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Professor Rafael Jesus: As lágrimas de Abraão – parte 3 de 3

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Em 14 de maio de 1948, no último dia do mandato britânico sobre a Palestina e 5 meses e meio após a aprovação da resolução 181 da ONU, que dividiu o território entre árabes e judeus, o socialista e sionista David Ben Gurion leu no Museu de Arte de Tel-Aviv a Declaração de Independência de Israel.

Líder da comunidade judaica na Palestina, o judeu polonês Ben Gurion, foi um dos principais artífices do futuro Estado de Israel e um dos maiores estadistas do século 20. No comando da Agência Judaica desde 1935, revelou-se um estrategista brilhante. Com a aprovação pela ONU da partilha, intensificou o contrabando de armas da Europa, principalmente da Tchecoslováquia, incorporando ao Hagannah, a principal milícia judaica da Palestina, outros dois grupos mais radicais, o Irgun e a Gangue Stern, criando as temidas Forças de Defesa de Israel, conhecidas pelo acrônimo Tzahal.

No dia seguinte, tropas do Egito, Transjordânia (hoje Jordânia), Síria, Líbano e Iraque iniciaram os ataques à Israel. A guerra durou até janeiro de 1949, e ambos os lados cometeram atrocidades contra os civis indefesos. O Egito ocupou a faixa de Gaza, a Transjordânia ocupou a Cisjordânia e o Estado de Israel aumentou seu território em 23,5%, tudo isso em prejuízo aos palestinos muçulmanos e cristãos. Segundo a ONU, entre 500 mil e 900 mil Palestinos tornaram-se refugiados nos territórios ocupados por Israel ou nos países vizinhos, uma tragédia humanitária que persiste até hoje, 75 anos depois. Dois terços dos Palestinos indefesos deixaram suas casas levando as chaves na esperança de um dia retornar, o que nunca aconteceu.

Se pela partilha da ONU Israel deveria ficar com 55% do território, com o armistício de 1949 passou a controlar 75% da antiga Palestina. Por outro lado, a maioria dos judeus que viviam em países árabes foram expulsos ou imigraram por vontade própria, muitos foram para Israel.

Durante o governo egípcio do presidente Gamal Abdel Nasser (1954-1970), o golfo de Aqaba foi fechado em 1955, bloqueando a saída de Israel para o Mar Vermelho. Em 1956 o Canal de Suez foi nacionalizado, afetando os interesses britânicos e franceses na região. Os governos de Israel, Grã-Bretanha e França começaram a conspirar juntos contra o Egito. Israel foi convencido a atacar o Egito e ocupar o Sinai, alegando tratar-se de um ataque defensivo. Isso serviu de pretexto para uma intervenção anglo-francesa, que atacou o Egito e ocupou o canal de Suez, jurando querer manter separados os soldados egípcios e israelenses. EUA e URSS, as duas superpotências da Guerra Fria, embora inimigas mortais, condenaram os ataques e puxaram as rédeas dos envolvidos. O deserto do Sinai voltou para o Egito, os israelenses conseguiram o fim do bloqueio ao Mar Vermelho, os europeus voltaram para casa e uma força de paz da ONU foi enviada à região.

Em maio de 1967, o Egito fechou a passagem pelo Mar Vermelho para Israel, convencido por falsas informações de que seria atacado. Temendo um novo ataque, Israel atacou primeiro. Egito, Síria e Jordânia foram pegos de surpresa na famosa Guerra dos Seis Dias (5 a 11 de junho), onde centenas de aviões árabes foram destruídos ainda no chão. A Jordânia perdeu a Cisjordânia e a parte oriental de Jerusalém, o Egito perdeu a Faixa de Gaza e o Deserto do Sinai, a Síria as Colinas de Golã. Toda a população palestina passou a viver em território dominado por Israel, que iniciou a construção de assentamentos nos territórios ocupados.

Em 03 de outubro de 1973, eclodiu a Guerra de Yom Kippur, assim batizada por ter sido iniciada no“Dia do Perdão”, o feriado mais sagrado para os judeus, onde os egípcios atacaram o Sinai e a Síria as Colinas de Golã. Mesmo pegos de surpresa, os israelenses venceram. Concomitantemente, Iraque, Arábia Saudita e Líbia contaram as exportações de petróleo iniciando uma crise internacional marcada pelas elevações dos preços dos combustíveis. EUA e URSS forçaram um cessar-fogo seguido de um acordo, pelo qual o Egito recuperou o Sinai. Aqui em Araucária, as obras de terraplanagem da Refinaria Presidente Getúlio Vargas se iniciavam, revelando-se uma decisão ainda mais acertada do que o planejado.

Em 1978 e 1982, Israel invadiu o Líbano a fim de destruir as bases da antiga OLP (Organização para Libertação da Palestina), liderada por Yasser Arafat. A luta entre OLP e Israel durou mais de duas décadas e causou muitas mortes entre os descendentes de Abraão, até que em 1988 a OLP renunciou a luta armada e reconheceu Israel. No ano anterior, o Hamas havia sido e em 2006, por meio de eleições, assumiu o controle de Gaza, dominando a pequena faixa de terra até o presente. O acordo de Oslo de 1993 entre OLP e Israel acabou sendo implodido por extremistas de ambos os lados desde então. Os filhos de Abraão, provocados por terceiros, mantam uns aos outros, fazendo seu pai chorar copiosamente.

Edição n.º 1390