Um Grande Amigo me Deixou!

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Perdi na sexta-feira (25) um grande amigo. Daqueles que dificilmente a vida conseguirá repor. João de Souza Braga é a definição perfeita da frase “sou brasileiro e não desisto nunca”. Deixou-nos aos 86 anos. Talvez vocês não o conheçam. Ele era morador do bairro Costeira, onde resido. Foi um dos primeiros a fixar residência no Jardim Chantilly, isto nos idos de 1.980. Quando minha família deixou Curitiba e veio para Araucária, em 1.989, eu tinha quatro anos e o já aposentado Seu Braga, como aprendi a chamá-lo, foi meu primeiro amigo, se é que criança tem amigo “gente grande”.

A casa do Seu Braga era um casebre. Ele era um homem simples. Gaúcho da cidade de Passo Fundo, nascera em 1.925. Correu o Brasil na boleia de um caminhão e quando finalmente alcançou a aposentadoria resolveu descansar em Araucária, onde comprou um terreno da Imobiliária G. Lafitte, que acabava de lançar o loteamento Chantilly II. Lembro-me que passava tardes inteiras na casa do velho Braga. Ele era um conhecedor do mundo. Sentávamos em banquetas do lado de fora de sua casa, debaixo de um eucalipto, tomávamos chimarrão e o caminhoneiro aposentado começava a contar suas estórias. E eram muitas as estórias.

Seu Braga não tinha estudos, porém era um sábio. Foi com ele que aprendi a gostar de política. O homem era fã de Getúlio Vargas, a quem solenemente chamada de “finado Getúlio”. Sempre me dizia que Getúlio sim fez muito pelos trabalhadores brasileiros, sem nunca se esquecer de acrescentar que o finado Getúlio era gaúcho, o que lhe enchia de orgulho. Também não se esquecia dos tempos da ditadura militar, período – aliás – que ele até via com bons olhos. “Era um tempo bom Crei (era como ele me chamava). Só não dava pra falar muito, senão os homens sumiam com a gente”, comentava. Certa vez, quando estávamos falando sobre um assassinato que havia acontecido no bairro, ele soltou uma pérola: “Olha, Crei, do jeito que andam as coisas, é só com a volta da ditadura para acabar com esses crimes. No tempo dos militares, não havia dessas coisas”.

É óbvio que nem tudo o que o Seu Braga dizia podíamos levar em consideração, como eu mesmo ia aprendendo ao comparar a sua versão da História com o aprendizado que recebia na escola. Mesmo assim, nunca perdi o encanto pelos causos contados por aquele velho senhor. Um personagem político que o tirava do sério era o ex-presidente Fernando Collor de Mello, a quem ele carinhosamente chamava de “safado”. “O Collor roubou nossas poupanças, Crei”, indignava-se. Quando o país possuía índices gigantescos de desemprego, Seu Braga sempre comentava: “É, Crei, a coisa não tá fácil. Quem tem o seu empreguinho que se agarre”. E eu balançava a cabeça em sinal de concordância.

Seu Braga também gostava de acompanhar a política local. Recordo-me que ouvi dele uma das minhas lembranças mais antigas sobre a política araucariense: “Aqui, Crei, até caixão vazio andaram enterrando”, contava e complementava: “o Rogério se acabou”. Só anos mais tarde entendi com mais detalhes a história toda. Ele também vivia dizendo que a Prefeitura iria abrir a Manoel Ribas até a Caximba. “Crei, quando abrirem a Manoel Ribas até a Caximba, você vai ver o que é movimento nessa rua”, profetizava. Faleceu sem ver a via aberta.
Como boa parte da população, também era descrente da política local. Por anos ouviu os candidatos a prefeito prometerem que iriam asfaltar o jardim Chantilly. “Crei, se os políticos resolverem cumprir suas promessas nós vamos ter um asfalto de mais de um metro de espessura aqui”, divertia-se. Sempre fora eleitor de Zezé. Menos em 2008. “Crei, depois que o Olizandro fez o asfalto aqui pra nós como é que eu vou votar no Zezé?”, dizia, meio que tentando justificar a “traição” que estava prestes a cometer.

Eram tantas as histórias contadas pelo velho Braga, que juntas elas dariam um excelente livro de contos. Talvez, um dia, eu tente fazer isso. Por ora, paro por aqui. Peço desculpas aos leitores, vez que, diferentemente do que sempre faço, não escrevi este texto pra vocês e sim para mim. Até semana que vem.

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