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Evandro Leão: A inteligência artificial e a carência espiritual
Foto: Divulgação

“- Alexa, desligar o roteador e reconectar a minha alma!”

Alexa pausa em silêncio por 1 minuto após ouvir o meu comando e prontamente me responde: “- Desculpe, não encontrei essa função. Ainda não estou programada para ter acesso à espiritualidade. Quer que eu toque sua playlist preferida, ‘Músicas Espirituais’? Fiz uma excelente seleção para você.”

Ao ouvir isso, fico insatisfeito e replico: “Não, não é isso. Estou precisando me reconectar comigo mesmo, Alexa, não ouvir músicas!”
Alexa lamenta: “Ah, entendi. Sinto não poder ajudá-lo, mas se quiser se divertir, basta me dizer: ‘Alexa, me conte uma piada!’”

A conversa foi inventada, mas infelizmente as tramas por trás dela não são. Hoje vivemos um momento em que a superconexão tecnológica está influenciando nossa carência espiritual.

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, não deixa dúvidas de que o amor ficou líquido, especialmente em seu livro Amor Líquido. Bauman aborda a influência das tecnologias nas relações humanas e evidencia como os padrões de consumo acelerados e o individualismo da vida moderna nos afastaram da capacidade de criar relações e conexões profundas. É como se a vida humana acontecesse em um enorme cardápio, onde eu e você somos produtos dessa vitrine social. Alguém vê, adquire, envolve-se superficialmente e depois descarta, pois a próxima pessoa a ter uma “relação fast-food” já pode estar na arara da liquidação, em oferta.

Querido Bauman, que já descansa no plano astral após sua vida física, infelizmente a alma também ficou líquida, não apenas o amor. Parece que, à medida que avançamos, acelerando a velocidade das séries no streaming, mergulhando nas sagas de realidades virtuais e nos envolvendo com personagens que não são nós e nem se parecem conosco, nos desapegamos do nosso mais valioso tesouro: o presente, o dia de hoje. E quando a internet cai e essa realidade fictícia se desintegra como areia, bate aquele desespero e ansiedade. Ecoa o grito da alma: “Como poderei agora viver, se preciso sentir a mim mesmo?”

“Pane no sistema, alguém me desconfigurou aonde estão meus olhos de robô? Eu não sabia, eu não tinha percebido, eu sempre achei que era vivo”. Mas calma, a cantora Pitty na canção “Admirável chip novo” prossegue: “Mas lá vêm eles novamente. Eu sei o que vão fazer. Reinstalar o sistema. Pense, fale, compre, beba, leia, vote, não se esqueça…”

E de repente o espírito fica dormente, esquecido dentro dessa insanidade robótica que se torna nossa vida.

A missa, o culto, a gira, a oração, a pregação, as oferendas… tudo agora no conforto da sua casa, na tela do seu smartphone. Ressalto que nem a infância está isenta dos superestímulos. Seja atrevido: tire o celular de uma criança pequena assídua em um jogo para ver quantas mordidas você levará. No meu tempo de escola, a professora contava uma história e a gente ficava paralisado tentando desenhar na mente cada retrato daquele encanto literário. Hoje, essa função está ameaçada.

Mas a solução para isso não virá da inteligência artificial. Virá de você, que precisa reequilibrar sua vida e sua rotina para voltar a se sentir no momento presente. Comer, mastigar, correr em um parque, pausar, admirar, deitar em um gramado à noite e contemplar as estrelas, abraçar uma árvore e agradecer por estar no mesmo chão que ela, ler um bom romance à moda antiga. Ir à missa, ao culto, ao terreiro, ao centro espírita e se doar vivamente para sentir aquelas conexões e aquelas pessoas, isso é divino e isso passa depressa.

Substituível é o jeito que a inteligência artificial encontrará para te entreter, cada vez melhor, mais e mais. Agora, insubstituível é e será a vida que você tem hoje. Que seu tempo não seja artificial. Desperte, desligue-se um pouco das telas e vá ralar um pouco os joelhos andando de bicicleta. O caminho para a fonte do seu espírito, a Alexa infelizmente não conhece. Desejo uma vida concreta para você. Se precisar do meu direcionamento espiritual, consultas de tarot, basta me chamar pelo contato (41) 9986-2815 e siga-me no @tarodafortuna.

Edição n.º 1453.

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