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Foto: Raquel Kriger

Segundo a Organização Mundial da Saúde, existe uma estimativa de que mais de 30 milhões de animais abandonados vivam pelas ruas do Brasil. Em Araucária, não há um número oficial de animaizinhos vagando sozinhos, desprotegidos, com fome, sujeitos a atropelamentos, agressões, doenças, envenenamento, entre outros problemas. A única certeza é que os números poderiam ser ainda maiores se não fosse o trabalho incansável dos protetores independentes.

Todos os dias eles lutam contra as dificuldades para resgatar e cuidar de muitos cães e gatos que foram abandonados, é um trabalho voluntário, que demanda muito amor e carinho com os animais.

Embora no Brasil o abandono de animais seja considerado crime desde 1998, de acordo com a Lei Federal 9.605/98, e tenha sido aprovada a Lei Federal 14.064/20, que aumentou a pena de maus tratos com reclusão de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda do animal, os casos de abandono não param.

A rede de proteção independente em Araucária é bastante ativa, são vários protetores acolhendo animais quase todos os dias, fazendo campanhas de adoção, rifas e vaquinhas para arrecadar recursos em prol dos tratamentos dos resgatados, uma verdadeira força-tarefa que tem ajudado a reduzir a quantidade de animais circulando pelas ruas sem um lar. O próprio Jornal O Popular tem sido uma ferramenta importante na divulgação desse trabalho e através das suas redes sociais, dezenas de cães, gatos e outros animais desaparecidos já foram encontrados, evitando assim que fiquem pelas ruas. Muitos também encontraram um novo lar atendendo o apelo estampado em nossas páginas.

Não dá pra enumerar quanto são os protetores que existem na cidade, porém conversamos com três deles, que se dizem apaixonados pela causa animal e que não se cansam de ajudar nessa missão.

Ieda Maria Ohpis é protetora de animais há mais de 30 anos, praticamente desde a sua infância. “Sempre tive animais e cuidava deles com amor e carinho, me compadecia quando via animais na rua com fome, sede, frio e medo, sempre procurava ajudar na medida do possível. Ao longo dos anos comecei a resgatar animais doentes, atropelados, cuidava deles, castrava, vacinava e doava para lares onde fossem tratados com dignidade. Fica difícil dizer quantos animais resgatei, mas tem alguns resgates que ficam na memória. Desses, tem 4 que cito aqui: a Vitória, que teve tumor em uma das patas e precisou amputar, o Zeus que regatei na rua com um tiro próximo ao olho, e a Tekila, a qual presenciei o atropelamento dela. Parei para socorrer e ela sobreviveu, só que infelizmente perdeu os movimentos das patas traseiras, e ainda tem a Hope, que veio de resgate em um estado que inspirava muitos cuidados. Ela foi socorrida e tratada e hoje está bem. Veio para fazer lar temporário há 5 anos e está comigo até hoje. A Vitória e o Zeus infelizmente viraram estrelinhas e a Tekila, apesar da sua condição, vive feliz”, relata.

Ieda conta que atualmente mantém 3 animais em casa e vários outros que ela trata nas ruas todos os dias, e sempre que faz isso, eles trazem um “coleguinha” para comer também. “Com esse aumento, surgem algumas dificuldades, como comprar ração, dar vermífugo, vacinas e atendimento veterinário. Tudo isso tem um custo e lamentavelmente sabemos que acontece em virtude dos abandonos, que são cometidos por pessoas irresponsáveis. Muitas adotam um animal, depois não querem mais, daí simplesmente descartam na rua”, lamenta.

A protetora acredita que uma maneira de frear o problema seria adotar uma fiscalização mais eficaz, já que em Araucária existem várias leis que favorecem os animais, embora estas ainda não estejam sendo aplicadas. “Em algumas épocas era mais difícil resgatar, cuidar e arcar com custos de cirurgias, pensei várias vezes em desistir desse trabalho. Mas em 2013 resolvi cursar Medicina Veterinária na Universidade Tuiuti do Paraná, para que com conhecimentos e habilidades especificas na área, pudesse ajudar não só os animais que resgato, como outros animais. Em dezembro de 2020, me formei em Medicina Veterinária, tendo realizado meu sonho. Missão cumprida e agora atuando como protetora e Médica Veterinária”, comemora.

