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Padre André Marmilicz: “O Espírito conduziu Jesus no deserto” (Mc 1,12)
Foto: Divulgação

Estamos iniciando a Quaresma, que são os 40 dias de conversão caminhando para a Páscoa. Entre os muitos significados que os antigos atribuíam ao número 40, um nos interessa de modo especial: o de indicar um período de preparação, em vista de um grande acontecimento. Por exemplo: o dilúvio durou 40 dias e 40 noites e foi a preparação para uma nova humanidade; 40 anos passou Israel no deserto, para preparar-se para entrar na terra prometida; durante 40 dias fizeram penitência os habitantes de Nínive, antes de receber o perdão de Deus; durante 40 dias e 40 noites caminhou Elias para chegar à montanha de Deus; durante 40 dias e 40 noites jejuaram Moisés e Jesus, para preparar-se para a sua missão.

Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, onde durante 40 dias foi tentado pelo demônio e no final saiu vencedor. O número 40 não pode ser analisado de modo exato, mas, como um número simbólico. É estranho constatar que foi o Espírito que levou Jesus para o deserto, a fim de ser tentado por Satanás. Na verdade, após o seu batismo, Jesus encheu-se do Espírito de Deus e, fortalecido por esse Espírito, venceu ao longo da sua vida, todas as tentações do mal. Quarenta significa a vida inteira, ao passo que no deserto, naquele tempo, era considerado como a morada das forças inimigas de Deus e do homem. O evangelista Marcos nos quer mostrar que, desde que saiu das águas do Jordão, Jesus teve que contrapor-se durante toda a sua vida com propostas que queriam desviá-lo do caminho traçado para ele pelo Pai, propostas que lhe eram dirigidas pelos inimigos, pelo povo e até pelos seus próprios discípulos.

Jesus venceu as tentações do inimigo, porque o Espírito de Deus o habitava e o guiava em todos os momentos da sua vida. Se essa foi a experiência do Mestre, o cristão nunca deve sentir-se sozinho. Dentro de si tem o Espírito, que lhe dá forças para superar qualquer prova e ao seu lado tem Jesus que foi tentado em tudo como ele. É muito animador para nós, sobretudo, quando temos que enfrentar situações particularmente difíceis, lembrar que também Jesus passou por essas provas. A nossa vida diária é cheia de provas, de tentações, de situações inesperadas e difíceis. Para enfrentar esse deserto, ou seja, encarar e superar essas forças inimigas, é preciso deixar que o Espírito de Deus habite o nosso coração e, nos conduza, a sermos fiéis até o fim.

As tentações fazem parte diária da nossa existência. Se Jesus foi tentado durante toda a sua vida, imagina cada um de nós! E isso se vence com muita oração, silêncio, contemplação a exemplo do Mestre que seguidamente se retirava para rezar. Desde o dia do nosso batismo, o Espírito de Deus habita o nosso ser, mas, precisamos diariamente recorrer a ele. Deixar que ele nos fortaleça, nos anime, nos torne fortes, diante das inúmeras adversidades e tentações no nosso cotidiano. Tempo de quaresma é esse tempo especial de oração, de conversão, de renovação dos nossos propósitos de sermos fiéis a Deus. Podemos encontrar forças na participação dominical das missas; na novena de preparação para a Páscoa; em gestos concretos de solidariedade; no jejum que nos leva a mudar de vida, acolhendo cada ser humano como nosso irmão. Deixar-se guiar, desde o amanhecer até o anoitecer, pelo Espírito de Deus. É Ele que nos move, nos anima, fortalece a nossa vida, todos os dias de nossa vida, até o último suspiro.

Edição n.º 1455.

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