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Padre André Marmilicz: Renunciar a si mesmoe carregar a sua cruz

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Jesus fascinava as pessoas com o seu jeito de ser, de conversar, de acolher, de se relacionar, indo sempre ao encontro dos mais sofredores, aqueles rejeitados pela sociedade de sua época. De todos os lugares acorriam pessoas para estar com ele, para ouvir os seus ensinamentos, para serem curadas. Algumas pessoas vinham simplesmente para estar com ele, para tocar nele, pois, dele emanava uma energia viva, positiva, que transformava e curava. Jesus, realmente, mexeu com as estruturas da sua época, pelo profundo amor, compaixão e misericórdia com que tratava a todos, sobretudo, os doentes, considerados pecadores pela sociedade judaica. Ele, no entanto, longe de se ufanar por causa daquilo que falavam dele, dos elogios que recebia, apresenta as condições e as exigências para segui-lo.

Ele mesmo vai afirmar, ‘se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’. E, mais ainda, ‘quem quiser salvar a sua vida sem mim, vai perde-la, mas, quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la’. O seguimento a Jesus é muito exigente, ou seja, requer a renúncia de tanta coisa. Ele, na verdade, não quer com isso dizer que devemos nos humilhar, nos rebaixar e deixar de lado a nossa própria vida, numa negação de si mesmo, mas, colocar-se aberto ao outro, pronto para sair de seu próprio mundo e colocar a sua vida a serviço dos outros. A vida assume um colorido especial quando partilhada. O egoísta assim como o individualista pensa somente em si mesmo, naquilo que lhe convém, tantas vezes totalmente indiferente à dor e ao sofrimento do próximo.

Quem vive assim, pensando em primeiro lugar nas suas próprias vantagens e nos seus próprios interesses, se ilude em ser feliz e, com certeza, acaba vivendo um tremendo vazio e nada do que tem consegue satisfaze-lo.

O papa Francisco faz alusão ao mundo atual como um mundo onde a indiferença com a dor e o sofrimento do outro é sempre mais presente. O importante é estar bem consigo mesmo, sem se importar com o irmão ao lado. Jesus, quando fala de renúncia, se refere a essa necessidade vital do ser humano. Ninguém, na verdade, se realiza sozinho, fechado em seu próprio mundo, porque, por natureza, nós fomos criados para conviver, se relacionar, e, o fechamento em nós mesmo, nos distancia dessa realidade tão vital e essencial. Na medida em que nos preocupamos com aquele que sofre, e, que vamos ao seu encontro, e, buscamos ajuda-lo na sua dor, no seu sofrimento, também nós nos realizamos e fazemos a experiência da verdadeira felicidade. São Paulo vai dizer que, ‘existe muito mais alegria em dar do que em receber’.

Colocar-se a serviço do outro, buscando viver o evangelho da alegria, com compaixão e misericórdia, pensando única e exclusivamente na sua felicidade, isso significa renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz. Renunciar a tantas coisas agradáveis e desejáveis, e se sacrificar pelo que sofre, pelo que mais necessita, é, com certeza, um gesto profundamente cristão. Seguir Jesus exige sair de si mesmo, do comodismo, daquilo que lhe apraz e traz satisfação emocional e, se preciso for, dar a vida pelo irmão. É algo muito exigente, pois, por natureza, nos sentimos atraídos a fazer aquilo que mais nos satisfaz. Mas, no fundo, a verdadeira felicidade consiste em compreender que a doação, a entrega ao próximo, a compaixão, são a essência da nossa vida cristã.

Edição n.º 1378