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Padre André Marmilicz: Os dois filhos

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A fala de Jesus na maioria das vezes estava cercada de muitas histórias do dia a dia e que ajudavam no imaginário das pessoas. Nas histórias contadas sempre existe movimento, personagens, locais, enfim, uma série de coisas que criam uma espécie de composição do lugar. Cada pessoa cria o seu próprio enredo, imagina o local, o movimento das pessoas e tudo isso ajuda a entender a mensagem que o Mestre quer passar. Ele não se utiliza de palavras difíceis, de uma linguagem inacessível, muito pelo contrário, fala em parábolas, para que todos compreendam, A sua grande preocupação é exatamente essa: que todos compreendam a sua mensagem. Precisamos diariamente aprender de Jesus a falar de modo simples, claro, objetivo, para que sejamos compreendidos. O problema da linguagem acaba afetando pessoas e gerando um mal-estar entre elas.

Por detrás de uma parábola, sempre tem um ensinamento, que nem sempre é de entendimento imediato. Requer uma reflexão, uma análise para entender o que será que o Mestre queria dizer com aquilo que ele disse. Na história dos dois filhos, existe um endereço a quem é dirigida a parábola. Jesus vai dizer de modo bem simples que um pai tinha dois filhos. Mandou o primeiro trabalhar na sua vinha; esse disse sim imediatamente, mas, depois, não foi. O segundo filho quando convidado pelo pai a trabalhar na sua vinha disse ‘não’, mas, depois, pensou bem, e, foi trabalhar. Quem é esse pai?> Quem são esses filhos? O pai, parece bastante claro, é o próprio Deus. A vinha é o seu Reino. O primeiro filho é o povo de Israel que disse sim ao chamado, mas, depois se afastou da proposta de seu filho Jesus. O segundo filho são os pagãos, que por muito tempo estiveram distantes da proposta do Reino de Deus. Diziam sempre não, mas, depois que os judeus não aceitaram a Jesus, foram eles, advindos de tantos lugares, que se converteram e se doaram totalmente pela proposta do Reino. Foram batizados e se comprometeram plenamente como cristãos, a serem anunciadores da boa nova.

Cada um de nós representa esses dois filhos, pois, tantas vezes falamos bonito, professamos por palavras o amor a Deus, mas vivemos totalmente contrários àquilo que Jesus nos ensinou. São palavras bonitas, mas, que na prática desdizem tudo, assim como foram os judeus, de modo geral. E mais, talvez somos bastante piedosos e participativos da vida de comunidade, mas, nossas obras são contrárias às nossas belas palavras. Outras vezes, encontramos pessoas que talvez nunca acreditaram em Deus e nem conhecem Jesus, mas a sua vida é muito mais coerente e cheia de amor, do que de tantos que sempre professaram piamente sua fé em Jesus.

No ordinário da vida, somos chamados a sermos coerentes com as palavras que professamos e as ações que realizamos. Isso significa dar testemunho de vida, porque, mais importante do que a mensagem, é o mensageiro que a anuncia. Se o mensageiro não é coerente com a mensagem que prega, perde a sua credibilidade. Deveríamos, no fundo, mesclar os dois irmãos. O primeiro que disse sim e o segundo que foi, ou seja, que o nosso sim a Jesus, à sua palavra, ao seu Reino, seja concretizado através das nossas ações, dos nossos gestos de amor, de acolhida, de partilha, de construção do Reino de Deus, como um mundo de paz, de justiça e de igualdade.

Edição n.º 1382