José de Moraes Dias, mais conhecido como Zezinho ZPA, relata que começou a se dedicar a cuidar dos animais quando andava pelas ruas e ficava triste em ver muitos abandonados, sofrendo, alguns com ninhadas inteiras passando frio, fome, com sarna, verme e ainda ficando expostos a todo e qualquer tipo de perigo. “Se circularmos pelos bairros, é comum encontrarmos, no mínimo, uma rua com algum animal nessas situações. E foi diante dessa triste realidade que decidi fazer alguma coisa e me tornei um protetor. Hoje, felizmente, somos muitos, e um ajuda o outro, o que nos motiva a se dedicar cada vez mais à proteção animal”, diz.

O protetor conta que quando começou seu trabalho voluntário, há cerca de sete anos, fazia alguns resgates e publicava em suas redes sociais para encontrar um lar para os animais, porém não sabia muito sobre a proteção animal em si. “Eu recolhia os animais e cuidava deles, depois procurava um adotante, mas não achava que esse já era o trabalho de um protetor. Também foi através das minhas publicações que conheci outras protetoras, como a Adri e a Ieda. Nos tornamos amigos e assim fui me juntando a outros protetores da cidade”, cita o protetor.

Zezinho lembra que não demorou muito e o trabalho dele cresceu bastante. Atualmente ele tem 20 animais resgatados em casa. “Não sei dizer quantos animais já doei, só sei que foram muitos. Tem dois deles que me marcaram muito, o caso da Belinha, a cadelinha que foi atropelada, ela tinha carrapatos e ficou 70 dias em tratamento, e o caso do Madruga, também atropelado na rodovia, que passou por um longo e doloroso tratamento”, conta.

Ele diz também que nesses últimos anos o trabalho dos protetores tem sido intenso, foram muitos cães machucados, precisando de cirurgias, exames, medicações. E antes de serem colocados pra adoção, eles são desverminados e castrados, o que também demanda custos. “Não podemos parar, porém precisamos contar com a ajuda da população para nos ajudar nessa empreitada, os tratamentos são caros e os protetores fazem um trabalho voluntário, não tem recursos. Só pra se ter uma ideia, hoje tem cerca de 60 animais que cuido, então são aproximadamente 600kg de ração por mês”, explica.

Diante de tudo isso, os protetores se mantêm firmes e com esperança de que as leis de proteção animal sejam cumpridas. “Um exemplo é a lei de fogos de artifícios, que foi criada no município, sancionada e não regulamentada, não tem quem fiscalize. Nos casos de abandono também, muitos foram feitos debaixo de câmeras de segurança e até hoje ninguém foi punido. A esperança é que um dia, talvez, não vejamos mais animais abandonados nas ruas”, lamenta Zezinho.

Lenir Aparecida Assis de Souza é protetora independente há 15 anos, mas faz questão de dizer que é apaixonada por animais desde criança. “Me criei no sítio e meus pais sempre tiveram muitos animais. Ainda quando pequena, sempre que eu via um animal na rua sofrendo, queria recolher e cuidar. Não me importava se ele estava doente, eu pegava mesmo assim e nunca me arrependi de ter resgatado nenhum deles, faria tudo de novo”, afirma.

A protetora também perdeu a conta de todos os cães que já resgatou. “Na época que comecei não tinha órgãos públicos para fazer o controle, mas eu acredito que cerca de 4 mil cães já passaram pelas minhas mãos, isso sem contar que faço uma média de 100 castrações todo mês”, conta. Ainda de acordo com ela, a decisão de cuidar dos bichinhos falava mais alto sempre que via eles sofrendo e ninguém fazia nada. “Comecei a levá-los para casa, cuidar e doar depois que saravam. Infelizmente, muitos que resgato acabam não sobrevivendo, mas me conforta saber que não morrem nas ruas sozinhos e com dor”, afirma.

O amor da Lenir pelos animais é tanto que ela montou um abrigo, onde vivem atualmente 203 animais, todos resgatados, que posteriormente são colocados para adoção. “Já estão sendo adotados uma média de 4 a 7 por dia, por meio de uns 28 grupos de adoção que participo. Para manter todos eles, recebo apoio do veterinário da Prefeitura, através de consultas, medicações e castrações. Quanto à ração, confecciono bichinhos de pelúcia pra venda e consigo arrecadar fundos. Aqui no abrigo gastamos em média 80kg de ração por dia e infelizmente recebemos poucas doações”, alega.

Uma rede independente de proteção faz a diferença na vida dos animais
Foto: Raquel Krieger

Assim como os demais protetores, Lenir tem esperança de que um dia o poder púbico invista mais no trabalho de proteção animal. “Nossa maior necessidade enquanto protetores é ter uma clínica veterinária pública, 24 horas, porque muitas vezes temos que levar os cãezinhos para as clínicas particulares e depois fazer rifas e outras ações para poder bancar o tratamento”.

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