O término de um relacionamento afetivo abusivo pode ser um momento de muito alívio para algumas pessoas. Para outras, no entanto, o pós-término é desafiador, e cheio de emoções diferentes. Especialmente se o relacionamento foi longo ou intenso, a ideia de perder uma pessoa importante em sua vida pode ser muito traumática. Não é uma fase fácil, isso porque seu corpo e cérebro ainda estão se readaptando à nova vida, longe da violência.
A psicóloga Angelica Krzyzanovski explica que a mulher vive um luto após o término do relacionamento abusivo, que pode se apresentar de diversas formas, sendo diferente de pessoa para pessoa. “Esse luto, apesar de doloroso, é um processo natural e necessário. Ele não deve ser visto como patológico, a menos que se estenda por um longo período”, afirma. Ela diz ainda que este luto às vezes vem antecipado, quando a pessoa ainda está na relação, porém percebe que o fim é inevitável. “É uma resposta emocional à perda de uma pessoa amada. Essa resposta inclui sentimentos de tristeza, dificuldade de dormir e vazio, associado a pensamentos ou lembranças em relação à pessoa perdida”, complementa.
Angelica reforça que apesar do luto ser associado à morte de uma pessoa importante, muitas vezes sentimentos parecidos com o luto podem ocorrer quando a pessoa termina um relacionamento. Assim, esse processo de luto ocorre mesmo com a outra pessoa ainda viva. “Términos normalmente não são fáceis, pois muitas vezes o relacionamento acaba, mas o sentimento não”.
Segundo a psicóloga, alguns autores da Psicologia afirmam que o processo de luto pelo término de relacionamento segue as mesmas fases do luto associado à morte de uma pessoa. No entanto, esse processo que já é difícil, pode se tornar ainda mais quando o relacionamento possui traços, ou é um relacionamento abusivo. “Normalmente, além de todos os sentimentos já mencionados, podem aparecer sentimento de culpa, baixa autoestima, insegurança, etc. Vale ressaltar que nos relacionamentos abusivos, é comum o abusador tentar desvalidar, manipular as situações para culpabilizar o outro, além de afastá-lo da sua rede de apoio. Quando a pessoa percebe que está nesse tipo de relacionamento e tenta sair dele, é comum o abusador tentar e até forçar a reaproximação (com violências físicas e psicológicas), o que mantém o ciclo desse relacionamento abusivo”, ilustra.
Apesar de ser uma situação difícil, Dra. Angelica acredita ser possível sair desse ciclo, e dá algumas orientações. “A primeira coisa que a pessoa pode fazer é pedir ajuda e se aproximar da rede de apoio. Esse pedido de ajuda pode ser para familiares, profissionais de saúde e da assistência social, um psicólogo e em casos mais graves, até mesmo para a justiça. Além disso, é importante focar em si mesmo, adotando comportamentos de autocuidado e evitar o máximo possível o contato com o ex-relacionamento, mesmo com as insistências e manipulações”, aconselha.
Fases do luto
Negação: Nessa primeira fase, a pessoa se recusa a acreditar na perda e pode buscar informações para tentar encontrar uma explicação para o ocorrido. É como se houvesse uma resistência em aceitar a realidade da situação. |
Raiva: A pessoa começa a questionar o porquê da perda e pode ficar irritada ou ressentida com a situação. Essa raiva pode ser direcionada para Deus, para outras pessoas envolvidas na situação ou até mesmo para si mesma. |
Barganha: A pessoa tenta negociar com o que aconteceu, buscando uma maneira de reverter a situação ou obter um acordo que minimize a dor. Pode ser um momento de orações ou promessas para que tudo se resolva. |
Depressão: A pessoa começa a sentir uma tristeza profunda, podendo perder o interesse nas atividades cotidianas e sentir um vazio em sua vida. É uma fase difícil, mas necessária para que ocorra uma reflexão e uma possível aceitação da realidade. |
Aceitação: Por fim, vem a fase da aceitação. É quando a pessoa finalmente aceita a perda e compreende que é uma parte natural do ciclo da vida. Embora a dor ainda possa estar presente, a pessoa começa a se adaptar à nova realidade e a seguir em frente com a vida. |
Em resumo, as cinco fases do luto são um processo natural que nos ajuda a lidar com a perda. Embora cada pessoa possa passar por essas fases de maneira única, é importante lembrar que não há um caminho certo ou errado para o luto. O importante é permitir-se sentir e enfrentar cada fase com paciência e compaixão consigo mesmo.
Edição n.º 1450.