Receber o diagnóstico de um câncer de mama, de útero ou outros tipos, não é fácil. No entanto, ler relatos de pessoas que enfrentaram a doença e agora estão curadas, ajuda novas pacientes a manterem as esperanças em seus processos de cura. Por isso, o Jornal O Popular trouxe algumas histórias inspiradoras de quem venceu a batalha.
A aposentada Sílvia Leite da Silva, 56 anos, é casada e tem um filho de 26 anos. Descobriu o câncer de útero em 2016. Ficou assustada ao receber o diagnóstico, porém se encheu de confiança e decidiu que não morreria em função da doença. “Fiquei cerca de três meses em tratamento, fiz 30 radioterapias e 4 braquiterapias e também retirei o útero. Foi tudo difícil, mas acho que o pior foi aceitar que estava com câncer, uma doença que dá medo. Lembro que eu tinha fome e ao mesmo tempo não sentia vontade de comer, sofri bastante com isso”, conta.
Sílvia cita o que considera ter sido a parte boa da doença, que foi descobrir o amor verdadeiro da família e dos amigos. “Fiquei mais próxima de todos, principalmente da minha mãe e do meu pai, que ainda era vivo na época do meu tratamento. Fiz a cirurgia de retirada do útero em Irati. Estava marcada para ser no Hospital de Araucária, mas uma semana antes foi cancelada. Eu ainda nem sabia que tinha câncer. Fiz a cirurgia particular em Irati, onde meus pais moravam, e o laudo deu positivo. Vendo minha situação, a família toda se uniu e isso me ajudou bastante. No mês passado (setembro), finalmente recebi a melhor de todas as notícias: depois de 8 anos em tratamento, eu tive alta!”, comemorou.
A araucariense diz ter vivido um sonho ao saber que estava curada e que hoje vê a vida de uma forma bem diferente. “Eu me cuido mais, faço exames a cada seis meses, cuido da alimentação. E digo para as mulheres que estão em tratamento, que levantem a cabeça e façam tudo certinho, para que possam seguir a vida. É importante manter o pensamento positivo, nunca pensar em coisas ruins, acreditar que tudo vai dar certo e ter fé em Deus”, orienta.
Camila Marconato de Mello da Silva, 30 anos, é uma empreendedora araucariense que está casada há 10 anos e tem um filho de 4 meses. O câncer de tireóide chegou na sua vida em 2019. O impacto ao receber a notícia foi difícil e a primeira coisa que lhe passou à cabeça foi que morreria por conta da doença. “Descobri o câncer quando fazia exames para saber se estava tudo bem com minha saúde, pois o plano era engravidar. Eu tinha 25 anos na época, mas aos poucos fui enfrentando tudo com muito amor e recebendo cuidados do meu esposo Fernando e de toda minha família. Juntos, vencemos cada etapa”, diz.
A empreendedora se tratou durante 3 anos, e nesse período fez 3 cirurgias e um tratamento com iodo radioativo. “Na primeira cirurgia os médicos disseram que era algo muito simples, tiraram apenas a metade da minha tireóide. Depois veio a pandemia, o isolamento e tudo mais e quando retomei o tratamento não encontrei nenhum dos médicos que tinham me atendido. Uma equipe nova
começou a me atender e os médicos disseram que eu estava com metástase nos linfonodos do pescoço. Fiz a segunda cirurgia e o tratamento com o iodo radioativo. Porém a parte mais difícil do tratamento foi quando tinha passado quase um ano da segunda cirurgia e apareceu metástase novamente. Fiquei sem chão, mas enfrentei tudo novamente e após o controle de 1 ano dessa terceira cirurgia, veio a notícia de que eu estava curada. Fiquei super feliz”.
Depois disso, Camila engravidou e segue uma rotina de acompanhamento a cada 3 meses, devido a gestação, porque antes de ter o bebê, as visitas ao médico eram a cada 6 meses. “O câncer mudou minha vida como um todo, antes trabalhava em uma empresa de segurança no setor administrativo – sou formada em Administração, e com toda essa mudança passei a buscar outros objetivos. Foi então que surgiu um sonho em minha vida. Sempre gostei muito de vestidos e costura, aprendi a costurar com a minha avó quando ainda criança. Realizei dois sonhos: casar na igreja e junto com meu esposo abrir uma loja de locação de trajes de festa, a Sonho de Noivas, em Araucária”.
