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Professor Rafael Jesus: Os poloneses e a terra prometida

Foto: Divulgação
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A busca pela terra, eis uma história que tem movido povos desde os tempos de Abraão. Grandes líderes bíblicos estavam determinados a garantir para seu povo terras, para que os mesmos pudessem criar seus filhos com dignidade, devoção à Deus, respeito à família e à tradição. Os poloneses que aqui se estabeleceram eram muito religiosos e conheciam muito bem essas histórias. Em muitos aspectos sentiam até que estavam vivendo uma história muito parecida com aquela vivida pelos hebreus do Antigo Testamento.

A Polônia, desde o final do século XVIII, assim como a antiga terra dos povos da Bíblia em vários momentos históricos, não era uma nação livre e independente. Entre 1772 e 1795 seu território foi dividido entre Rússia, Prússia e Áustria, eram as chamadas Partilhas da Polônia.

Seu corajoso povo é claro que resistiu como pôde, entretanto, os governantes das potências dominadoras reagiram restringindo a liberdade dos mesmos.

Grande parte da Polônia até então estava organizada num tipo de economia chamada de feudal, onde grandes proprietários de terras, chamados Senhores Feudais, eram sustentados pelo trabalho dos camponeses, os chamados Servos, que entregavam boa parte da sua produção em troca do uso da terra e proteção. Acontece que com a Revolução Industrial essas relações foram sendo desfeitas pelas novas condições de trabalho. De acordo com a explicação histórica elaborada pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo:

“Com o domínio dos impérios russo, austríaco e, sobretudo, prussiano, o camponês-aldeão, desprovido da proteção paternalista do senhor feudal, passou a dispor somente da força de trabalho para a sua sobrevivência e, na medida que não tinha condições de pagar os elevados impostos territoriais exigidos pelo governo prussiano, era obrigado a vender suas propriedades. Essa situação se agravou a partir de 1870, com o surgimento do Império Alemão, quando os territórios habitados por poloneses (Silésia, Pomerânia e Posnânia) passaram a ser objeto de vasta ação de despolonização.

O território polonês ocupado pela Rússia era composto por uma população predominantemente camponesa, cuja grande maioria vivia em propriedades de 2 a 5 hectares. Como não conseguiam ganhar o suficiente para a sobrevivência da família, muitos desses agricultores passaram a procurar emprego nas indústrias que se encontravam em processo de expansão graças ao incentivo do governo russo.

Na Galícia [domínio austríaco], apesar da situação econômica do camponês ter melhorado após o término da servidão, em 1848, quando ele teve acesso à propriedade da terra, o problema da agricultura também era evidente, pois estava ligada à estrutura fundiária dominada por minifúndios. Vivendo em propriedades de 0,5 a 2 hectares, o campesinato, impedido de desenvolver a agricultura, procurava melhorar suas condições de vida optando pela migração sazonal para outros territórios e posteriormente pela emigração para a América (ARAUCÁRIA, vol. 5, pp. 36-37).”

Foi então que as políticas de atração de imigrantes europeus implementadas pelo governo da Província do Paraná vieram ao encontro dos anseios dos poloneses que sonhavam em conquistar seu pedaço de terra. O presidente da província Alfredo Taunay chegou a apresentar o Império e o Paraná como terra da promissão, numa clara referência aos escritos bíblicos. Os Polacos, religiosos que eram, viram na adesão a esse grande projeto a possiblidade de finalmente terem seus dias de dádivas, como nas sagradas escrituras:

“E nos trouxe a este lugar [Deus], e nos deu esta terra, terra que mana leite e mel. E eis que agora eu trouxe as primícias dos frutos da terra que tu, ó Senhor, me deste. Então as porás perante o Senhor teu Deus, e te inclinarás perante o Senhor teu Deus. (BÍBLIA SAGRADA, Deuteronômio, capítulo 26, versículos 9 e 10).”

A propaganda governamental não contou toda a verdade. Os desafios, esses sim eram de proporções bíblicas. Os corajosos homens, mulheres, idosos e crianças não se intimidaram, afinal, como diz o provérbio polonês: “Sem trabalho não há pão.”

Conhecer a História da imigração polonesa tem sido fundamental à compreensão histórica mais aprofundada da História europeia, brasileira e paranaense, em toda sua complexidade e contradições.

CITAÇÃO E SUGESTÃO DE LEITURA: ARAUCÁRIA, Prefeitura Municipal. A construção de uma história: a presença étnica em Araucária. Coleção História de Araucária, vol. 5. Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 2010, p. 36-7.

Explicação adaptada do livro Araucária, Nossa História: povoamento e trabalho.