Será que eles têm noção do que dizem?

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Nem sempre acompanhar as sessões plenárias da Câmara de Vereadores é algo prazeroso. Isso porque, lá, o direito a palavra é dado somente aos edis. Então, muitas vezes somos obrigados a ouvir alguns absurdos sem ao menos podermos dar um pitaco que seja. Eu, particularmente, polemista que sou, não aprecio muito aqueles lugares em que o contraditório não é permitido. Aos treze anos, por exemplo, deixei de frequentar a Igreja Católica quando, após o padre proferir um sermão como se fosse o dono da verdade, não abriu espaço para o debate. Mas isso é uma outra história. Voltando as sessões plenárias da Câmara, dia desses, minha vontade foi a de pedir a palavra e esclarecer algumas declarações dadas por alguns vereadores, já que elas afrontavam um princípio básico da nossa democracia: a separação entre os poderes. Os edis em questão eram Esmael Padilha (PSL), Francisco Carlos Cabrini (PP) e Pedro da Gazeta (PMDB). O trio, sem nenhum constrangimento, meio que reclamavam da falta de estrutura para manutenção das estradas dos distritos de Guajuvira, Tietê e Colônia Cristina. Uma crítica sobre as condições oferecidas pelo poder público para esses setores seria aceitável e até elogiável, já que é tarefa do Poder Legislativo fiscalizar o trabalho do Poder Executivo. Eles, porém, gritavam em primeira pessoa: eu não tenho condições disso, eu não tenho equipamentos para aquilo e assim por diante, numa clara assunção de que são eles que mandam nestes distritos. Ora, sabemos que a política em nosso país tem dessas. Partidos se coligam para disputar a eleição e, em caso de vitória, administram juntos. Porém, essas cotas nos governos é algo que não se admite publicamente, pois ao fazerem isso as partes de certa forma confessam um crime. Afinal, no papel, Executivo e Legislativo são poderes distintos, sendo que cabe ao segundo fiscalizar o primeiro. Agora, se os fiscalizadores se gabam (ou no caso em questão, reclamam) de que são eles os responsáveis por administrar aquilo que “apenas” deveriam vigiar, ferimos de morte a independência que deveria haver entre os poderes. Nunca é bom esquecermos que na administração pública só é permitido a seus integrantes fazerem aquilo que está no papel e nele não existe a permissão de que o Poder Legislativo administre setores de responsabilidade do Poder Executivo. Também em sessão recente da Câmara de Vereadores vi outro vereador, de certa forma, gabar-se das vantagens que o cargo lhe propicia. Paulo Horácio (SDD) numa defesa sem sentido de um órgão da Prefeitura, a Central de Ambulâncias, afirmou em alto e bom som que tem colado em sua geladeira o número de telefone do coordenador do setor, sendo que seria para este que ele ligaria caso precisasse de uma remoção num caso de emergência. Ora, talvez não tenha sido essa a intenção do edil, mas ali ele admitiu que goza de privilégios que o cidadão comum não possui. E, pior: afirmou que utilizará desse privilégio caso precise. Afinal, prezados leitores, quantos de nós, tem o número do telefone daquele que coordena as ambulâncias da Prefeitura? A nós, cidadãos comuns, caso precisemos, restará ligar no telefone geral do serviço e torcer para que ele não esteja ocupado. Pode parecer bobagem, mas essa relação meio promiscua e nada independente que há entre Câmara e Prefeitura ajuda a entender o porque, nem sempre, as coisas acontecem como deveriam acontecer em Araucária. E olha que eu estou falando de declarações dadas por quatro edis somente no mês de abril e maio. Se apurarmos um pouco mais os ouvidos, ouviremos (se já não ouvimos) coisinhas semelhantes também dos outros nobres parlamentares municipais. Uma pena! Comentários são bem vindos! Até semana que vem!

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