite que o outro, o ofensor, torne-se o senhor da sua vida, dirigindo seus pensamentos e seus sentimentos. O perdão é, com certeza, o caminho da vida e da libertação. O desejo de vingança destrói a pessoa por dentro e não a permite viver. Como dizia o filósofo Sartre: ‘não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você’. Ou seja, diante de uma injustiça, de uma traição, de uma calúnia, de uma agressão, o importante é não dar poder ao outro, mas perdoar. Eu sei que isso é muito exigente, muito difícil e pode até parecer injusto, mas é a única forma de vivermos como o mestre dos mestres nos ensinou. Livres por dentro, sem mágoas e ressentimentos, sem ódio e desejo de vingança. É o perdão sem limites.

Publicado na edição 1229 – 10/09/2020

O perdão sem limites

Compartilhar
PUBLICIDADE