Impossível mencionar o Arquivo Histórico do Município de Araucária sem citar o arquivista Sebastião Pilatto dos Santos, responsável em cuidar dos documentos, jornais, fotos, registros da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, registros eleitorais e judiciais, livros de escolas e toda a papelada que compõe o acervo, e manter viva a memória da cidade. Aos 59 anos de idade, 37 anos e meio de trabalho, sendo 25 anos na Prefeitura e quase metade desse tempo (17 anos) dedicado a cuidar do Arquivo Municipal, ele agora vai se aposentar.
Sentado diante dos milhares de documentos que ajudou a resgatar, recuperar e conservar, e que sempre se confundiram com a sua rotina, Sebastião deixa transparecer um olhar de preocupação, um misto de alegria com a chegada da aposentadoria e do merecido descanso, com a tristeza de deixar para trás parte de uma história que ajudou a construir. “Cumpri o papel de ter lutado para manter o Arquivo vivo.
Lembro quando cheguei aqui em 2001, com a função de ajudar na reorganização dos documentos e iniciar algumas pesquisas. Não tinha contato com essa parte importante da história, pois até então trabalhava como policial militar, depois como secretário em escolas, conselheiro tutelar. Aos poucos fui tomando gosto pelo trabalho, mergulhando de cabeça nas pesquisas. Fico entusiasmado quando pego um livro da Prefeitura, de 1976, por exemplo, e lá é possível conhecer as famílias daqui, suas profissões e atividades, muitas já extintas”, recorda.
Sebastião viveu momentos importantes ao logo dos anos que esteve à frente do Arquivo, mas enfatiza as visitas de pesquisa que fez pelo interior do Município, conhecendo o pequeno trabalhador, aquele que sofre e nem sempre é mencionado na história, apesar de fazer parte dela. Essas pesquisas trouxeram conhecimento, com riqueza de detalhes, e deram origem a uma coleção de cinco publicações do próprio Arquivo, de um livro recente intitulado Saberes de Araucária, que contém causos, culinária antiga, simpatias, benzimentos e medicina popular, além de outro livro sobre a história dos 18 bairros da cidade, concluído desde 2016, mas que ainda não foi publicado.
Continuidade
“Por ter acompanhado de perto todo esse trabalho, as pesquisas, os contatos com as pessoas, e saber que agora vou deixar tudo para trás, vem a preocupação de como o Arquivo vai ficar, se meu substituto vai se empenhar em dar continuidade ao trabalho”, comenta Sebastião, que hoje não precisa mais recorrer às informações catalogadas, pois sabe na ponta da língua onde cada documento, cada foto e cada publicação está arquivada.
Com a iminente aposentadoria, o araucariense torce para que sejam mantidas as pesquisas, que as portas continuem abertas para as escolas e comunidade, que prossigam as campanhas para resgatar fotos e documentos antigos junto aos moradores. “No mais, só tenho a agradecer ao pessoal que trabalhou comigo ao longo desses 17 anos, e a confiança e receptividade das pessoas que nos receberam durante as entrevistas, por terem dividido conosco um pouco das suas experiências de vida, fundamentais para a construção da história da cidade”.
Texto: Maurenn Bernardo
Publicado na edição 1161 – 02/05/2019