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Imagem de destaque - Evandro Leão: O último cigarro da carteira
Foto: Divulgação

“Vá se lascar” era minha resposta para quem me aconselhava a parar de fumar. Ninguém pagava minha carteira de cigarros e nem me devolveria os pulmões. Então, por que “diachos” eu precisaria aturar sermões? A grande questão é: o que espiritualmente o cigarro está preenchendo na vida do fumante? Nenhum fumante se sente à vontade com gente chata em discurso de bom samaritano. “Quer me explicar medicina, mas não escova nem os dentes.”

O fumante pode até sorrir enquanto está te ouvindo, mas se ele for como eu era, no fundo, estará tragando você em chamas no pensamento.

O fumante sabe que vai morrer. Essa informação extraordinária, até aqui, não é nova. Vem desenhada, inclusive, em cada caixa de tabaco (uns mortos e outros molengas). E sabe, aquele cigarro que você repulsa ver aceso na mão do tabagista, às vezes é a muleta dele para continuar vivo. Não estou aqui para defender os vícios, mas para refletir sobre nossas abordagens de ajuda. É triste, mas de baforada em baforada, suspirando uma névoa cinzenta de vida roubada, vida nova ou vida velha, não faz diferença qual vida o cigarro leva. Para ele, todos perdemos um amor na vida, seja um amigo, família ou o próprio.

Eu não consigo nem me lembrar exatamente em que dia comecei a fumar, mas lembro da situação: tinha acabado de vir morar só em Araucária (2016), sozinho e cheio de confusões familiares, queria sossego, silêncio. Vez ou outra olhava pela minha janela, lá estava a refinaria fumando seu grande charuto monumental para Jeová (chaminé). Perdi a conta de quantos cigarros fumei com ela, mas nos tornamos íntimos naquele fumódromo circunstancial. A gente não conversava (meu cigarro não era alucinógeno), apenas existíamos ali, nós dois na plenitude lenta da extinção humana pela emissão dos gases do carbono (fumaça). Ela, pelo progresso dos combustíveis, e eu, pela tristeza da vida.

E eu confesso: mesmo tendo muita fé na espiritualidade, terapia psicológica em dia, exames periódicos com o médico, por vezes nem procurava saber o “porquê” mantinha tantas bitucas em minha vida. Mas agora, livre do tabaco, tenho uma ideia: era bom ter uma falsa cortina de fumaça, como uma capa mágica de invisibilidade. Quando a dor do luto, do abandono, da ansiedade, da vontade de choro ou simplesmente o anseio de olhar para o vazio e se sentir um nada, o cigarro estava ali para me proporcionar isso.

A dor começou a progredir quando, nas madrugadas, eu tinha que sumir nas estradas em busca de um posto 24h para me abastecer mais do meu próprio vazio. Era acordar no outro dia e já tossir, sentindo que o fim estava por vir, para finalmente encontrar a fuga perpétua que inconscientemente queria: o sono dos justos. Mas a fé é realmente uma partícula divina que nos cura.

E pode parecer muito genérico o que irei sugerir agora para o fumante: faça um propósito com seu Deus ou com sua consciência superior a partir do fim deste texto. Não desista de você. Busque um bom grupo de amigos, templos, centros espíritas, terreiros, atividades físicas, apoio do SUS, mas acredite que você é o milagre e ele só acontece quando você transforma sua vida de dentro para fora. Perdoe-se de qualquer coisa: Deus está com você e por você.

Para finalizar, 4 dicas para ajudar um fumante são: 1) Seja uma pessoa legal, converse com ele, ouça-o. Às vezes ele só precisa de um bom ouvinte; 2) Não julgue: entenda que o tabagismo é uma doença do corpo e da alma e que não se trata apenas de “vontade de parar”; 3) Aconselhe-o a se cuidar espiritualmente, mentalmente e fisicamente; e 4) Não seja chato, faça preces por ele e pela cura da humanidade. Desejo muita cura do tabagismo! Sigam-me no @tarodafortuna.

Edição n.º 1423

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