Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio em algum lugar do mundo. Dados levantados pela instituição também apontam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. No Brasil, a campanha Setembro Amarelo para prevenção ao suicídio teve início em 2015, com o objetivo de popularizar a discussão em torno do assunto e ajudar a identificar sinais de alerta.
O assunto é sério e precisa ser amplamente divulgado, especialmente em períodos sensíveis como o que estamos vivendo, com a pandemia da Covid-19. Por isso é muito importante que, diante de qualquer sinal mínimo de alerta, a pessoa procure por ajuda. O ideal é ter um acompanhamento psicológico, além do apoio de pessoas próximas, como familiares e amigos.
O psiquiatra Luciano Sankari, que atuou durante muitos anos na rede pública de saúde de Araucária e atualmente atua na Clínica São Vicente, explica que no Brasil o coeficiente de suicídios é relativamente baixo, com 6,3%, mas é um país muito grande e populoso, fato que o coloca, em números absolutos, entre os 10 maiores países com números de casos. “Fala-se muito em aumento de casos durante a pandemia, mas os estudos ainda não são definitivos. Na prática, o que notamos é um aumento no número de tentativas de suicídio. E esse aumento dos casos não se deu somente pela visibilidade, de fato houve um acréscimo na proporção de pessoas que tentam tirar a própria vida”, observa o psiquiatra. O médico lembra ainda que há um número crescente de casos entre pessoas de 15 a 24 anos e que a frequência tem sido mais elevada em adultos jovens.
Motivação
Mais do que um diagnóstico de depressão ou ansiedade, o suicídio tem frequência maior entre pessoas que sentem desespero, desesperança e desamparo, independente da doença. “Pessoas que não têm uma rede familiar de suporte, pessoas que estão em uma situação de desespero, estas se sentem acuadas, pressionadas e não conseguem ver esperança para sair disso. Elas tendem a pensar que eliminar esse sofrimento, por meio da morte, pode ser uma coisa melhor ou aceitável. Falar sobre suicídio, falar sobre pensamentos, falar sobre sentimentos e desejo de morte não aumenta o risco de suicídio, pelo contrário. É interessante porque nem sempre as ameaças suicidas dizem de fato o quanto de potencial essa pessoa tem para tentar contra a própria vida. É preciso ficar atento quanto às pessoas que falam menos, que externam menos suas opiniões e que talvez, por conta disso, não sejam notadas. Estas apresentam, ao meu ver, uma situação muito mais complexa e de maior risco. Mudanças de comportamento, um comportamento mais retraído, sintomas de angústia, de ansiedade, de choro mais frequente, expressões como ‘não é bom viver’, ‘não gostaria mais de viver’, ‘o mundo seria melhor se eu não estivesse aqui’, devem chamar atenção”, orienta Dr Luciano.
Pandemia
O médico lembra que estamos passando por uma época onde as pessoas tem conversado menos, se expressado menos e certamente aqueles que não conseguem encontrar um local adequado, bons ouvidos para ouvir seus problemas, suas dificuldades, possuem risco maior por não conseguirem trabalhar de forma adequada seus pensamentos, “Existe a necessidade de que as pessoas pensem na prevenção do suicídio como uma melhoria global da qualidade de vida. Quanto mais possibilidades de lazer, quanto mais possibilidades de expressar sentimentos, quanto mais diversidade de esporte, cultura, quanto mais saudável for esse ambiente familiar, onde as pessoas possam se comunicar com mais tranquilidade, onde as pessoas possam ser ouvidas de uma forma melhor, mais improvável se torna que uma pessoa venha a apresentar um nível de sofrimento intenso ao ponto de pensar em suicídio”, esclarece.
Texto: Maurenn Bernardo
Publicado na edição 1280 – 23/09/2021