Com suas majestosas copas em forma de taça, seus troncos colunares, suas folhas verde-escuras e seus galhos distribuídos em simetria radial, adornaram o horizonte numa visão vertiginosa durante milhões de anos. Sua rara beleza inspirou poetas, escritores e artistas.
Quem de nos já não se flagrou admirando o Pinheiro do Paraná? O doutor Vitor Ferreira do Amaral (1862-1953) não poderia ter escolhido nome melhor para nossa cidade. Araucária, cidade símbolo do Paraná! Araucaria angustifolia, nome científico do nosso pinheiro.
No reino das Araucárias, muitas outras árvores tornavam o lugar mais bonito. Aroeiras. Bracatingas, Bugreiros, Cedros, Erva Mate, Gabirobeiras, Guamirins, Imbuias, Ipés Amarelos e tantas outras árvores faziam desse canto da terra um lugar cobiçado.
Durante milênios a semente do pinheiro nutriu povos e mais povos. Durante milênios os frutos da gabirobeira, do araçá e da pitangueira tornaram a vida dos humanos mais doce.
Mas afinal, o que foi feito de toda aquela exuberância? Como a floresta das araucárias está relacionada à nossa história?
Por incontáveis gerações os povos nativos mantiveram uma relação sustentável com a floresta. A extração dos recursos naturais era feita de maneira mais racional pelos indígenas do que pelos colonizadores que para cá vieram. O pinhão sustentou indígenas, caboclos e imigrantes europeus em momentos difíceis.
Contudo, a excelência da sua madeira, assim como a excelência imbuia, cedros e outras madeiras de lei, condenou nossa mata nativa à queda dos gigantes.
Os colonizadores precisavam de terras para o cultivo. Os madeireiros precisavam de matéria-prima para a sua indústria. Muitos viam nas florestas um estorvo, principalmente por causa dos pinheiros. Outros viram na floresta uma mina de riquezas infindáveis. Ambos estavam equivocados. Foi então que se deu início a
uma das atividades econômicas mais importantes da história do Paraná e especialmente de Araucária, a extração madeireira.
O trabalho na atividade madeireira está entre os mais pesados e perigosos de toda história humana. Da derruba da das árvores, passando pelo transporte até o beneficiamento nas madeireiras, tudo era pesado, tudo era perigoso. Naquele tempo mesmo os donos e seus filhos estavam absorvidos pelo trabalho braçal que a atividade exigia. Era comovente ao final de um dia extenuante de trabalho testemunhar o retorno desses homens aos seus lares. O cansaço dominava, a família se compadecia!
Riqueza de uns, trabalho duro de muitos! Hoje em dia muitos idosos que no passado trabalharam na atividade madeireira são testemunhas vivas desse esforço titânico. A saúde de muitos desses senhores explica muita coisa. Problemas de coluna, quebraduras mal curadas e dores difíceis de se diagnosticar nos fazem entender que a juventude passa, mas a história deixa suas marcas.
Entre as décadas de 1870 e 1930 a economia madeireira construiu fortunas, empregou muitos homens e remodelou a paisagem do nosso município de maneira irreversível.
Quando ficou claro que as nossas matas nativas estavam sendo erradicadas do mapa, muita gente deixou o município. Entre as décadas de 1920 e 1940 a população média de Araucária cai de 11.280 para 10.805 habitantes. Essas quedas no número de habitantes são muito incomuns e normalmente estão ligadas às catástrofes ou ao fim de um arranjo econômico, no nosso caso, num arranjo econômico muito dependente da extração madeireira.
Somente a partir década de 1950 a população do município voltou a crescer, contudo, muito lentamente até a década de 1970, quando a instalação da refinaria deu novos rumos ao município.
Na memória desses homens ficaram as lembranças e muito trabalho, aventuras e preocupações que só os
trabalhadores conseguem compreender. Para nós fica o desafio de se estabelecer uma relação sustentável com meio ambiente.
*Fotografia: Serraria do Sr. Buschamann no Guajuvira, década de 1920.
*Narrativa adaptada do livro Araucária, nossa história: povoamento e trabalho, do mesmo autor. Livro este disponibilizado a todos os estudantes dos quartos anos da rede municipal de ensino.
Edição 1359.