Olizandro fará boa parte do tratamento em casa, porém ele também deve se consultar em São Paulo
Desde ontem, 4 de novembro, Araucária está sob nova direção. O prefeito Olizandro José Ferreira (PMDB) se licenciou do cargo até 13 de dezembro. Nestes quarenta dias, a Prefeitura será comandada pelo vice, Rui Sérgio Alves de Souza (PT).
Olizandro teve que se licenciar do cargo para cuidar da saúde. O afastamento temporário foi autorizado, como determina a Lei Orgânica do Município, pela Câmara de Vereadores na semana passada e o decreto legislativo referendando o ato foi publicado em Diário Oficial na sexta-feira, 1º de novembro.
Também na semana passada, o prefeito recebeu a reportagem de O Popular do Paraná em seu gabinete, no quarto andar do Paço Municipal, para detalhar o mal que lhe acomete. Tranquilo, ele disse que ainda no ano passado foi diagnosticado como portador de uma doença autoimune chamada Miastenia gravis, que causa fraqueza muscular, falta de ar, cansaço excessivo, dificuldade para mastigar e engolir, visão dupla e pálpebras caídas. A medicina ainda não descobriu uma cura para a doença, mas com a medicação adequada é possível controlá-la e levar uma vida razoavelmente normal.
Nestes quarenta dias em que estará afastado do comando do Município, Olizandro será submetido a um tipo de medicação que abaixará consideravelmente sua imunidade. Isto será necessário porque a Miastenia gravis é uma doença autoimune. Ou seja, uma resposta incorreta do sistema imunológico, que cria anticorpos contra os receptores de acetilcolina, substância liberada nas junções neuromusculares, causando uma interrupção da comunicação entre nervos e músculos. Exatamente: os próprios anticorpos de Olizandro estão lhe atacando. Logo, para tratar da doença, é preciso antes atacar esses anticorpos, o que diminui a imunidade do paciente. “Tratamos a parte relacionada à imunidade com o uso de imunossupressores e/ou corticoides. E do ponto de vista físico, com anticolinesterásico, que aumenta a força”, explicou o neurologista Marcelo Annes, em matéria veiculada pelo site do Hospital Albert Einstein no início deste ano.
“Justamente por conta dessa diminuição da minha imunidade que minha médica determinou que durante tratamento eu ficasse de licença. Neste período, ficarei em casa, onde – inclusive – estamos montando uma operação de guerra para mantermos o ambiente livre de bactérias e coisas do gênero, pois ficarei bastante suscetível a doenças”, explicou Olizandro. Ainda segundo o prefeito, além do tratamento medicamentoso, ele deve ir pelo menos em quatro oportunidades a São Paulo, onde se consultará com um médico especialista em Miastenia gravis, que atende no Hospital Sírio Libanês. “Na verdade, como esse profissional é bastante requisitado, ainda estou tentando um encaixe com ele”, relatou.
Apesar da seriedade da doença, Olizandro segue de bom humor e diz que estará acompanhando o dia a dia na Prefeitura. “Tenho uma excelente relação com o Rui e estarei sempre em contato com ele para discutirmos o andamento das coisas. Então, espero que o secretariado como um todo entenda que a licença médica é para o prefeito e que todos continuem se empenhando diariamente”, acrescentou.
Olizandro não quer receber
Na mensagem que encaminhou à Câmara pedindo licença do cargo, Olizandro manifestou o desejo de não ser remunerado no período em que estiver afastado. Legalmente, porém, isso não é possível. Então, o prefeito afirmou que devolverá aos cofres públicos o seu salário correspondente aos quarenta dias em que estará em licença médica.
Primeiro sinal da doença apareceu durante a campanha do ano passado
Talvez muitos não se recordem, mas O Popular noticiou. Durante a campanha para prefeito do ano passado, houve uma oportunidade em que o então candidato Olizandro José Ferreira fora acometido por um problema no olho. Na oportunidade, do nada, a pálpebra de seu olho direito caiu. “Pensei que fosse um problema menos grave. Na época, consultei-me no Hospital de Olhos do Paraná e os médicos chegaram a comentar que era necessário um exame mais detalhado, porém, em virtude da correria da campanha, acabei me submetendo a dois procedimentos cirúrgicos para corrigir o problema na pálpebra, pelo menos para aguentar a agenda eleitoral e depois averiguar com mais calma a situação”, conta o prefeito.
Ele ainda relatou que outros sintomas da Miastenia gravis surgiram durante a campanha. “Havia dias que eu simplesmente não conseguia falar. Recordo-me de um comício em Guajuvira em minha voz simplesmente não saia. Mais tarde, quando tive o diagnóstico, tudo se encaixou”, acrescenta.
Já em 2013, no comando da Prefeitura, pelo menos em duas oportunidades, a Miastenia gravis deu sinais claros de que era hora de Olizandro parar e se tratar corretamente. A mais recente delas foi durante a visita do governador Beto Richa (PSDB) quando, ao discursar, o prefeito pareceu se enrolar com as palavras, algo impensável para um orador nato como o peemedebista. A justificativa utilizada pelo prefeito para ter se engasgado no discurso foi que estava com a garganta seca, mas não era isso. Acontece que a doença que o acomete ataca principalmente os músculos da face, que simplesmente param de trabalhar, causando dificuldades na fala. O mesmo problema já havia sido notado durante a fala do prefeito na solenidade de posse do Conselho Tutelar. “Também é um complicador dessa doença, o fato dela ter relação direta com o nível de estresse. Quanto maior o estresse que passo, mais ela me ataca. Há dias, por exemplo, que chego em casa e sinto dificuldade de levantar os braços durante o banho para lavar o cabelo”, finaliza.
Miastenia gravis, que doença é essa?
Uma simples consulta à rede mundial de computadores, traz dezenas de informações acerca do mal que acomete o prefeito Olizandro José Ferreira (PMDB). O médico Drauzio Varela, por exemplo, em seu site, explica que a principal característica da Miastenia gravis é a fraqueza muscular decorrente de distúrbios nos receptores de acetilcolina localizados na placa existente entre os nervos e os músculos. Isso interfere na transmissão do impulso nervoso e provoca o enfraquecimento dos músculos estriados esqueléticos.
Olizandro é portador da miastenia autoimune, onde a resposta imunológica se volta contra os componentes da placa motora responsável pela transmissão do estímulo nervoso que faz o músculo contrair. Ainda segundo o site de Drauzio, não se conhecem as causas da miastenia gravis. “Em alguns pacientes, há relação entre a doença e tumores do timo, uma glândula ligada ao sistema imunológico e que produz anticorpos”, comenta o médico.
Na semana passada, quando falou ao O Popular sobre a doença, Olizandro afirmou que caso o tratamento com medicamentos não surta efeito, ele fará a uma análise minuciosa do timo. “Minha médica explicou que existe a possibilidade de tumor no timo, mas me tranquilizou quanto à natureza deles, pois são sempre benignos, mas no momento estou me concentrando no tratamento com medicamentos”, afirmou.
Entenda
O problema da Miastenia gravis está todo na junção neuromuscular. Repare na figura ao lado: do lado esquerdo temos uma junção neuromuscular de uma pessoa normal. O espaço entre o nervo e o músculo se chama fenda neuromuscular e é ali que são liberadas substâncias chamadas de neurotransmissores. Neste caso, a acetilcolina (ACh), que liga-se aos receptores de ACh dos músculos e os fazem trabalhar. O grande problema de quem tem a Miastenia gravis é que seus próprios anticorpos atacam esses receptores (figura à direita), fazendo com que o músculo não trabalhe e gerando todos os transtornos da doença.