Tatuzinho sai das ruas para brilhar nos campos e na vida

Aos 76 anos, o senhor Tatuzinho ainda bate uma bolinha e treina novos jogadores
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Aos 76 anos, o senhor Tatuzinho ainda bate uma bolinha e treina novos jogadores
Aos 76 anos, o senhor Tatuzinho ainda bate uma bolinha e treina novos jogadores

Quem diria que aquele garoto que perambulava pelas ruas do Rio de Janeiro sem rumo ou oportunidades na década de 40 estudaria dos Estados Unidos alguns anos depois, prestaria serviços a uma das maiores companhias do Brasil e ainda usaria o futebol como meio para incentivar outros jovens a se tornarem cidadãos honrados? Essa é a história de José Ferreira da Silva, conhecido popularmente como Tatuzinho e responsável pelo nome da copa que movimentou o esporte dos bairros de Araucária nos últimos meses.

Muitos conversam com esse senhor pelos campos da cidade, ouvem suas histórias e até jogam futebol com ele nos finais de semana, mas não imaginam tudo que ele passou para chegar aos gramados e à sonhada aposentadoria. “Eu nasci em 1939 entre as cidades de Capoeira e Caetés, no estado do Pernambuco, e tive uma infância muito simples. Por isso, com uns nove anos de idade fui sozinho para o Rio de Janeiro”, conta.

Ao chegar sem dinheiro à cidade grande, os primeiros hoteis que receberam o pequeno aventureiro foram as ruas e um caminhão improvisado para o transporte de passageiros. “Eu dormi embaixo da ponte e em um pau de arara por quase um ano e meio até que engraxei os sapatos de um homem que decidiu me ajudar”.

Segundo o senhor José, aquele homem o levou para a casa de uma mulher que cuidou dele por alguns anos e ainda o auxiliou a conseguir seus primeiros documentos. “Fui registrado aos 17 anos, mas colocaram no documento que eu tinha dez anos, então pela carteira eu ainda estou nas minhas 65 primaveras”, conta o araucariense, que afirma estar completando 76.

Pouco tempo depois de ter sido registrado, o jovem recebeu a triste notícia de que o senhor que pagava suas despesas havia falecido. “Então deixei o Rio de Janeiro e fui morar em São Paulo, onde passei a trabalhar no metrô”. Ele não sabia, mas ali estaria a maior oportunidade de sua vida. “Eu comecei a trabalhar como ajudante e fui recebendo promoções até que meu chefe, um dos maiores engenheiros da época, me convidou para estudar nos Estados Unidos. Com certeza eu aproveitei!”.

No coração da América do Norte, Tatuzinho trabalhou em diferentes empresas e fez um curso para se tornar mestre de obras. “Quando voltei ao Brasil já comecei a trabalhar em empresas terceirizadas da Petrobras e cheguei a comandar 1.500 funcionários”, comemora o aposentado, que passou pelas cidades de Brasília, Poços de Caldas e Cubatão até chegar em Araucária. “Aqui eu gostei da cidade e não quis mais sair”.

Para conseguir se instalar de uma vez por todas, o mestre de obras prestou concurso para a Prefeitura e conseguiu uma vaga como encarregado de pintura na Secretaria de Obras. “Trabalhei lá por 21 anos e ainda tive a oportunidade de me dedicar ao futebol amador de Araucária”.

Vida de jogador

Segundo ele, sua paixão pelo esporte começou nas estradas empoeiradas do Pernambuco e o acompanharam ano após ano. “Eu até cheguei a jogar no profissional do Palmeiras e enfrentei times tradicionais como o Corinthians e o Santos, mas um acidente na época fez com que eu tivesse que me afastar”, lamenta.

Assim, quando teve a oportunidade de voltar aos gramados em Araucária ele não perdeu tempo e entrou para o antigo time do Seu Mané, depois para o Columbia, Grêmio, São Paulo e Pinheirão. “Também joguei pelo Seleto do Paraná lá em Matinhos e acabei fundando em 1977 o nosso Seleto Futebol Clube, que venceu várias vezes a Primeira Divisão, jogou na Taça Paraná e até hoje participa nos torneios da cidade”.

Essas conquistas aconteceram enquanto o senhor Tatuzinho dividia seu tempo entre o futebol amador e sua profissão, mas hoje ele tem a alegria de dedicar-se inteiramente ao esporte. “Eu amo futebol porque ele tira jovens das drogas, os afasta das bebidas alcoólicas e os ajuda a se tornarem bons cidadãos. É por isso que eu os incentivo a jogar e continuarei nos gramados com eles enquanto eu conseguir”, promete.

Texto: Raquel Derevecki / Foto: Everson Santos

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