Pesquisar
Close this search box.

Professora destaca importância de lembrar o Holocausto e critica negacionistas

Memorial Judaico de Araucária Moisés Jakobson está aberto para visitação. Foto: Marco Charneski
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Professora destaca importância de lembrar o Holocausto e critica negacionistas
Memorial Judaico de Araucária Moisés Jakobson está aberto para visitação. Foto: Marco Charneski

Instituído em 1º de novembro de 2005 em assembleia da ONU, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto busca lembrar as vítimas do genocídio cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). A data remete a 27 de janeiro de 1945, dia em que as tropas soviéticas libertaram os prisioneiros que restavam no maior campo de concentração e extermínio nazista, Auschwitz, localizado no sul da Polônia. Quase oito décadas depois da tragédia que marcou a história do mundo, ainda há pessoas que não conhecem ou mesmo distorcem a real história sobre o Holocausto.

Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira há 32 anos, Vania Eragus, que já ministrou aulas no Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski e atualmente atua no Colégio Estadual Cleide Leni, vem se dedicando a estudos e pesquisas sobre o Holocausto desde o ano de 2005. Para ela, que também estudou no Yad Vashem o Museu do Holocausto em Jerusalém, Israel, é extremamente importante conhecer a verdadeira história sobre a Shoah (Holocausto) e manter o tema sempre presente na memória das pessoas.

“O nazismo atua de maneiras diferentes nos diversos tipos de espectadores, que retiram do mesmo lições políticas, humanitárias, sociais, econômicas, filosóficas, culturais, é um misto de todas essas leituras simultâneas. Por causa disso há muitos códigos, entendimentos conflitantes. A maior prova é a suástica, com diversos signos, sinais e símbolos interpretativos. Daí vem ou o fascínio ou o sinal vermelho que remete a homicídios em massa, em prol de uma raça que se supôs superior. A negação ou o esquecimento histórico trabalham unidos, pois um fato esquecido habilita e o capacita a repeti-lo. Aprender com o passado para não repetir os mesmos desvios no presente e futuro. O caos social ensina”, destaca a educadora.

Vania é uma das idealizadoras do Memorial Judaico de Araucária Moisés Jakobson e ajudou a instituir no Município, juntamente com a então vereadora Amanda Nassar e o secretário municipal de Cultura Eduardo Tavares, o Dia de Luto e Reflexão do Holocausto (9 de novembro), data que entrou para o calendário comemorativo de Araucária. “As pessoas podem perguntar o porquê de todas essas datas. Mas como dizia o poeta, não lembrar o morto é matá-lo novamente. E continuando o raciocínio, podemos dizer que, lembrar aquele que morreu é trazê-lo novamente à vida”, comparou.

Sobre o Memorial Moisés Jakobson, Vania salienta que sua criação foi um processo natural, já que há anos ela vinha acumulando um acervo cultural de trabalhos de estudos e pesquisas sobre a Shoah. “O material já tínhamos, mas faltava apenas o local de exposição da mostra”, disse.

Hoje o Memorial segue aberto para visitação, no Parque Romão Wachowicz, localizado na Avenida Centenário, 1105. O espaço atende excursões (máximo 10 pessoas em cada espaço de exposições e uso de máscaras e distanciamento), mediante agendamento. O horário de funcionamento é de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h; e aos sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h. Os fones para informações são: 3643-7233 e 98809-8863 (com Jefferson).

Relato de um sobrevivente

Professora destaca importância de lembrar o Holocausto e critica negacionistas
Quadros, objetos e trabalhos expostos no Memorial fazem memória ao Holocausto. Foto: Marco Charneski

Vania Eragus também é autora do livro “História de uma vida”, que foi construído em sala de aula com alunos do quarto ano do Magistério do Colégio Szymanski. “O ano em que escrevi o livro foi extremamente frutífero, tanto na parte introdutória de leituras e pesquisas históricas temáticas, na construção de uma tarde na residência do sobrevivente da Shoah, Moisés Jakobson, para entrevistas e a finalização com exercícios de escrita e produção textual. Tanto como orientadora do estudo sistemático em pauta, como exercício da função pública do magistério, foi um projeto sem igual, não só para mim, como para os alunos que foram surpreendidos e desafiados a reescrever registros históricos do Holocausto. Foi uma experiência única e inigualável”, relembra.

Para ela, se considerarmos somente os registros históricos sobre o genocídio, o fato se desumaniza, pois trata-se de apenas um número de 6 milhões de judeus mortos e 13 milhões no total, contando com ciganos, negros, Testemunhas de Jeová, deficientes mentais, idosos, homossexuais e inimigos do regime nazista. “Quando se lê a literatura memorialista, em que há registros sinestésicos individuais e subjetivos sobre a Shoah, aí se humaniza o teor histórico, porque alguém viveu isso em sua própria pele, isso faz a diferença”, compara.

O livro de Vania fala sobre a vida de Moisés Jakobson, uma das vítimas do Holocausto, e sua narrativa expõe a dor de uma pessoa entre milhares de outras que sofreram o mesmo, em silêncio. “O livro é importante para comprovar a realidade visceral de quem sofreu a Shoah, o que por si mesmo, desconsidera a falácia negativista, sem apoio na Ciência, que são os registros de historiadores, filmes, documentários, documentos dos Campos de Extermínios, em oposição à falta de veracidade e falares da ignorância por pessoas comprometidas em descontextualizar e inocentar os algozes e detratores. Estes, por si mesmos, já foram julgados juridicamente no pós-guerra no tribunal de Nuremberg, entre 1945 e 1949, o julgamento histórico do Partido Nazista”, destaca a professora.

Sobre Moisés Jakobson

Moisés Jakobson nasceu na cidade polonesa de Łazy em 1926. Ele tinha 16 anos quando a casa de sua família foi invadida por soldados alemães. Na sequência, foi separado de sua mãe e irmãs: ele e dois irmãos foram para um campo de trabalhos forçados. Elas, para Auschwitz.

No campo, trabalhou construindo poços, abrindo estradas e sendo oleiro. Durante um castigo, ficou cego de um olho. Foi liberto depois de anos, se casou e tinha o sonho de vir ao Brasil. Pela falta de visto, teve de vir pela Bolívia, e entrou no país em 1953. Teve quatro filhos e faleceu em 2015, com 88 anos.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1297 – 03/02/2022