Vítimas de preconceito racial se identificam com campanha do Governo do Paraná e relatam suas experiências

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Uma campanha abordando o racismo institucional, que foi divulgada na última quinta-feira, dia 17, pelo Governo do Estado do Paraná, trouxe à tona um problema bastante comum no Brasil: o preconceito, muitas vezes velado, que os negros sofrem do mercado de trabalho. O vídeo está bombando nas redes sociais e já alcançou milhares de compartilhamentos e milhões de visualizações. Produzido pela Secretaria de Estado de Comunicação Social (SECS), a campanha ”Chega de fingir que é normal” contém imagens que apresentam um experimento social gravado com câmeras escondidas em uma sala. Profissionais de recursos humanos são separados e recebem fotos com pessoas fazendo em várias atividades. Quando perguntados o que vêem nas imagens, os candidatos variam as opiniões de acordo com os profissionais brancos e não brancos retratados. (Confira no vídeo).

Para presenciar situações como estas, não é preciso ir muito longe. Em Araucária, a agente educacional Celina do Carmo da Silva Wotcoski, 51 anos, que é negra, já sentiu na pele o que é ser discriminada pela cor. Ela diz que já perdeu a conta das inúmeras situações constrangedoras que já teve que enfrentar.

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Celina hoje dá palestras sobre como diferenciar os tipos de preconceitos

“Lembro que uma vez cheguei na imobiliária para comprar uma casa e a vendedora olhou pra mim e logo foi dizendo que era muito cara, que eu não teria condições de pagar. Com certeza foi devido a minha cor. Mas hoje aprendi a superar isso, inclusive faço palestras abordando o tema e tento explicar a diferença entre racismo, injúria e preconceito. Ainda sofro preconceito porque quando anunciam meu nome eles esperam ver uma mulher branca, porque meu sobrenome de casada é de origem polonesa, e quando apareço, algumas pessoas não conseguem disfarçar a surpresa. Alguns até perguntam se estou sozinha, se eu mesma darei a palestra. Também procuro mostrar que não adianta usar exemplos de famosos, como o jogador Pelé, dizendo que ele é negro e que superou isso por ser um grande jogador. O respeito é fundamental” comentou Celina.

O técnico de manutenção industrial Odair José Ribeiro, 40 anos, também já foi vítima de preconceito por conta de sua cor de pele. Uma das situações que mais lhe traz lembranças ruins foi no dia em que se inscreveu para fazer um teste em uma multinacional e teve que enfrentar várias entrevistas. “Percebi que a analista de RH me julgou inferior por ser negro, mas assim mesmo me passou para a próxima etapa, talvez pensando que eu não fosse longe. É difícil ser julgado pela cor da pele. Passei em todos os testes de conhecimento, prático e médico, e depois de alguns dia essa analista de RH me telefonou marcando uma entrevista com ela e com o gerente com quem iria trabalhar. Entrei na sala e de imediato ela foi perguntando sobre a minha pessoa, terminava uma pergunta e já começava a outra. Vi nos olhos dela a frustração de me ver ir tão longe no processo de recrutamento. O gerente disse que se me contratassem eu ia sofrer preconceito por ser negro e que eles achavam melhor eu procurar uma empresa de médio porte. Resumindo: não fui contratado, mas eles comentaram que se não encontrassem um profissional com o perfil que procuravam, eu seria uma opção. Foi então que, com o orgulho ferido, eu disse que não gostaria de trabalharcom pessoas como eles. Talvez a empresa nem soubesse da atitude deles ou talvez fosse um requisito da própria diretoria. Infelizmente a gente sabe que este tipo de situação acontece muito por aí, por isso a importância de campanhas e ações de combate ao racismo”, comentou Odair.

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Odar diz que já foi preterido numa seleção por ser negro

Outra araucariense, que preferiu não se identificar, contou que estava no segundo ano da faculdade e, como a própria instituição sugeria oportunidades de estágios, enviou currículo para uma empresa para atuar na área de atendimento a clientes. Só que não esperava que fosse ser vítima do preconceito racial. “Eles gostaram do meu currículo e me chamaram, mas quando a gerente me viu, ficou surpresa porque eu sou negra, e foi logo dizendo: Nossa, você é negra! Depois tentou justificar que estava procurando alguém que fosse o cartão de visita da empresa, alguém que trabalhasse sempre com cabelo escovado, maquiada, e que eu não me encaixava no perfil. Acho que procuravam alguém de cor branca, olhos azuis, enfim, ela não queria uma negra na empresa e deixou isso bem claro. Me senti humilhada, mas ergui a cabeça e saí de lá dizendo que a empresa é que não servia pra mim, e que era eu quem não queria a vaga. Hoje aprendi a superar estas situações, mesmo porque, vivemos num país onde o preconceito ainda impera, lamentavelmente”.

Texto: Maurenn Bernardo / Fotos: Divulgação

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