Cotistas denunciam suposto esquema de pirâmide financeira

O objeto social da Fuel Age é a compra e venda de combustíveis, um negócio tentador que atraiu muitos investidores
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O objeto social da Fuel Age é a compra e venda de combustíveis, um negócio tentador que atraiu muitos investidores
O objeto social da Fuel Age é a compra e venda de combustíveis, um negócio tentador que atraiu muitos investidores

Um suposto esquema de pirâmide financeira envolvendo combustíveis, que está na mira da Agência Nacional do Petróleo (ANP), do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, fez vítimas em várias cidades do país, inclusive em Araucária. O alvo é a empresa Fuel Age, que vende cotas de distribuição de combustíveis e promete lucro de até 200% para os empreendedores que aderirem à estrutura. Quanto mais interessados o colaborador conseguir trazer para a empresa, mais significativos são os ganhos.

Um dos cotistas lesados seria Diego Martins, que procurou a reportagem do Jornal O Popular para denunciar um dos divulgadores da Fuel Age na cidade: Nilton Campos, que teria montado um grupo de WhatsApp chamado Rede 1000 Milionários, para convidar pessoas a fazer parte da pirâmide. “O Nilton teria prometido que se eu entrasse como cotista, meu dinheiro iria dobrar. Dei a ele R$ 3.700,00 do meu FGTS e depois ele sumiu, lesando a mim e dezenas de outras pessoas, a maioria moradores dos jardins Plínio e Condor. Por isso decidi fazer esta denúncia, na esperança de que possamos recuperar pelo menos metade do que perdemos”, disse Diego.

Nilton Campos negou ser o responsável pela ramificação da Fuel Age na cidade, disse que também era um dos cotistas e foi lesado da mesma forma. “Eu fiquei sabendo da Fuel Age, que comercializava combustível no sistema de cotas participativas e me interessei, apenas achei que era um bom negócio e convidei algumas pessoas pra fazer parte. Mas quero deixar bem claro que não tenho nada a ver com isso, eu era apenas cadastrado como um dos participantes. Jamais comandaria um negócio que fosse prejudicar as pessoas”, explicou.

O suposto golpe

Além de Diego e Nilton, centenas de pessoas foram lesadas no Município. O advogado que representa alguns credores, Dr. Wilson Afonso Soares, explicou que para ser cotista, a pessoa teria que investir mil dólares, cerca de R$ 3.500,00, e a empresa prometia retorno de 200%, por isso, os prejuízos variavam de R$ 3 a 15 mil reais, dependendo do investimento de cada cotista. Nos últimos meses, antes da intervenção do MPF – Ministério Público Fe­deral, a Fuel Age iniciou algumas mudanças no sistema e na forma de pagamento dos cotistas. Desconfiados das mudanças dos prazos de pagamento e o não cumprimento, algumas pessoas começaram a questionar as datas que ocorriam os depósitos, e o pior aconteceu, não receberam”, elucidou o advogado.

Ele disse ainda que, com os prejuízos, alguns cotistas iniciaram as reclamações contra a empresa, que prometera solucionar o problema pagando todos, mas não cumpriu o que pro­meteu. Com a repercussão, o caso chegou ao MPF – Ministério Público Federal, que resolveu intervir para apurar o caso. “Com a intervenção, houve o bloqueio das contas da empresa e ninguém mais recebeu”, acrescentou.

Diante de todas estas denúncias, no momento a empresa não está em atividade. “De fato, o procurador da empresa nega os fatos, mas a empresa está sim sob investigação federal, sob suspeita de fraude. Ainda não há um número conclusivo de pessoas aqui de Araucária que estavam envolvidas no negócio e que amargaram prejuízos enormes. É bom ressaltar que nem todos tiveram prejuízos, principalmente os primeiros que entraram no negócio. Estes se favoreceram com a participação de outras pessoas que vieram depois”, comentou.

O advogado diz ainda que foi procurado por um grupo de pessoas, que querem propor uma Ação Coletiva para buscar a reparação. “Estamos aguardando ainda a adesão de mais pessoas para ajuizar a demanda”.

