João Batista é uma figura emblemática neste período que antecede o Natal. Ele é o escolhido por Deus para preparar os caminhos do Senhor. Vai então para o deserto, onde ele vive, comendo gafanhotos e mel silvestre. Sua imagem é de um homem rude, severo, vestindo roupas bem rústicas. Começa então a pregar a conversão, a mudança de vida, pois o Messias, o enviado está chegando. A voz que vem do deserto tem valor histórico, mas também – principalmente – simbólico, pois o relato faz uma releitura da caminhada do povo em busca da libertação da escravidão no Egito. O deserto, neste sentido, revela-se lugar bíblico por excelência, lugar propício para abrir-se a Deus a fim de escutá-lo e começar um caminho de conversão.
João Batista grita para despertar o povo da sonolência e da acomodação e leva-lo a acolher a boa notícia da chegada de alguém importante. Que falta fazem os autênticos profetas, que têm a coragem de gritar contra tudo o que desgasta a vida do povo! Ele não tem medo e ninguém poderá calar a sua voz. Suas palavras são duras e diretas, porque o machado já está na mão, e toda árvore que não der frutos será cortada e lançada ao fogo. Ele prega a conversão, a mudança de vida, para acolher com alegria o Salvador. Quem não se converter, quem permanecer do mesmo jeito, não poderá fazer a experiência de recebê-lo em sua vida.
A imagem dos caminhos serve como convite à conversão do nosso coração. Nos tempos atuais, a conversão a Deus parece não ter muitos atrativos por parte da humanidade – também dos cristãos e cristãs. Só um coração convertido e aberto para acolher a novidade do reino de Deus será espaço onde Jesus poderá habitar. Para tanto, é preciso remover de dentro do nosso coração o orgulho, o egoísmo e individualismo, a prepotência, a injustiça, a intolerância. Assim Jesus terá acesso ao nosso coração e à nossa vida, pois é no fundo do coração que primeiro devemos buscar a Deus, para depois encontra-lo fora de nós.
Neste período somos convidados a estar vigilantes e a orar, para acolher com alegria o salvador da humanidade. Preparar os caminhos é assumir a atitude de serviço, de amor, de fazer o bem, através de gestos concretos em prol do próximo. Algumas atitudes poderão ajudar a preparar-se dignamente para o Natal: um simples gesto de acolher quem está necessitado; de visitar um doente; levar uma palavra de conforto ao desanimado; contribuir com a campanha da evangelização; perdoar; visitar um asilo etc.
Tempo especial de oração, de encontro com Deus. Para tanto, a Igreja propõe que o verdadeiro cristão se prepare participando das celebrações de todos os domingos, neste tempo de advento. Além disso, através das novenas de natal, tempo especial de oração e de encontro com os irmãos. Isso tudo significa, fazer deserto, ou seja, afastamento dos afazeres diários e estar em sintonia com Deus.
Deserto evoca silêncio, afastamento das correrias do dia a dia, tempo de reflexão, de revisão da própria vida e assumir uma nova postura. Como é difícil silenciar, neste mundo tão conturbado, corrido, e deixar a voz de Deus falar ao coração! O deserto sempre foi significativo para os povos antigos, sobretudo, para aqueles que queriam fazer uma verdadeira experiência de encontro com Deus. Preparar os caminhos do Senhor é voltar-se para dentro de si mesmo e abrir-se para a conversão e mudança de vida. Converta-se! O Senhor está chegando!
Publicado na edição 1142 – 06/12/18