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Padre André Marmilicz: O joio e o trigo

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Jesus vai manifestando a proposta do Reino de Deus através de inúmeras parábolas. Partindo sempre da realidade das pessoas, sobretudo, usando imagens do campo, da lavoura, ele vai apresentando ao mundo, aquilo que é fundamental aos seus seguidores. São imagens tiradas do cotidiano das pessoas e por isso eram perfeitamente compreensíveis. Talvez hoje Jesus se serviria de exemplos ligados com a tecnologia ou algo nesta linha. Na sua época, ele se serve do exemplo do joio e do trigo, para demonstrar que ambos devem crescer juntos e serem arrancados só no final. Como eles são parecidos, existe o perigo de arrancar o trigo, imaginando que fosse o joio. O que será que Jesus quis revelar através desta parábola?

O joio é o símbolo do mal, daquilo que se refere ao espírito destruidor, da maldade que está impressa na vida das pessoas, o trigo, pelo contrário, simboliza o bem, a luta pela vida, pela solidariedade, daquilo que constrói e edifica. Jesus quer levar as pessoas a perceber que o joio e o trigo, ou seja, o bem e o mal, estão presentes na vida de cada pessoa. Por natureza, nós somos movidos por duas energias, uma que leva para a vida e a outra que leva para a morte. Isso faz parte inerente da nossa existência. Freud chamava essas duas energias de eros (a energia da vida) e Thanatos (a energia da morte), presentes em todos os mortais. Ninguém é somente bom ou inteiramente mal. Todos somos dominados por essas duas forças, essas duas energias que nos movem diariamente para sermos defensores da vida ou da morte. São Paulo bem definiu essa dialética, esse movimento interior, quando assim se manifestou: por vezes faço o mal que desprezo em detrimento do bem que gostaria de fazer.

Deus nos deu o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de escolha e diariamente nós somos desafiados a tomar a melhor decisão. No entanto, tantas vezes o egoísmo, o individualismo, a sede de mandar e dominar, tantos desejos ocultos, nos levam a decidir pelo mal, pela destruição do outro. Dizia um filósofo que até na desgraça dos nossos melhores amigos, existe algo que não nos abala significativamente. Parece que sentimos prazer naquilo que os afeta e destrói. É a maldade que está incrustrada em nossa natureza. Mas, podemos optar diariamente em sermos construtores do bem, da vida, colocando-nos gratuitamente a serviço dos outros. Mas, por mais que façamos a escolha pela vida, sempre estaremos lutando contra as armadilhas do mal.

Jesus com essa parábola quer nos direcionar para sermos trigo, mesmo sabendo que o ser humano tantas vezes é mais atraído a ser joio. Ele conhece plenamente a estrutura da pessoa humana e sabe que ela nem sempre se dispõe a ser pessoa do bem, pronta para servir e se sacrificar pelo outro. E essa realidade dualista sempre acompanhará o ser humano, enquanto estiver peregrino nessa terra. E daí advém a decisão, de direcionar a sua vida no caminho do bem ou do mal. São escolhas diárias, e, na medida em que a pessoa se coloca aberta para a vida, ela estará construindo o Reino de Deus e, pelo contrário, quando o mal for mais forte e atraente, será o reino do mal, do demônio, a dirigir os seus passos. Como seguidores de Jesus, diariamente somos desafiados a fazer a escolha pela vida e pelo Reino de Deus e, sermos construtores de um mundo melhor. Afastar o joio e ser trigo, significa fazer a opção diária pela vida.

Edição n. 1372