Um dos temas que mais têm ganhado destaque na campanha eleitoral dos candidatos a Prefeitura de Araucária ao longo das últimas semanas é o que eles consideram como falta de estrutura para atendimento da população nas unidades básicas de saúde.
Seria essa precariedade no atendimento feito nas unidades básicas de saúde um dos responsáveis pela alta procura dos serviços de urgência e emergência. Resumindo: sem médicos nas UBSs, os pacientes se obrigam a procurar a UPA em busca de uma consulta que, devidamente classificada, seria eletiva. Com muita gente procurando a UPA, os casos não prioritários são deixados em segundo plano e essas pessoas ficam horas e horas até conseguirem ser colocadas diante de um médico.
Para saber se efetivamente está faltando médicos nas UBSs, nossa reportagem se debruçou sobre o portal da transparência do Município para entender quantos desses profissionais deixaram o quadro de servidores da Prefeitura neste ano de 2024. O número é assustador.
Segundo o portal da transparência, de janeiro até setembro de 2024, nada mais nada menos do que 30 médicos se desligaram da Prefeitura. Deste montante, cinco eram médicos generalistas e sete eram clínicos geral contratados por processo seletivo simplificado (PSS).
Os dados mostram também que os outros dezoito médicos que a Prefeitura não conseguiu segurar eram concursados. São três médicos ginecologistas, cinco clínicos geral, dois pediatras, dois generalistas, um médico do trabalho, um geriatra, um psiquiatra, um dermatologista, um endocrinologista e um médico vascular.
O levantamento feito pelo O Popular mostra ainda que a falta de interesse dos médicos em permanecer no quadro de servidores da Prefeitura não é um fato identificado apenas neste ano de 2024. Ele vem acontecendo de forma recorrente desde 2021. Naquele ano 54 médicos deixaram o Município. Em 2022 foram 48 e em 2023 outros 31.
Para se ter uma ideia da falência da Prefeitura em sua capacidade de reter médicos na cidade, menos da metade das vagas existentes para cargos de clínico geral está ocupada atualmente.
O Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos (PCCV) estabeleceu que deveria haver nas UBSs 142 clínicos gerais. Porém, atualmente são apenas 62 para atender a cidade toda. E isso se repete no caso dos médicos generalistas. São 80 vagas, mas apenas 20 preenchidas atualmente. No caso dos médicos plantonistas o problema é ainda maior. São 100 vagas existentes, mas apenas 2 ocupadas.
Quando o assunto são médicos especialistas, o caos se repete. Por exemplo, a legislação municipal estabeleceu que o ideal era que houvessem 79 médicos pediatras atendendo as crianças araucarienses. Porém, apenas 33 dessas vagas estão preenchidas. Médicos psiquiatras deveriam ser 14, mas a Prefeitura tem apenas dois desses profissionais. Médicos obstetras deveriam ser 36, mas a cidade tem apenas 22 (veja tabela completa abaixo).
No total, conforme estabelece a legislação municipal, deveriam haver 515 médicos na rede municipal de saúde, porém estão contratados apenas 179. Ou seja, um déficit de 336 profissionais.
Edição n.º 1434.