Imagine a seguinte possibilidade histórica; depois de 4 mil anos e mais de 160 gerações, dentre todos os seus descendentes, alguns formaram dois grupos onde alguns membros desses dois grupos de filhos e filhas dedicam boa parte de todo seu potencial a destruição completa um do outro. Nenhum pai deveria passar por tamanha tristeza. Tomado pela tristeza, Abraão, o pai fundador das três grandes religiões monoteístas, se entrega às lágrimas.
Em boa parte, é isso que vemos na guerra entre o Hamas e o Estado de Israel. De acordo com a tradição judaica, cristã e islâmica, árabes e judeus são descendentes do mesmo pai, Abraão. Para corroborar com nossos argumentos, uma pesquisa realizada no ano 2000 com mais de 1300 homens judeus e árabes, em mais de 30 países, revela que o DNA desses irmãos é exatamente o mesmo, todos descendem de uma mesma tribo do Oriente Médio. Para a ciência, porém, essa ascendência comum é ainda mais antiga, remontando a aproximadamente 6 mil anos atrás. Ou seja, por volta de 4 mil a.C., os pais dos palestinos e israelense faziam parte de uma só família, compartilhavam uma história, uma cultura, desafios e realizações comuns. Queria esse Abraão histórico, que compartilhassem de um destino comum e feliz.
Separados pelas circunstâncias históricas e pelos interesses das grandes potências, irmãos palestinos e irmãos israelenses vivem uma guerra, pelo mesmo território, com pequenos períodos de trégua, há mais de 75 anos. Embora os primeiros conflitos já estejam acontecendo há mais de um século, durante muito tempo, nos territórios que hoje compõem a Palestina e Israel, a relação entre os irmãos era relativamente boa.
Foram as trapalhadas do Império Britânico durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que, focado na vitória contra as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano) e no consequente desmonte do antigo Império Turco-Otomano (àquela altura mais conhecido como o enfermo do oriente), jogaram palestinos e judeus uns contra os outros.
Para garantir o apoio dos árabes contra os turcos-otomanos, as autoridades britânicas prometeram que esses povos contariam com seu apoio, num futuro a ser definido, para a criação dos seus próprios países. Em 1917, fizeram promessa semelhante para os judeus, com a famosa Declaração Balfour, do então ministro dos Assuntos Estrangeiro, Arthur James Balfour, destinada ao Lord Rothschild, presidente da Federação Sionista, na qual garantia textualmente: “O governo de Sua Majestade encara favorável o estabelecimento, na Palestina, de um lar nacional para o povo judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não judaicas existentes na Palestina […]”. Estava armada a arapuca colonialista.
O sionismo é um movimento criado na década de 1890, tendo como figura de proa o judeu austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904), que em 1896 publicou o livro “O Estado Judeu”, onde propunha a criação de um Estado Judeu soberano, habitado e governado pelos próprios judeus. Em 1897, nomes importantes do movimento, reunidos na cidade suíça de Basileia, fundaram a Organização Sionista Mundial. A partir de então, combinando planejamento estratégico, espírito de comunidade e muita competência, conquistaram apoios fundamentais à criação de um Estado. No entanto, para grande parte dos judeus o Sionismo é muito mais antigo, remontando o ano de 70 d.C., quando os romanos iniciaram a diáspora dos hebreus que se revoltaram contra o domínio opressor de Roma, foi na década de 130 d.C. que esse processo se completou e os judeus acabaram dispersos pela Europa, África e Ásia. Para nossos irmãos judeus, a Palestina sempre foi a sua Terra Prometida, confirmada numa antiga tradição judaica que remonta à antiguidade, ao finalizar as comemorações da Páscoa os judeus fazem a seguinte oração “Leshana Habaa B’Yerushalayin” (No ano que vem, em Jerusalém).
Edição n.º 1386