Triste e amarga lição

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O funcionalismo do Paraná, tendo à frente o magistério, foi violentamente reprimido pela polícia durante protesto contra a modificação da previdência dos servidores estaduais. Jornalões e arautos de regimes de força tentam justificar a repressão, dizendo que o ataque inicial partiu dos manifestantes e que era dever do governo garantir o funcionamento do legislativo estadual. Cabe a cada cidadão inteirar-se dos fatos para avaliar corretamente o ocorrido. Os acontecimentos causaram ferimentos em mais de duzentas pessoas e mereceram reprovação de fontes abalizadas no Brasil e no mundo. O governo do estado já havia tentado usar o dinheiro recolhido pelos funcionários ao Paranaprevidência no pagamento de aposentados que não contribuíram para o Fundo Previdenciário, livrando-se de um desembolso mensal da ordem de R$ 250 milhões. Tal ação comprometeria a reserva de 8 bilhões em menos de 3 anos e, frente a reação dos funcionários, recuou. O projeto que tramitava prevê o uso de aproximadamente R$ 150 milhões/mês no custeio de aposentadorias de servidores que não contribuíram para o Fundo. O funcionalismo não está convencido de que receberá regularmente a aposentadoria de direito após o uso não previsto do dinheiro que recolhe para tal. O Paraná foi um dos estados que teve maior crescimento de arrecadação de impostos nos últimos anos e mesmo assim está com sérias dificuldades de caixa. Como acreditar que o alívio imediato, obtido com o gasto antecipado do fundo previdenciário, não tornará ainda mais difícil o pagamento de um número maior de aposentados no futuro? A repressão à manifestação do dia 29/04/15 foi descrita por entidades de renome como um verdadeiro massacre. A Defensoria Pública afirmou que não foram encontradas armas ou qualquer objeto que indicasse tentativa de agressão e depredação com os 13 detidos ou com manifestantes. Ainda que houvesse agitadores infiltrados, a força repressora foi desproporcional, indiscriminada e injustificável. A culpa não foi do descontrole eventual de alguns policiais, pois o aparato bélico e as armas utilizadas foram descomunais. As autoridades precisam apurar e punir os responsáveis pela preparação e comando da operação para resgatar, ao menos um pouco, a credibilidade. Enquanto os professores e funcionários apanhavam na Praça Nossa Senhora de Salete, o presidente da Assembleia e os deputados da base de apoio do governo insistiam em continuar a sessão que terminou com a aprovação do saque no fundo previdenciário. Foram completamente insensíveis aos apelos para que interrompessem o caos que os envolvia. Não vejo que se consiga o impeachment do governador por responsabilidade no triste acontecimento, até porque os deputados é que tem o poder de votá-lo. Mas, ao menos, aprendamos a lição que nossos mestres nos proporcionaram de forma quase trágica: é preciso escolher nossos representantes com maior responsabilidade. Se o governador insistiu em votar, às pressas, um projeto de lei objeto de tão grande rejeição, os deputados deveriam ter exercido seu papel de representantes do povo e prolongado os debates. O que se viu foi uma capitulação vergonhosa à vontade de um governo que descuidou no planejamento de seus gastos. Certamente, o objetivo era viabilizar a liberação de verbas para obras em suas bases eleitorais e conquistar a reeleição futura. Aprendida a lição, é preciso empregá-la em todos os níveis de poder: municipal, municipal e federal.

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