Quanto ao suposto envolvimento de Nilton Campos no esquema da Fuel Age, o advogado disse que ele era apenas uma das pessoas envolvidas no marke­ting e publicidade da empresa, não o responsável. “O presidente e representante da Fuel Age é Marcio Nascimento. O Nilton Campos foi vítima do negócio como qualquer outro cotista”.

Um negócio tentador

A empresa tem sede em Goiânia e operações espalhadas por todo Brasil. Eram diversas as formas de influenciar pessoas e convidá-las para fazer parte do negócio, desde uma conversa com vizinhos, amigos, familiares, rede social, WhasApp, contatos telefônicos, divulgação do site. Além disso, qualquer pessoa poderia divulgar ou acessar grupos ou criar um novo.

Advogado da Fuel Age diz que não houve golpe

O advogado que representa a Fuel Age, Ricardo Henriques, nega a existência de um golpe e explica que na verdade, houve uma série de incidentes que atrapalharam o prosseguimento da sociedade e o atraso dos pagamentos dos rendimentos aos associados. “Primeiramente, a empresa havia se conveniado com uma parceira e devolvia parte dos investimentos em abastecimento de combustíveis, tendo recolhido a este parceiro um valor e deixando-o a disposição dos investidores até que completasse os valores que teriam direito a receber em abastecimento. Mas, após uma denúncia anônima de que a Fuel Age seria uma empresa inidônea, a parceira rescindiu unilateralmente a relação sem, no entanto, restituir à Fuel Age, os valores que recebeu. Para sanar esse problema, a Fuel Age, também, através da empresa processadora de pagamentos, contratou outra agência, desta vez com uma bandeira de cartões exclusivamente para abastecimentos de seus associados”, explicou doutor Ricardo.

Mas novamente, outra denúncia anônima incitou a nova parceira a rescindir, unilateralmente, o contrato, sem também restituir valores. Nesse mesmo tempo, os associados passaram a reclamar que a processadora de pagamentos com a qual a Fuel Age mantinha contrato estava atrasando o repasse dos valores devidos aos sócios participativos.

“Vários deles, segundo as informações da processadora, não estavam recebendo devido à inconsistência de dados ou dados bancários, mas o acúmulo das reclamações levaram à rescisão de contrato entre a Fuel Age e a processadora de pagamentos, o que gerou a necessidade de encontrar uma nova plataforma de pagamentos. A empresa passou a operar com sua própria conta bancária e por denúncias feitas ao banco, sua conta também foi bloqueada, sem nenhuma medida judicial que lhe desse suporte. Isso impediu que ocorressem as atividades que dariam lastro à remuneração dos associados, gerando o abalo da credibilidade na empresa e muitas reclamações, denúncias e demandas. Muitas pessoas já foram ressarcidas de seu investimento, com os valores que estavam disponíveis, disso se apresentou comprovante às autoridades que acompanham o caso”, esclareceu.

O advogado alegou ainda que a Fuel Age nunca teve filial em Araucária, teve investidores, que foram incentivados a investir por outros investidores como eles. Disse ainda que não tem responsáveis na cidade, apenas investidores (uma média de 20 mil), sem nenhuma hierarquia entre eles.

“Cada investidor convida as pessoas para investir, da maneira que quiser e o ingresso é pelo cadastramento feito no site da empresa e preenchimento dos dados no contrato de Sociedade por conta de participações. Vale ressaltar que a empresa não é uma pirâmide financeira, e demonstrando isso às autoridades competentes. Ela apenas ficou impedida de realizar as operações que lhe dariam o lastro financeiro para adimplir cabalmente as suas obrigações. A boataria disseminada por todos os meios de comunicação disponíveis deixou as pessoas muito nervosas, desencadeando um verdadeiro telefone sem fio e uma caçada às bruxas. Não aconteceu golpe algum, apenas a impossibilidade momentânea de seguir as operações e ressarcir parte dos investidores, o que oportunamente se espera conseguir. A Fuel Age está esclarecendo suas atividades ao Ministério Público Federal, prestando todas as informações e tomando todas as providências necessárias nesse sentido e acredita que em breve terá tudo esclarecido e estabelecerá uma forma de compromisso formal de restituir os investimentos dos cotistas”.

Texto: Maurenn Bernardo / FOTO: Everson Santos

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