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A partir da metade do século XX, a industrialização do Brasil e a modernização da agricultura fizeram com que o país deixasse de ter a maioria de seus habitantes residindo na área rural e muitos foram enfrentar a agitação das metrópoles e seus problemas. As cidades pequenas também viram diminuir seu número de habitantes, pois somente as regiões industrializadas podiam empregar ao menos parte da mão-de-obra liberada nos cafezais e nas demais produções rurais. Todos os cultivos eram predominantemente alimentares no espaço das propriedades familiares, que apresentavam de alto índice de trabalho manual. Os retirantes viam-se libertos de um trabalho estafante e realizado sob o rigor do sol, do frio e da chuva, mas enfrentavam o desafio de disputar o mercado de trabalho sem a escolaridade necessária e sem ter profissão que não fosse ligada ao trabalho com a terra. Os altaneiros vaqueiros e os alegres sitiantes de outrora, confinados às periferias das grandes cidades com suas favelas e os problemas comuns a elas, pagaram um preço altíssimo pela brusca alteração do ambiente em que viviam. Saber se a qualidade de vida dos brasileiros melhorou ou piorou nesta migração do rural para o urbano exige estudos aprofundados e este é um processo já ocorrido e de difícil reversão. O êxodo rural já ocorreu, mas o processo de desestímulo a permanência das famílias rurais no campo parece continuar em muitos cantos deste imenso país. A falta de perspectivas de lazer, mobilidade e incentivo à profissionalização dos habitantes das áreas rurais ao menos semelhantes às oferecidas no meio urbano merece atenção da população e de seus representantes. A desatenção aos loteamentos clandestinos que formam favelas no campo e a incapacidade de criar alternativas que permitam vida digna aos moradores rurais faz quase tantas vítimas quando o denominado êxodo rural. O setor do agronegócio é importante para a economia brasileira, conforme se vê na balança do comércio exterior, mas a qualidade de vida dos que permanecem habitando as regiões rurais precisa de maior atenção. Um país de dimensões continentais como o nosso precisa que seu vasto interior sirva de habitat para os remanescentes no meio rural. Os problemas já insolúveis das grandes metrópoles, com custo de vida altíssimo, congestionamentos, poluição e tantos outros mostram, a meu ver, a importância de manter a população rural onde ela está. E a juventude rural é a merecedora desta atenção que, certamente, não é aquela feita com tapinha nas costas e favorzinho em troca do voto. É preciso planejamento e adoção de medidas que levem a efetiva independência e a uma vida digna, independente e autônoma. A profissionalização de parte da mão-de-obra dos jovens rurais para a produção sustentável em pequenas propriedades rurais e até para que alguns trabalhem no setor industrial ou de serviços é fundamental. Vejo que este debate, mesmo que nem todas as opiniões coincidam com a minha, deve ser feito pela sociedade de forma urgente. Não podemos perder a oportunidade trazida pelo momento em que usufruímos ainda do bônus demográfico, pois as ações da atualidade é que definirão se o futuro do município, do estado e do país será luminoso ou sombrio.

Júlio Telesca Barbosa
Engenheiro agrônomo

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