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Professor Rafael de Jesus: A corrupção como reflexo das nossas relações sociais
Foto: Divulgação

O renomado historiador Leandro Karnal costuma afirmar que “não existe país no mundo em que o governo seja corrupto e a população honesta e vice-versa”.

Dito de forma mais direta, se os políticos são corruptos, é porque a população, de modo geral, sofre do mesmo mal. Isso também vale quando a população prática a honestidade como um valor maior, resultado na escolha de políticos predominantemente honestos.

Para o historiador, a falácia de que “somos um país de trabalhadores governados por ladrões” – uma frase que era muito usada por Carlos Lacerda na crise de 1954 – até pode ser reconfortante, mas não corresponde à realidade. Karnal defende que a falta de ética muitas vezes tem origem nas famílias, empresas e escolas.

Segundo Rita de Cássia Biason, pesquisadora da Unesp, o combate à corrupção costuma se amparar muito mais em uma questão moral do que num ordenamento jurídico eficiente. Ou seja, onde a corrupção é rejeitada pela população há menos chances de prosperar, o que tem um efeito mais assertivo do que onde os meios jurídicos são eficazes.

É lógico que isso não isenta as nossas elites de suas responsabilidades. Na verdade, trata-se de uma relação de circularidade entre os poderosos e aqueles que figuram na base da pirâmide ou próximo da mesma. Até porque a imitação dos comportamentos dos governantes pelos governados é bastante conhecida em nossa história.

Desde o período colonial, entre os séculos XVI e XVIII, por causa da corrupção, dizia-se que era melhor ser roubado por um pirata em alto-mar do que aportar no Brasil. Obras públicas eram superfaturadas, contrabando e sonegação fiscal contavam com a conivência de autoridades corrompidas.

A vinda da Família Real e da Corte Portuguesa transferiu para o Estado brasileiros uma tradição de vícios ímprobos que perdura até hoje.

Durante o Brasil Império, no século XIX, havia um adágio famoso, que satirizava a corrupção em diferentes camadas sociais: “Quem furta um pouco é ladrão, que furta muito é barão. Quem mais furta e esconde, passa de barão a visconde”.

A proclamação da república poderia ter representado uma lufada de esperança na luta contra a corrupção, mas infelizmente a história mostrou-se diferente. A República, em certos aspectos, revelou-se ainda mais corrupta que a Monarquia.

A lista de escândalos do período republicano é extensa, e a população parece ter naturalizado esses abusos. Em certo sentido, parece que muitos brasileiros desejam poder exercer poder sobre seus concidadãos, reproduzindo a famosa frase “você sabe com quem está falando?”.

Parte do problema pode residir em nosso sistema educacional. Afinal, como afirmava Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

Imagem: Charge do Segundo Reinado sobre a corrupção na construção da Ferrovia Paranaguá Curitiba e do ramal para Antonina, que mostra os ratos devorando o Tesouro Nacional.

Edição n.º 1435.

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