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Talvez a tragédia mais grave do ser humano de hoje seja sua crescente incapacidade para a oração. Estamos esquecendo o que é orar. As novas gerações abandonam as práticas de piedade e as fórmulas de oração que alimentaram a fé de seus pais. Reduzimos o tempo dedicado à oração è a reflexão interior. Às vezes excluímos praticamente a oração de nossa vida. Quase sem perceber, enchemos nossa vida de coisas, atividades e preocupações que, pouco a pouco, nos foram afastando de Deus. Sempre temos algo mais importante para fazer, algo mais urgente ou mais útil. Como pôr-nos a orar quando temos tantas coisas para ocupar-nos? Sem nos darmos conta, acabamos ‘vivendo bastante bem’ sem necessidade alguma de orar. Pura ilusão, pois, cada vez mais nos sentimos vazios e tediosos no cotidiano da vida.

Mas não é isto o mais grave. Parece que as pessoas estão perdendo a capacidade de silêncio interior. Já não são capazes de encontrar-se com o fundo de seu ser. Distraídas por mil sensações, presas a um ritmo de vida afobado, estão abandonando a atitude diante de Deus. Quando nós silenciamos e paramos para meditar, escutamos o nosso interior, relaxamos, tomamos decisões acertadas, de acordo com a nossa consciência. Pelo contrário, quando decidimos na correria da vida, sem tempo para uma boa meditação, podemos optar por caminhos errados, estradas tortuosas, e, tantas vezes, tomarmos um caminho que não tem mais volta. Quantas vidas despedaçadas, quantos jovens perdidos e desorientados, por falta de uma parada, para analisar as consequências negativas de certas decisões.

Vivemos numa sociedade que aceita como critério primeiro e quase único, a eficácia, o rendimento ou a utilidade imediata. Neste universo de preocupações e agitações, a oração fica desvalorizada como algo inútil. Facilmente se afirma que o importante é ‘a vida’, como se a oração pertencesse ao mundo da ‘morte’. Mas pelo contrário, quando alguém pede a bênção de Deus diante de uma prova que vai fazer, frente a uma decisão a tomar, com certeza, a graça de Deus vai agir em sua vida. Conheço diversas pessoas que sempre recorrem à bênção de Deus, diante de situações difíceis ou complicadas, e, geralmente, são atendidas.
Precisamos orar. Não é possível viver com vigor a fé cristã nem a vocação humana sem o encontro com o seu interior. Mais cedo ou mais tarde, a pessoa experimenta a insatisfação produzida no coração humano pelo vazio interior, pela trivialidade do cotidiano, pelo tédio da vida ou pela falta de comunicação com o Mistério. As coisas mundanas, os prazeres corpóreos, as riquezas, podem até dar uma satisfação momentânea, mas logo perdem a força e levam o ser humano a um vazio que vai minando e destruindo a sua vida.

Precisamos orar para encontrar silêncio, serenidade e descanso que nos permitam sustentar o ritmo de nossos afazeres diários. Precisamos orar para viver em atitude lúcida e vigilante no meio de uma sociedade superficial e desumanizadora. O encontro com Deus nos conduz para os recônditos mais sublimes da nossa existência, elevando o nosso espírito e nos conduzindo para as realidades mais profundas.

Precisamos orar para enfrentar nossa própria verdade e sermos capazes de uma autocrítica pessoal sincera. Precisamos orar para nos libertarmos aos poucos daquilo que nos impede de ser mais humanos. Precisamos orar para viver diante de Deus em atitude mais festiva, agradecida e criativa e experimentar nas profundezas do nosso ser as verdades ditas por Jesus.

Publicado na edição 1173 – 25/07/2019

Precisamos orar

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