Para as mulheres que estão enfrentando a batalha contra o câncer, Camila dá um conselho: “Tentem tirar algo de bom de tudo que estão passando. Muitos podem dizer que é impossível, mas qualquer coisa que você tente melhorar, nem que seja 1%, já valerá a pena. No meu caso, além do pensamento positivo, procurei a ONG EVA, da Adri Ribeiro, e fui super bem acolhida e amada. Saber que tenho esse lugar para pertencer me fez ter a coragem de estar escrevendo aqui hoje”, declara.
Margarida Musial Sluga, 49 anos, é professora, mora em Contenda, porém sua vida social praticamente se concentra em Araucária. Casada e mãe de um menino, descobriu o câncer de mama em 2015, fazendo o auto exame durante o banho. “No primeiro momento levei um susto, pois fazia os exames de mamografia com frequência, devido estar tomando medicação para engravidar e os resultados sempre eram bons. No auto exame encontrei algo diferente na minha mama, que me chamou a atenção. Contei para o meu marido e ele tentou me acalmar. A ginecologista pediu exames mais específicos e após ver os resultados, me encaminhou para o mastologista, que pediu uma biópsia. Quando o médico deu o resultado eu e meu marido choramos, então senti que teria que enfrentar o que viria pela frente. Fiz mais exames e marcaram a cirurgia em julho de 2015, retirei um quadrante da mama esquerda e ao mesmo tempo fiz uma plástica na mama direita, para que ficassem assimétricas, isso ajudaria na autoestima”, conta.
Margarida iniciou os ciclos de quimioterapia em setembro do mesmo ano, acreditando que o cabelo, que era longo, não iria cair. O médico dizia o contrário e indicava que ela começasse a pensar em uma peruca. “Procurei perucas e lenços, até pensei em fazer uma peruca com o meu próprio cabelo, mas no fim das contas, o cabelo não me fez falta. Durante o tratamento eu nem lembrava do cabelo, porque o mal-estar era tão grande, senti tanto enjoo, tanto cansaço, que acabei comprando uma peruca, mas nem a usei, optei pelos lenços”.
A professora teve que enfrentar as quimios vermelhas e depois as brancas. A essa altura, os médicos diziam que ela não poderia ter filhos. Porém, o oposto aconteceu. “Passei tantos anos querendo engravidar e não deu certo. Imagine minha surpresa quando me deparei fazendo o segundo ciclo de quimioterapia pós-rádio e estava grávida. Nem eu e nem os médicos acreditaram. Repeti o teste várias vezes, até que a médica orientou o início imediato do pré-natal. Começou uma nova fase na minha vida, porque além de estar em pleno tratamento do câncer, enfrentaria uma gestação. A gravidez foi de risco, com o acompanhamento de vários especialistas. Além do câncer, eu estava fora do peso e com 40 anos. Tive muito medo, mas graças a Deus todos os exames sempre mostraram que meu bebê estava bem. Hoje ele está aí, com sete anos e super saudável”.
O bebê nasceu, e embora Margarida estivesse amamentando, era hora de retomar o tratamento. “Pedi para a médica aguardar o batizado do meu filho e mais 30 dias para reiniciar as quimioterapias. Quanto retomei, tive uma reação alérgica tão forte que fui parar no hospital, mas graças a Deus sobrevivi. Foi o momento mais difícil, saber que você tinha um bebezinho pra cuidar e não se sentia em condições. Superei isso também”.
O tratamento da professora acabou, mas em nenhum momento os médicos disseram que ela estava curada, pelo contrário, a ordem era ficar em alerta. “Ao mesmo tempo que disseram que durante a remissão eu poderia nunca mais ter câncer, havia a possibilidade de a doença voltar. Mas vivo um dia de cada vez e hoje sou feliz por ter superado tudo isso. Quero falar às mulheres que estão em tratamento, para que não desistam. O processo não é fácil, mas com fé, esperança e muita luta, sempre conseguimos vencer. Passado todo o sofrimento, a gente acaba dando mais valor às pequenas coisas da vida. E nunca se esqueçam: Tudo acontece no tempo de Deus, e esse tempo não é igual ao nosso!”
Edição n.º 1438.