Em decorrência da pandemia de Covid-19, inúmeros fatores estão interferindo na vida e rotina de muitas famílias e um deles é a convivência diária com a “morte”. Em nossa cultura, falar sobre a morte ainda representa um tabu, deixando os adultos apreensivos ao tratar desse tema com as crianças. Na realidade, não existe uma idade certa para iniciar a fala sobre a morte, nem tampouco existe uma explicação única, cada família tem a sua crença e deve explicar pautada no que acredita. A partir dos sete anos de idade, começa a ficar mais evidente que a morte é inevitável e irreversível, porém essa compreensão é um processo, que só se fortalecerá com aproximadamente nove anos.

Ao falar sobre a morte, é fundamental explicar sobre o ciclo da vida. Quando a criança perder alguém próximo, utilize a palavra “morte” e explique que a pessoa não voltará mais. O luto precisa ser vivido e não evitado, assim a conversa precisa ser franca, evitando explicações como: “dormiu para sempre”; “fez uma longa viagem”; “descansou”. Isso porque muitas crianças podem compreender de maneira literal e passar a ter medo de dormir ou até mesmo sentir raiva, acreditando que a pessoa foi viajar e as abandonou.

Explique às crianças que, quando alguém que amamos morre, podemos sentir muitas emoções desagradáveis e não há necessidade esconder seus sentimentos. Em relação aos rituais de passagem (velórios e enterros), explique para a criança como funcionam e pergunte se ela deseja participar. Na medida do possível, evite mantê-la por muito tempo, evitando os momentos mais críticos e as mantenha sempre por perto, para responder as dúvidas, pois isso facilita a percepção da morte. Se não for possível que a criança participe desses rituais, crie com ela um ritual próprio: soltar um balão, fazer um desenho, cantar uma música.

Caso a criança tenha perdido algum familiar ou amigo, olhem fotos, vídeos e contem histórias sobre a pessoa. Enfatize que ela não estará mais entre nós fisicamente, mas que as memórias afetivas permanecerão para sempre em nossos corações. Você pode utilizar livros, vídeos e filmes infantis para falar sobre o assunto. É preciso ter ciência de que não falar sobre a morte, assim como evitar as lembranças, só piora a situação. Neste momento delicado, é fundamental não afastar a criança dessa experiência, é necessário acolher a dor e a tristeza, manter um canal de diálogo e oferecer explicações.

A SMED se solidariza com todas as famílias de Araucária que estão passando pelo processo de luto!

Texto: Carla Saad e Lusiane Chaves – Coordenadoras da Avaliação Psicoeducacional do Departamento de Educação Especial.

Publicado na edição 1259 – 29/04/2021

Como falar sobre a morte com as crianças?