Muitas pessoas não sabem, mas o câncer em gatos é uma doença bastante comum.
A leucemia felina é causada pelo vírus da FeLV (Feline Leukimia Virus, em inglês), um retrovírus que se aloja na medula óssea do gato, transformando células normais em células cancerígenas malignas. Ao atingir as células, o vírus da FeLV impede a produção de hemácias pela medula óssea, causando um enfraquecimento do sistema imunológico e resultando em infecções por todo o corpo.
Por conta dessa falta de informação, muitos tutores acabam sendo pegos de surpresa quando seus felinos ficam doentes. Foi o caso da confeiteira araucariense Giovanna Schiller, que recentemente perdeu uma de suas gatas para a doença. “Eu nunca tinha sido dona de gatos. Minha mãe era bióloga, mas tínhamos cachorros, passarinhos. Então uma gata deu cria aqui em casa e teve três filhotes, duas da primeira ninhada e uma da segunda ninhada. A que faleceu é da primeira ninhada. Logo após dar cria, essa gata, que era muito arisca, carregou todos os filhotes e não os vimos por dois ou três meses. Três meses depois as gatinhas voltaram a aparecer no fundo do terreno da minha casa, tentei me aproximar, porque queria adotá-las ou pegá-las para castrar e procurar adotantes. Comecei a alimentá-las e levei seis meses para conseguir que se aproximassem de mim. Nas primeiras semanas só as filhotes chegavam perto, e mesmo assim foi um trabalhão conquistar a confiança delas. Foram seis meses de muita luta. Elas chegaram muito doentes, mas por questão de estarem na rua mesmo, tinham vermes, a mãe tinha uma diarreia crônica, mas tudo isso conseguimos tratar”, relata.
A confeiteira comenta que foi nessa fase que a falta de informação acabou se sobressaindo. Por não ser dona de gatos durante a vida, ela não sabia da existência da FIV e FeLV. Por isso, quando levou sua gata para castração, não pediu o teste. “Elas tinham poucos meses, a mãe já era mais velha, não temos ideia da idade. De uns dias pra cá, a gata Pretinha começou com uma infecção ocular. Parecia que ela tinha tomado um arranhão ou se arranhado e aquilo não passava. Como tenho veterinários na família, eles me falaram que tinha que dar antibiótico e provavelmente teria que aplicar um colírio. Comecei com esse tratamento, mas ela não voltou mais a ser a mesma. Ficava prostrada, cansava fácil, andava meio que em câmera lenta, não se alimentava, uma coisa muito estranha, só então percebi que tinha algo muito errado. Normalmente não deixava a gente encostar nela, mas por um milagre, talvez por estar doentinha, consegui pegá-la e foi então que percebi que sua mucosa estava bem pálida. Levei ela no veterinário porque eu sabia que aquilo não era normal. Chegando na clínica foi feito o teste rápido de FIV e FELV, que já acusou a doença. A partir daí, ela foi definhando muito rápido, porque a FELV é muito agressiva. Só pra ilustrar, a FIV é como se fosse a Aids Felina e a FELV é uma leucemia felina. As duas doenças são extremamente contagiosas”, relata.
Giovanna prossegue, contando que a Pretinha teve que ficar internada, ela não estava comendo e nem tomando água. Ficou em observação, pois estava muito anêmica. Por conta disso ela decidiu fazer um apelo na sua página no Facebook, uma vez que a gatinha precisava de uma transfusão de sangue. “Fiz o post para procurar algum doador, porque se já é difícil encontrar uma bolsa de sangue para humanos, imagine para um gatinho. Todos os laboratórios em Curitiba não tinham bolsa de sangue. Aliás, é importante falar disso também, porque muitas pessoas não sabem que qualquer gato que tenha um protocolo de vacina, que seja negativo para FIV e FELV, pode ser um doador. Enfim, a gente acabou conseguindo um felino que fez a doação à Pretinha. Só que infelizmente quando a doença se manifestou, foi muito agressiva e já não tinha como reverter. Quando atinge a medula, o organismo do bichinho já não consegue mais produzir os glóbulos vermelhos, algo assim. Então a transfusão não foi suficiente e ela infelizmente não aguentou e veio a óbito”, lamentou.
Importância da vacina
Pretinha foi tratada na CVA – Clínica Veterinária Araucária. Um dos veterinários responsáveis pelo local, Dr Luciano, explica que a Leucemia Viral Felina, conhecida como FELV, é um vírus que acomete gatos jovens e filhotes que têm acesso à rua, ou aqueles que convivem com outro gato que tem o vírus e que possam transmitir.
“O animal também pode nascer com o vírus, quando passado pela mãe via alimentação, placenta. A FELV não apresenta nenhum risco para os seres humanos ou outros animais, ela só infecta gatos. Os sinais são: febre, perda de apetite, perda de peso, pode ter diarreia ou inchaço sub-manibular, que é quando a língua e as gengivas ficam mais pálidas e esbranquiçadas. O diagnóstico pode ser feito com um teste rápido que realizamos em laboratório, é como se fosse o nosso teste de Covid, em 10 minutos já sai o resultado, ou ainda por coleta de sangue, o PCR pode confirmar a doença”, elucida.
O veterinário alerta os tutores que a leucemia viral não tem cura, portanto, quando o felino diagnosticar positivo, precisa ser isolado dos outros animais. A única prevenção é a vacinação com a Polivalent V5, que é a FELV. “Só conseguimos evitar que nossos animais se contaminem com a FELV mantendo a vacina deles em dia. Se por ventura o paciente não vacinado sair na rua, ter contato com outros animais e apresentar qualquer sinal clínico como perda de peso, falta de apetite, ficar mais triste, o tutor deve procurar o veterinário imediatamente, porque o quanto antes a FELV for diagnosticada, mais favorável será o tratamento. Infelizmente estamos falando de uma doença cruel, que pode afetar vários sistemas, desde o nervoso, respiratório, gastrointestinal. Isso quebra as defesas do paciente e ele se torna imunossuprimido, não consegue combater a doença viral. O paciente até pode conviver bem com a FELV depois de estabilizado, mas é um paciente que precisa fazer consultas periódicas, estar sempre mantendo uma nutrição adequada, tudo para manter sua imunidade boa, porque se cair, ele irá desencadear o sinal clínico”, complementa.
Edição n.º 1381