A criação do bom velhinho, com suas características inconfundíveis, tem uma longa história, fruto do sincretismo entre mitologia pagã e tradições cristãs; alavancada pelas campanhas publicitárias da Coca-Cola.
Pelo lado pagão, dentre as principais referências, destacam-se as nórdicas. A primeira vem da antiguidade e trata-se do Velho Inverno, um idoso grisalho da Europa setentrional. De acordo com as lendas, o Velho Inverno passava de casa em casa pedindo comida. Segundo os costumes da época, os moradores deveriam alimentá-lo para que pudessem garantir um ano de fartura. Não preciso nem dizer que tal costume acabou influenciando a prática, comum em alguns lares, de deixar comida para o Papai Noel na noite de Natal.
Outra referência importante é ninguém menos que Odin, pai de Thor, que, de acordo com a mitologia nórdica, no período do solstício de inverno, por volta de 21 de dezembro, quando as noites são as mais longas do ano no hemisfério norte, costumava distribuir presentes às crianças num cavalo voador de oito patas, chamado Sleipner. Odin entrava nas casas, onde os moradores haviam deixado ao lado das chaminés suas botas com feno e cenouras para alimentar Sleipner, e ali também recebiam os presentes e doces das crianças.
Pelo lado da tradição cristã, a figura mais importante na construção do Papai Noel é o bispo cristão da Ásia Menor, hoje Turquia, conhecido como Nicolau de Taumaturgo ou São Nicolau, da cidade de Mira, que viveu entre os séculos III e IV d.C. Conta a tradição que Nicolau de Mira, era filho de uma família muito rica e que ficou órfão muito jovem. Desde cedo, Nicolau se dedicou à fé cristã e a ajudar os mais pobres fazendo uso de sua herança. O caso mais emblemático teria sido a ajuda em moedas de ouro que Nicolau deu de forma anônima a um pai de três filhas, para que elas pudessem formar os dotes e se casar, livrando as jovens da prostituição. Durante muito tempo, era em 6 de dezembro que se costumava presentear as crianças, no dia do aniversário de Nicolau de Taumaturgo. São Nicolau é padroeiro dos pobres, estudantes e órfãos, além de ser padroeiro da Grécia, Rússia e Noruega.
Mais de mil anos depois, foram os imigrantes holandeses, fundadores da antiga Nova Amsterdã, hoje Nova York, que levaram a crença em Santa Claus à América do Norte, como o Papai Noel é chamado nos Estados Unidos. Na Holanda, Papai Noel é chamado de Sinterklaas.
Outro momento fundamental na construção da figura do Papai Noel foi a publicação do desenho do alemão Thomas Nast na revista Harper’s Weekly, em 1881, onde já é possível conferir os principais elementos formadores da icônica figura do bom velhinho: um idoso grisalho, barbudo, barrigudo e carregado de presentes. Uma questão que chama a atenção nesse desenho é o uso de uma cachimbo pelo Papai Noel.
A Coca-Cola entrou nessa história em 1931, com uma campanha publicitária que alavancou o consumo do refrigerante nas festas natalinas. Fazendo uso do trabalho do ilustrador estadunidense Haddon Sundblom, adicionou o saco de presentes e as vestimentas vermelhas ao generoso velhinho, cor destaque da marca.
Edição n.º 1445.