Jesus foi aos poucos manifestando aos seus discípulos o que era determinante e fundamental no seu seguimento. Possivelmente, eles não compreenderam imediatamente a sua proposta sobre o Reino de Deus. Eles foram educados na escola dos rabinos, que claramente defendia a busca dos primeiros lugares como algo normal e necessário na vida dos seres humanos. Os que estão no céu, afirmavam eles, estão distribuídos em sete categorias, portanto, também os habitantes da terra devem ser classificados: no topo, os ‘justos’, os que observam todos os preceitos, e embaixo, o povo impuro, os pobres da terra. À mesa das refeições, nas sinagogas, na rua, nas reuniões, sempre surgia a questão da distribuição dos primeiros lugares.
No caminho para Jerusalém, enquanto Jesus falava sobre sua morte, todo sofrimento que deveria passar e ser preso, torturado e morto, os discípulos discutiam sobre quem era o maior entre eles. Em outra parte, a mãe de Tiago e João pede privilégio para seus filhos, para que tenham o direito de sentar um a sua direita e outro a sua esquerda. Claramente, ela também fora fortemente influenciada pela orientação dos rabinos. Jesus precisa repetir diversas vezes que a sua proposta estava na contramão da sociedade da época, da cultura que valorizava e, mais do que isso, instigava nas pessoas a busca ‘honrosa’ pelos primeiros lugares. Ele, ao contrário, afirma que aquele que quiser ser o primeiro no Reino de Deus, deve ser aquele que serve e que coloca a sua vida a serviço daqueles que mais necessitam: doentes, pobres, abandonados, excluídos da sociedade e dos pecadores.
Por diversas vezes, Jesus fala abertamente que ele não veio para ser servido, para estar acima dos outros, para mandar e dominar, para impor-se sobre os outros, mas, para servir e dar a vida em resgate de muitos. Seu último gesto neste mundo foi emblemático: lavou os pés dos discípulos e pediu que eles fizessem o mesmo se quisessem ter parte com ele no Reino. Sabemos que para Pedro foi muito difícil aceitar esta mudança de paradigma, pois, com certeza, sonhava com privilégios, decorrentes do seguimento ao Mestre. E, pelo contrário, Jesus apresenta de modo totalmente inverso a essência da sua missão: o serviço livre, espontâneo e desinteressado. E vai dizer: ‘vocês me chamam de Mestre e Senhor, e dizem bem. Portanto, se eu, o Mestre e o Senhor lavei os vossos pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros’. Essa é a proposta definitiva de quem quer seguir Jesus: lavar os pés dos outros, ou seja, colocar a sua vida plenamente a serviço dos outros.
Como seguidores de Jesus, somos desafiados a colocarmos a nossa vida a serviço de quem nela necessita. Sair de si mesmo, dos seus interesses apenas pessoais, egoístas e individualistas, e servir. O serviço feito com amor, que denota sacrifício, esforço, se manifesta num jeito alegre de ser e de viver. O discípulo de Jesus é uma pessoa alegre, porque aquilo que prega não é algo pessoal, mas o evangelho do Mestre. Não fala em nome próprio, não se vangloria e nem se exalta, porque guiado e conduzido pela alegria de anunciar a boa nova do Senhor. Quando alguém descobre o sentido verdadeiro da vida, a razão profunda da sua passagem por este mundo encontra em Jesus uma razão diferente para segui-lo. Não busca nele privilégios pessoais, prosperidade, ganhos econômicos, mas, muito pelo contrario, coloca a sua vida a serviço do outro. Na escola de Jesus, primeiro não é aquele que tem poder, que tem dinheiro, que é o mais inteligente ou o mais bonito, mas sim, aquele que serve.
Publicado na edição 1279 – 16/09/2021