A Secretaria Municipal de Educação (SMED) registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Araucária na tarde de segunda-feira, 15 de junho, diante dos ataques racistas contra uma live que foi transmitida pelo seu canal do Youtube no último dia 10, cujo tema era “Reflexões necessárias para o combate ao racismo no ambiente escolar”. Os profissionais que participaram da formação continuada, foram vítimas de ofensas racistas escritas no chat da live. Através de uma nota de repúdio, a SMED condenou com veemência os ataques e ofensas e disse que atos dessa natureza são incompatíveis e absurdamente inaceitáveis no âmbito de uma sociedade que preza pela democracia, diversidade e convivência pacífica e respeitosa entre seus integrantes.
Ainda na nota, a SMED disse que, junto à Prefeitura Municipal, tomará todas as providências para apurar o fato e não poupará esforços para identificar os autores desse ato deplorável, no intuito de que sejam aplicadas as medidas cabíveis. “A SMED como rede de combate ao racismo (junto ao Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial de Araucária, Procuradoria Geral do Município, Ordem dos Advogados do Brasil, Grupo Africanidades de Araucária, Fórum de Combate ao Racismo de Araucária e do Coletivo Feminino de Araucária) definirá novas ações educativas, com uma agenda de formação, visando ampliar a reflexão, envolvendo toda nossa sociedade, reafirmando a posição institucional e política contra todo ataque discriminatório e desrespeitoso aos direitos humanos”, destacou a nota.
A secretária municipal de Educação, Adriana Palmieri, acrescentou que as imagens printadas do canal YouTube “Educação Araucária” foram juntadas ao boletim de ocorrência, e o material será encaminhado para o procurador geral do município, Dr Simon Caldas. “A PGM vai acionar judicialmente os responsáveis junto ao Ministério Público. Mas a SMED não vai se intimidar e conforme planejamento, continuará realizando as formações virtuais sobre várias demandas e sobre essa temática também. Já estamos com todo cronograma de formações formatado de acordo com nosso plano de formação para 2020”, explicou Adriana.
SOS Racismo
O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Araucária (COMPIR) também repudiou os ataques racistas durante a live da SMED, e registrou denúncia no SOS Racismo (órgão vinculado à Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos – SEJU). “Divulgamos uma carta de repúdio, e vamos brigar por justiça, porque podemos nos vamos nos calar diante dos frequentes casos de racismo que vem acontecendo em nossa cidade”, comentou a presidente do Conselho, Adriane Ribeiro.
CARTA REPÚDIO
O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Araucária (COMPIR) vem a público, manifestar seu total repúdio e sua preocupação em relação aos casos de racismo que se repetem em nossa sociedade, os quais expressam ódio e acabam por segregar e exterminar negros e negras.
As suplicas do cidadão negro norte americano George Floyd, ignoradas pelo policial branco que o sufocou até a morte fez ressoar mundialmente a frase que a população negra tem dita reiteradamente também, aqui no Brasil: “Eu não consigo respirar”. A repercussão do caso que desencadeou manifestações no mundo todo revela também que não se trata de um episódio novo, mas sim de um novo momento onde as câmeras estão ligadas.
Em nosso país, um menino negro de quatorze anos, de nome João Pedro foi alvejado e morto no interior de sua própria casa, os autores do crime são policiais, os quais justificam ações como essa como operações mal sucedidas, mas que curiosamente são recorrentes em áreas periféricas e em desfavor do povo negro.
É inaceitável que a população negra brasileira que já padece pela falta de políticas públicas e ações afirmativas especificas seja alvo da repressão policial que insiste em abordagens truculentas e desproporcionais, a qual lança mão da presunção de inocência a depender da cor da pessoa abordada. Não é razoável que o Estado brasileiro naturalize a violência e a inferiorizarão do povo negro como recusa de sua identidade étnica, cultural e religiosa.
Os recentes e lamentáveis casos, tal como a morte do musico negro que foi metralhado pelo exército (Rio de Janeiro) e do menino Miguel de cinco anos (Pernambuco) que foi largado a própria sorte pela patroa da mãe expõem a perversidade do racismo estrutural, revelando o descaso e abandono para com a vida de pessoas negras. Precisamos questionar: E se as vítimas fossem brancas? Quais seriam as penalidades se os criminosos fossem negros?
A ineficiência do Estado agrava a desigualdade e o acesso da população negra a saúde, a educação, ao trabalho e principalmente ao tratamento digno. No Brasil somos perto de 60% (sessenta por cento) entre
pardos e pretos, colocados a margem desde a colonização, por isso exigimos que nossas reinvindicações sejam ouvidas como alternativas para uma sociedade verdadeiramente justa, onde os crimes raciais sejam “inafiançáveis”, e os seus autores sejam punidos na forma da lei.
Isto posto, nós membros desse Conselho temos o direito e a obrigação de denunciar, clamar por justiça e manifestar o nosso gesto de repúdio pelas atrocidades cometidas contra o nosso povo. Atrocidades estas que restam inquestionáveis diante das inúmeras estatísticas que evidenciam a realidade nacional.
Queremos um basta! Parem de nos matar! Queremos respirar e viver a plena liberdade.
Texto: Maurenn Bernardo
Foto: divulgação
Publicado na edição 1217 – 18/06/2020