Julho de 1994, eu trabalhava como repositor no supermercado N° 1 da Lapa, ainda lembro o preço de um botijão de 13 quilos de gás, R$ 5,70 para entrega domiciliar. Eu levava o gás num carrinho de feira e instalava para as senhorinhas.
Considerando que hoje, na mesma cidade, o mesmo gás custa em média R$ 110,00 para entrega, tivemos um aumento de 1 829,82% nos últimos 30 anos.
O salário mínimo na época era de R$ 70,00, hoje R$ 1.412,00, um aumento de 1.917,14%. Ou seja, em julho de 1994, um salário mínimo comprava pouco mais de 12,28 botijões de gás, hoje 12,83. Pelo menos nesse aspecto pouco mudou para os trabalhadores.
O que é mais curioso é que a inflação dos últimos 30 anos, de acordo com a calculadora do Banco Central, considerando o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), é de menos de 709%, gerando uma diferença de mais de 1.120% entre um índice e outro. Acontece que a inflação é maldosa, sendo muito diferente para pobres e ricos, por isso dessa diferença.
É muito triste saber que os trabalhadores nos últimos 30 anos pouco avançaram em termos de poder aquisitivo. Todos esperávamos muito mais, especialmente ao lembrarmos das dificuldades que enfrentávamos antes da implantação do Plano Real.
Entre as décadas de 1980 e 1990 vivíamos um período de inflação crônica com momentos de hiperinflação, que chegou a ser de mais de 2.500% ao ano. Eu trabalhava muito remarcando os preços nas gôndolas, certa vez passei a noite toda fazendo isso, para que no outro dia cedo as mercadorias pudessem estar à venda com os preços atualizados.
Na verdade, o início da circulação da nova moeda em 1° de julho de 1994 era uma das últimas etapas do plano. Pouco antes havia sido criado um tipo de indexador, a Unidade Real de Valor, a famosa URV, que serviu como uma espécie de “moeda de transição”. A URV não se desvalorizava como acontecia com o Cruzeiro Real, seu valor variava diariamente, acompanhando de perto a inflação.
As pessoas, de certa forma, foram condicionadas a ver a nova moeda como viam a URV, uma moeda forte em pé de igualdade com o dólar. Foi um sucesso e FHC se elegeu e se reelegeu presidente da República, estando no comando do país entre 1º de janeiro de 1995 e 1° de janeiro de 2003.
Um dos segredos do sucesso do Plano Real foi a ampla divulgação de cada etapa do mesmo, sem causar surpresas desagradáveis como as vividas anteriormente pelos brasileiros com os famosos pacotes econômicos. Assim o governo conseguiu mudar a mentalidade inflacionária que havia tomado conta da população.
Hoje 1 real equivale a 0,12 centavos daquele 1° de julho, ou seja, de um modo geral você precisa de R$ 8,08 para comprar o mesmo que você comprava com 1 real em 1994, é evidente que essa regra não se aplica ao gás de cozinha.
Em todo caso devemos muito ao Plano Real, saímos do abismo hiperinflacionário, conquistamos estabilidade econômica e começamos a consumir iogurte e frango, um luxo para poucos antes de 1994.
Edição n.º 1423