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A araucariense Carol Costa conversou com o imigrante em francês

Genestant Rocheny deixou Porto Príncipe há três anos e, desde então, tem vivido nas ruas da Guiana Francesa e do Brasil
Genestant Rocheny deixou Porto Príncipe há três anos e, desde então, tem vivido nas ruas da Guiana Francesa e do Brasil

Com apenas duas mudas de roupa, unhas compridas e muita dificuldade para falar português, o “haitiano do Condor” tem se tornado conhecido pela cidade. “Eu passo sempre por aqui e vejo esse rapaz deitado na esquina do mercado. Então, imagino que ele esteja precisando de ajuda”, conta Luciane de Godoi, que levou uma marmita quentinha para o imigrante almoçar na última sexta-feira, 4 de setembro. “Ele dorme aqui embaixo das árvores do lado do nosso muro, e nós já o ajudamos bastante”, completa o senhor Joval de Souza.

Assim como eles, muitas pessoas têm doado alimentos para o jovem e tentado entender o que o trouxe a Araucária. No entanto, não conseguem se comunicar facilmente com o visitante, pois sua língua natal é o francês. Por isso, o jornal O Popular do Paraná entrou em contato com a Carol Costa, proprietária da Fisk Araucária, e pediu que ela conversasse com o homem em sua língua natal.

Com aproximadamente uma hora de conversa, foi possível descobrir que o rapaz se chama Genestant Rocheny, não fala sua idade para ninguém e realmente é haitiano. “Eu morava em Porto Príncipe, capital do Haiti, mas saí de lá há três anos porque é impossível viver no país devido ao governo”, conta.

Segundo ele, sua fuga aconteceu pela Guiana Francesa e continuou no Brasil, onde se surpreendeu com o povo e com seu novo estilo de vida. “Aqui eu tenho liberdade, algo que não tinha em meu país. Então, pretendo continuar assim porque se voltar para o Haiti, serei preso e me tornarei um escravo”, explica.

No entanto, para se aventurar em busca dessa liberdade, o visitante deixou para trás seus estudos e sua família. “Eu fazia Engenharia Civil, era cantor, casado e também tenho cinco fi­lhos, sendo o mais novo de quatro anos e o mais velho, de quinze. Eles ficaram lá com minha mu­lher e minha mãe, que é obrigada a trabalhar”, conta o rapaz, que não informou o nome da universidade onde estudava e nem o emprego dos familiares.

Pode parecer difícil entender como alguém deixaria sua família e amigos para trás, e passaria a viver como um morador de rua em outra parte do planeta. No entanto, ele garante que sua realidade atual é me­lhor do que viver em seu país. “Eu não vivo na miséria aqui. Gosto desse ir e vir entre os supermercados, durmo em qualquer local que me abrigue da chuva, e tenho muitos amigos que me dão comida, principalmente senhoras mais velhas”.

A araucariense Carol Costa conversou com o imigrante em francês
A araucariense Carol Costa conversou com o imigrante em francês

No Brasil

Enquanto aproveita seu novo estilo de vida, ele também escreve músicas, poesias e desenha projetos relacionados à construção civil. “Tenho um caderno, onde consigo exercer minha arte e escrever coisas que possam ajudar alguém. Inclusive, gostaria de traba­lhar nessas áreas e de voltar a estudar”, diz o imigrante, que afirma ter procurado institui­ções de ensino para continuar Engenharia, mas nenhuma o aceitou devido à dificuldade que tem para falar português e por falta de documentos.

Segundo ele, ao entrar na Guiana Francesa e no Brasil, ele estava com seu passaporte. “Só que acabei perdendo durante a viagem, e agora preciso de papéis para estudar, trabalhar e até para visitar meu país de férias quando eu estiver com uma vida estável e tranquila”.

Para Carol Costa, que obteve essas informações ao conversar com o rapaz em francês, o visitante tem ideias confusas enquanto se comunica, mas deixa claro que está bem. “Ele fala muito de que agora é livre, quer exercer a arte dele e de que não se importa em dormir no tempo porque aqui está legal para ele. E se ele fala que está bem nessa situação, nós não conseguimos mensurar qual era a situação em que ele vivia no Haiti”, pontua.

O que a cidade de Araucária fez pelo haitiano

Enquanto a comunidade auxilia o imigrante Genestant Rocheny com alimento, dinheiro e atenção, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) do município também tenta ajudá-lo. “Ele veio da Casa do Imigrante, em Curitiba, então nós o abordamos para que ele voltasse, onde existem outros haitianos e é realizado um trabalho especializado para pessoas de outros países. Só que ele recusou atendimento”, informa Leo­nardo Ferreira, coordenador da Proteção Social Especial.

De acordo com Simone Vicente, coordenadora do CREAS, a instituição só consegue auxiliar o rapaz dessa maneira ou com outras ações pontuais como documentação. No entanto, a partir desta quarta-feira, 9 de setembro, ele também poderá receber atendimento na Casa de Passagem, que será inaugurada no prédio onde antigamente funcionava a Defesa Civil (avenida Manoel Ribas, 3030).

Além disso, segundo a secretária municipal de Assistência Social de Arau­cária, Ivana Chemello Opis, o abrigo terá atendimento ininterrupto 24h por dia, e tem o objetivo de auxi­liar os moradores de rua a conseguir reinserção social. “A ideia principal não é apenas proporcionar um local para dormir ou uma refeição. Nossa intenção é que a partir desse serviço essas pessoas consigam voltar a ter condições dignas de vida e possam conquistar emancipação e autonomia”, garante. Assim, a comunidade de Araucária espera que o haitiano também possa aproveitar essa oportunidade e mudar de vida de uma vez por todas.

Texto: Raquel Derevecki / FOTOS: EVERSON SANTOS

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