“Hoje eu vou cantar, vou louvar na areia, em lua cheia, a mãe Iemanjá, Iê, iê…” (Música: Um Presente dos Orixás).

No dia 2 de fevereiro, celebramos duas mães espirituais amorosas: Iemanjá, orixá das águas salgadas, e Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira dos pescadores. Mas o que aproxima essas duas figuras de crenças distintas, colocando-as no mesmo barco? O amor incondicional por seus filhos.

Iemanjá chegou ao Brasil dentro dos corações dos africanos arrancados de suas terras e lançados ao oceano em navios negreiros. Desterrados, separados de suas famílias, privados de sua voz e humanidade, tinham apenas a fé de que Iemanjá, mãe dos oceanos, jamais os privaria de sua ancestralidade e do vínculo espiritual que os mantinha vivos. Para o povo iorubá, um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, Iemanjá é a mãe espiritual de todos os seres viventes. Ela acolhe aqueles que desembarcam na vida terrena, conduzindo-os através do útero ancestral das águas para que possam crescer e evoluir aqui na Terra.

Considerada a mãe da humanidade, Iemanjá traz consigo o senso de comunidade, o acolhimento e a nutrição. Seu símbolo são os seios fartos, que alimentam os filhos por meio dos peixes que abriga em suas águas. Mas ela não protege apenas os oceanos físicos – Iemanjá também governa os mares internos, os sentimentos profundos, os ciclos emocionais que nos fazem mergulhar em nossas dores e emergir com cura e leveza. Aos seus filhos, desperta intuição e estratégia, ensinando-os a serem serenos quando necessário e tempestuosos quando o momento exige. Como o mar, podem ser calmos ou avassaladores, pois sabem que a ressaca também tem seu propósito.

Se Iemanjá chegou pelas correntes da dor, Nossa Senhora dos Navegantes atracou em portos nobres, trazida nos corações dos portugueses que desbravavam mares em busca de riqueza. Uma das muitas faces de Maria, Nossa Senhora dos Navegantes é venerada especialmente em regiões costeiras e em comunidades que sobrevivem da pesca. No Brasil colonial, onde as exportações marítimas eram essenciais, sua devoção se fortaleceu, tornando-se um pilar de fé para navegantes e pescadores. Sua imagem a retrata segurando o menino Jesus em um barco, com uma estrela-do-mar na cabeça, símbolo da orientação e do cuidado divino.

Forçados a praticar o catolicismo, os africanos escravizados passaram a enxergar Nossa Senhora dos Navegantes como um reflexo de Iemanjá. O mar, o amor maternal e a proteção uniam as duas figuras, e assim nasceu o sincretismo que, até hoje, se manifesta nos festejos de 2 de fevereiro. Enquanto missas são celebradas em honra à santa, nas praias ofertas são entregues a Iemanjá, em rituais de gratidão e pedidos de proteção. Flores e presentes deslizam pelas ondas, enquanto orações se misturam ao som do mar, unindo fé e tradição.

O que hoje une uma santa católica e uma orixá africana? Na minha humilde visão, a sede de que tanto os mares externos da Terra quanto os internos da humanidade possam abastecer todas as vidas que deles necessitam, sem cercear a liberdade de quem quer que seja de existir com dignidade. Odoyá, mãe Iemanjá. Salve Nossa Senhora dos Navegantes. Desejo para você águas que curam! Se desejar uma consulta de tarot, basta me chamar pelo contato (41) 99861-2815 e me seguir no Instagram/TikTok @tarodafortuna.

Edição n.º 1450.