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Professor Rafael Jesus: O legado Tingui – Entre palavras e artefatos

Foto: Divulgação
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Iguaçu, Passaúna, Tindiquera, Boqueirão, Barigui, Sabiá, Tayrá e Tupi.

Basta uma breve olhada sobre os mapas de bairros, conjuntos residenciais, ruas e rios de Araucária para percebermos de pronto a presença indígena em muitos dos seus nomes.

Você sabia que Tindiquera significa local onde habitam os Tinguis? E que Iguaçu significa rio grande?

Toponímia é o estudo dos nomes próprios dos lugares, rios e outros elementos geográficos, da sua origem e evolução. Por isso é uma parte da linguística tão ligada à história, à arqueologia e à geografia. A toponímia pode nos ajudar a garimpar informações importantíssimas sobre a formação de um determinado lugar.

Etimologia é o estudo da origem das palavras, da sua história, identificando as línguas das quais essas palavras derivam, como elas mudaram e quando passaram a fazer parte da nossa língua. O dicionário especializado que nos traz essas informações é chamado de Dicionário Etimológico.

Toda palavra tem uma história e toda história tem um começo. E por onde começamos? É isso mesmo, pelos povos originários, os indígenas!

Você já chamou alguém de piá? Seus familiares chamam os meninos de piazada? Você conhece a origem da palavra piá? Pois bem, saiba que o substantivo piá significa menino e era a forma carinhosa como as mães tinguis se referiam aos seus filhos, meninos tão amados que eram. E como foi que esse substantivo tão lindo chegou até nós?

Homens de origem europeia se uniram às mulheres tinguis que aqui viviam, tiveram filhos e filhas que ficaram conhecidos como caboclos. Por isso caboclo significa procedente do branco, filho do homem branco, mestiço de branco e indígena. Portanto quando a mãe tingui ou cabocla falava “vem cá meu piá” ela também estava dizendo “vem cá meu filho amado”. Sentimentos lindos têm palavras lindas.

Para além das palavras, sem nenhuma dúvida, é na pele de muitos de nós onde a presença indígena fica mais evidente. Basta olharmos para o lado, para percebermos a presença da ascendência indígena entre muitos amigos ou em nós mesmos.

De acordo com os autores do livro Agricultura e Indústria: memória do trabalho em Araucária:

“Dos grupos indígenas que habitavam a região, o que mais se destacou, provavelmente pela quantidade de indivíduos existentes, foi o dos Tinguis, uma tribo tupi-guarani. A presença desse grupo no local deu origem ao nome primitivo da região em que se assenta Araucária. Chamavam-na de Tindiqüera, que em tupi-guarani significa pertence aos Tingüis. Estes índios dominavam os campos de Curitiba a partir da encosta ocidental da Serra do Mar (território em que localizam hoje os municípios de São José dos Pinhais, Piraquara, Campo Largo, Araucária, Campina Grande e Rio Branco).”¹

Provavelmente você já ouviu falar em pedra de bugre. Caso nunca tenha ouvido falar, saiba que em toda região sul do Brasil essa expressão costuma se referir a artefatos arqueológicos indígenas líticos, ou seja, ferramentas de pedra encontradas por pesquisadores e pessoas comuns como eu e você. Uma questão que nem todos estão cientes é do imenso valor histórico, arqueológico e patrimonial desses artefatos. Afinal, essas ferramentas foram feitas pelas mãos de pessoas que viveram há séculos, talvez milênios, e que as mesmas dedicaram dezenas e às vezes centenas de horas fabricando esses instrumentos. Por isso, quando esses artefatos são encontrados aqui em Araucária, orienta-se que os mesmos sejam entregues aos funcionários do museu Tingüi-Cuera, que irão promovê-los ao devido lugar pedagógico merecido pelos mesmos.

Salvaguardar as palavras e artefatos continua fundamental para nos compreendermos enquanto humanidade!

Explicação adaptada do livro Araucária, nossa História: povoamento e trabalho

¹ ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. Agricultura e Indústria: memória do trabalho em Araucária. Araucária: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010, p. 14-15.

Edição n.º 1400