Em sua recente passagem por Araucária, o empresário Luciano Hang, mais conhecido como ‘Véio da Havan’, gravou um vídeo falando sobre as pichações e como elas ‘sujam’ o visual de uma cidade. Chegou a comparar as pichações com um filme de terror, mostrando imagens de locais próximos à sua loja localizada no centro do Município. O vídeo, inclusive, foi replicado por um vereador da cidade em suas redes sociais e gerou bastante polêmica.

O problema é que Hang, talvez por desconhecer a diferença entre pichação (ato de vandalismo) e grafite (manifestação artística), mostrou o muro da APMI local, que traz um trabalho feito por grafiteiros da Associação Reação Periférica – ARP. O muro, mencionado pelo empresário como “do outro lado da rua”, foi pintado pelos artistas a convite da própria APMI. “Autorizamos e convidamos artistas locais para realizarem intervenções artísticas em grafite no local. Essa ação visa promover a cultura, apoiar talentos da comunidade e tornar o espaço urbano mais acolhedor e expressivo. Ressaltamos que grafite é uma forma de arte urbana reconhecida, distinta da pichação”, explicou a APMI.

O presidente da ARP, Marco Peri, lamentou o conteúdo do vídeo publicado pelo empresário. Disse que existe um movimento social que tenta ressignificar as coisas, deturpando seu verdadeiro sentido. “Entendemos que pichação é crime, assim como um belo desenho feito sem autorização também é crime. Mas nem por isso este desenho deixará de ser arte. Tampouco passará por um julgamento social, já que ninguém vai bater na porta do morador pra saber se é autorizado ou não. É nessas situações que a gente percebe esse movimento, e um exemplo claro veio do Luciano (Hang) ao classificar um grafite feito com a devida autorização como pichação. Da mesma forma, o vereador Leandrinho, na sua limitação sobre o que é o grafite, o classificou como ‘desenhos bonitos’ que embelezam os muros da cidade. Nós não concordamos com essa visão. A própria história do grafite não permite essa interpretação, já que nasceu de fato das pichações, de inscrições nas paredes, como uma necessidade da livre expressão. Então, o grafite é muito mais do que apenas um desenho bonito na parede feito com tinta spray”, argumentou.

Ainda de acordo com Peri, o grafitismo não pode ser ressignificado a partir da percepção de pessoas que não tem conhecimento histórico ou técnico a respeito do assunto. “O que sentimos com essa atitude, tanto do Luciano quanto do Leandro, é a tentativa de reinterpretar e dar novo significado a história da cultura de rua da arte urbana, usando essa tendência para alavancar suas convicções conservadoras. Não aceitamos e sempre que possível vamos bater de frente com qualquer um que tente fazer isso”, arrematou.

Ele ainda adiantou que a associação está se organizando para revitalizar o painel de grafite feito no muro da APMI. “Será uma forma de mostrarmos a importância da nossa arte, bem como, nossa indignação com o vídeo”, alegou.

Edição n.º 1468.