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Professor Rafael de Jesus: Estamos nos tornando mais inteligentes?
Imagem: Pixabay, gerada por IA.

Estamos nos tornando mais inteligentes?

A resposta para a questão acima, infelizmente, é não. Um ser humano que viveu no final da última era do gelo, por volta de 10 mil anos atrás, tinha um cérebro entre 10 e 14% maior do que os nossos cérebros.

E para tornar a situação ainda mais preocupante, em grande parte do século passado, por conta das revoluções industrial, tecnológica e científica, somadas aos avanços nos acessos à escolarização, cuidados médicos e alimentação, os seres humanos dos países mais prósperos, estavam vivendo um período de retomada no aumento da sua inteligência, geração a geração. Estávamos voltando a ter a inteligência de um humano do tempo das cavernas, mas esse ciclo se encerrou no início dos anos 2000. Mas afinal, o que está acontecendo?

Para compreendermos melhor essa questão, precisamos saber como nos tornamos mais inteligentes. A inteligência tem relação com a criação de sinapses, que são as conexões microscópicas que permitem que os neurônios se comuniquem. Quanto mais você aprende, mais sinapses, quanto mais sinapses mais inteligente. Essas conexões são criadas por dois fatores: desafios e um ambiente estimulante.

Com relação aos nossos ancestrais de 10 mil anos atrás, sua inteligência era superior por conta do mundo em que viviam. Imagine que você levantou hoje cedo com vontade de comer carne, vai até a sua geladeira e faz um sanduíche com presunto, está resolvido. Um humano que vivia há dez mil anos atrás, quando queria comer carne, precisava caçar, algumas vezes um predador que também estava caçando o caçador. A arma que esse caçador usava, era fabricada por ele, assim como todas as demais ferramentas que pertenciam ao nosso implacável ancestral.

Imagine o ambiente estimulante em que esse caçador vivia, cheio de aventuras, perigos e desafios. Uma caçada se estendia por um território que cobria de Araucária a Colombo, caçando e sendo caçado por feras como o tigre dente de sabre. Ou as sinapses se desenvolviam ou ele morria, simples assim.

Hoje em dia, ao aprender a dirigir, costumamos chegar em casa exaustos, muitas vezes imaginamos ser por conta do esforço físico. Mas não é bem assim. Isso acontece porque o cérebro está criando novas conexões neurais, e isso demanda muita energia e muito esforço. Por outro lado, ao final do processo de aprendizagem você será um ser humano ainda mais inteligente. Percebe? Você se torna mais inteligente quando é colocado em um ambiente estimulante e desafiador. Como observou o escritor Andrew Marr:

“Já é tempo de procurarmos nos livrar da sensação confortável ou complacente de que os seres humanos contemporâneos, sentados em seus cafés ou ao volante de seus carros, são superiores em intelecto aos caçadores-coletores que emergiram daqueles difíceis éons africanos. Os caçadores-coletores precisavam fazer muito mais coisas diferentes do que os seres humanos de hoje, e calcula-se que os homens perderam um décimo do tamanho do cérebro em relação aos povos da última era do gelo, e as mulheres 14% (MARR, p. 34)”.

Como foi apontado, em grande parte do século XX, nos países mais prósperos, o QI médio dos seus cidadãos até estava aumentando. Esse ciclo parece ter se encerrado. De quem é a culpa?

Em primeiro lugar das telas, como as dos celulares. Justamente por isso, o dicionário de Oxford elegeu o termo “brain rot” como a palavra do ano de 2024, em tradução livre “cérebro atrofiado” ou “cérebro apodrecido”. A definição de “brain rot” que está no renomado dicionário, deixa claro o que estamos debatendo: “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (agora particularmente conteúdo online) considerado trivial ou pouco desafiador. Também: algo caracterizado como provável de levar a tal deterioração (OXFORD UNIVERSITY PRESS)”.

Resumindo, o uso excessivo de telas é contrário à lógica evolutiva de um cérebro mais poderoso.

Leituras sugeridas: Uma breve história do mundo de Andrew Marr e o artigo de Ernesto Neves para a revista Veja, com o título: Pesquisas mostram que a inteligência do ser humano está regredindo.

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